CPI Pampulha

Especialistas recomendaram outras técnicas para despoluição da lagoa

Em depoimento, técnicos da Fundação Christiano Ottoni disseram que biorremediação não deve parar, mas bacia precisa ser tratada

terça-feira, 21 Maio, 2024 - 17:00

Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) - Pampulha, na manhã desta terça-feira (21/5), técnicos da Fundação Christiano Ottoni afirmaram que a biorremediação não deve parar, mas que a bacia precisa ser tratada. Outras técnicas para a despoluição da Lagoa da Pampulha deveriam ser consideradas, na opinião deles, dada a complexidade da bacia. Além do presidente da entidade, Benjamim Rodrigues de Menezes, os professores Nilo Nascimento e Alessandra Jeane foram ouvidos pela comissão. Sobre o grau de pureza da água, um dos índices que a fundação deveria analisar conforme contrato com a Prefeitura de Belo Horizonte, os pesquisadores disseram que houve ocasiões em que a classe 3, exigida na contratação, não foi obtida. Presidente e relator da CPI, Sérgio Fernando Pinho Tavares (MDB) e Braulio Lara (Novo) apontaram que as informações científicas produzidas pela fundação indicam que não há um caminho único para a despoluição da água, deixando clara a falta de efetividade integral de todos os parâmetros que eram objeto do contrato.

Os especialistas confirmaram que, em relatórios enviados à Prefeitura, ao menos 17 outras técnicas foram analisadas e teriam potencial para serem aplicadas, sendo uma delas o aprimoramento do sistema de coleta de esgotos e separação das águas fluviais destes. “Dez delas são técnicas que não têm ação direta no lago, mas na bacia. E grande parte dessas dez técnicas está em aplicação, mas tem um período de maturação de médio a longo prazo”, afirmou Nilo Nascimento.

Grau de pureza não alcançado

A Fundação Christiano Ottoni foi a executora de um contrato celebrado entre a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da Escola de Engenharia. A contratação previa, dentre outros pontos, serviços de consultoria em projetos e obras de engenharia, análises e pareceres, além de soluções alternativas e estudos diagnósticos. “Os gráficos estão lá (no relatório) e mostram os limites e quando foi que isso não foi atingido”, disse o professor acerca do não atingimento do grau de pureza da água (classe 3) previsto em contrato. 

Não efetividade da biorremediação

O presidente da CPI, Sérgio Fernando Pinho Tavares, e o relator, Braulio Lara, questionaram por que a entidade recomendou em relatório que a aplicação da biorremediação fosse continuada, já que a medida não vem se mostrando efetiva. Os pesquisadores explicaram que a água presente na lagoa precisa ser tratada enquanto outras medidas que dizem respeito à bacia (córregos que irrigam a lagoa), e que são de médio e longo prazo, vão sendo tomadas. “O problema que ocorre na Pampulha é que, ao mesmo tempo que está sendo aplicado esse tratamento, continuamos recebendo nutrientes. É como se estivéssemos tratando um doente, mas ele está sendo submetido a viroses. Então, você não pode retirar aquele remédio. É basicamente isso. Acreditamos que (a biorremediação) é efetiva, sim”, afirmou Alessandra Jeane.

Braulio Lara destacou que a necessidade de utilização de mais de uma técnica para a efetiva despoluição da lagoa é apontada no relatório, mas que a Prefeitura estaria insistindo em utilizar apenas a biorremediação. “Ao ler o relatório, fica muito claro que estamos diante de informações técnicas e científicas que atestam que não há um caminho único. Não há efetividade integral de todos os parâmetros que eram objeto do contrato. E a Prefeitura insiste em tomar ações respaldadas nos relatórios dos senhores, mas eles acham que não vamos ler o relatório”, declarou.

Utilização de técnicas complementares

O relator também questionou se os professores tiveram retorno da PBH quanto às recomendações feitas em relatório, onde sugeriam a utilização de técnicas complementares. A professora Alessandra disse que não teve mais contato após o encerramento do contrato, mas sabia que ao menos dois procedimentos foram realizados. “Nossa missão foi avaliar uma técnica e avaliamos. Algumas das providências que sugerimos estão sendo tomadas, como a retirada de sedimento do fundo da lagoa e a abertura das comportas para permitir o fluxo da água profunda (mais poluída). Há uma série de outras coisas que aconselhamos, baseadas na literatura, e eu não sei, porque não tive mais contato”, afirmou.

Braulio Lara lembrou aos pesquisadores os valores já consumidos para a despoluição da lagoa, cerca de R$ 1,4 bilhão, e novamente questionou o uso de uma única técnica. “Concorda que se não bloquear a entrada de poluentes não teremos uma lagoa limpa?”, indagou. A professora Alessandra Jeane disse consentir em parte. “Concordamos. Mas isso não pode paralisar o que está sendo feito hoje, porque senão a condição vai piorar muito, e demandas como o tratamento do esgoto são obras com custos altos e longos prazos”, esclareceu.

Assista à íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional