Motoristas e usuários apontam transtornos com ausência do cobrador
Na visita técnica na manhã de domingo, vereadores constataram a insatisfação e o estresse gerado pela sobrecarga dos condutores
Foto: Gabinete do vereador Carlos Henrique
A situação de motoristas e passageiros dos coletivos nas linhas que operam sem agentes de bordo foi verificada in loco pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário da Câmara de BH. No intuito de ouvir as partes afetadas, os vereadores circularam nos coletivos e visitaram no último domingo (5/3) os pontos finais de três linhas que servem aos Bairros Coração Eucarístico e Dom Cabral, na Região Nordeste da capital. Constatando os transtornos e a insegurança gerados pela ausência do cobrador, permitida aos domingos e feriados, os parlamentares vão solicitar alterações na legislação pertinente.
Preocupados com as questões que afetam o sistema público de transporte no município, o presidente da comissão e requerente da visita técnica, vereador Carlos Henrique (PMN), e os colegas Jair Di Gregório (PP), Elvis Côrtes (PSD), Pedrão do Depósito (PPS) e Wesley Autoescola (PHS) vêm abordando desde o início da legislatura temas referentes às condições de trabalho, conforto e segurança de trabalhadores e usuários. Segundo os parlamentares, a atividade de domingo integra um conjunto de ações programadas pela comissão com o objetivo de apurar e fiscalizar a atual situação do sistema, como envio de pedidos de informação à BHTrans e realização de audiência pública para debater temas relacionados.
Estresse e insegurança
Durante a atividade, motoristas e usuários dos coletivos ouvidos pelos vereadores no interior dos veículos e nos pontos de embarque e desembarque apontaram os transtornos trazidos pela ausência dos agentes de bordo, também chamados cobradores ou trocadores. A autorização para circular sem esse profissional aos domingos, feriados e no período noturno, após as 22h, disposta na Lei Municipal 10.526, de 2012, segundo o representante da BHTrans Sérgio Luís Ribeiro (foto), foi justificada pelo impacto financeiro da medida, já que a significativa redução dos custos das empresas contribuiria para evitar novos reajustes das tarifas praticadas.
Para os motoristas ouvidos pelos vereadores, no entanto, a medida representou uma sobrecarga de trabalho e consequente aumento do estresse e dos riscos com os quais se deparam todos os dias, já que, além do tráfego de veículos e de pedestres, eles precisam prestar atenção ao fluxo de entrada e saída de passageiros, contagem do dinheiro e fornecimento do troco, liberação e travamento da roleta, além de lidarem sozinhos com eventualidades como uma manobra difícil ou o auxílio a um passageiro com deficiência, por exemplo. Além de atrasar o percurso e aumentar os riscos de acidentes, segundo eles, a ausência do cobrador aumenta a sensação de insegurança tanto deles quanto dos usuários, que se sentem ainda mais vulneráveis a assaltos e ataques aos coletivos.
Usuários que apresentaram seus testemunhos em diferentes linhas fiscalizadas também se queixaram da insegurança e do desconforto trazidos pela medida. Segundo elas, embora não seja suficiente para evitar as ocorrências, a presença do cobrador pode sim intimidar a ação de alguns criminosos e ajudar o motorista a lidar com a situação. Além disso, foi apontado que, na ausência desses profissionais, é possível perceber a tensão e o desgaste dos motoristas que, mesmos em dias e horários de menor movimento, ficam obrigados a lidar sozinhos com todas as demandas e percalços que venham a surgir durante as viagens, reduzindo a segurança dos passageiros e dos demais veículos. Uma passageira lamentou ainda a redução do número de empregos em decorrência da adoção da medida.
“Botão de pânico”
Além da ausência do agente de bordo, os parlamentares constataram ainda a falta ou inoperância, nos coletivos, do dispositivo a ser acionado em casos de assaltos e outras emergências, também conhecido como “botão de pânico”. A maioria dos motoristas garantiu nem mesmo conhecer o instrumento, além de não receber nenhuma instrução sobre seu funcionamento e operação em caso de necessidade. A implementação do botão de pânico, que comunica a ocorrência de assalto por meio dos letreiros luminosos na parte externa do veículo, bem como o treinamento ministrado aos condutores, já foram objeto de pedidos de informação à BHTrans, requeridos por Elvis Côrtes.
Alteração na legislação
Depois de ouvir motoristas e passageiros, os vereadores classificaram a supressão do agente de bordo como uma “covardia” e uma “crueldade” para com os motoristas, que já lidam com um cotidiano naturalmente estressante em meio ao caos do trânsito e aos riscos da violência urbana. Wesley Autoescola mencionou os casos de depressão, estresse e ansiedade que vêm acometendo os profissionais do setor e reforçou a necessidade da Casa se posicionar contra a possível extensão da lei a outras linhas e horários, que poderá levar até mesmo à extinção da função. Pedrão do Depósito lembrou o compromisso de campanha do atual prefeito, Alexandre Kalil, e solicitou a abertura da “caixa preta” dos contratos entre o município e as empresas que compõem o sistema.
Como encaminhamento da visita, os parlamentares afirmaram a disposição de somar esforços e conclamar os demais colegas no sentido de alterar ou revogar a referida legislação, que beneficiou as empresas e prejudicou trabalhadores e usuários do sistema público de transporte. O vereador e ex-cobrador Jair Di Gregório convidou a todos para participar da audiência pública de sua autoria que vai discutir a necessidade da presença constante do cobrador durante todo o trajeto, inclusive nos fins de semana. O encontro será no dia 6 de abril, às 13h30.
Superintendência de Comunicação Institucional