Maior presença de enfermeiros em ambulâncias pode otimizar ação do Samu

Um maior protagonismo do profissional de enfermagem na urgência e emergência pode melhorar os resultados para pacientes e para o Sistema Único de Saúde (SUS) de maneira geral. A defesa foi feita pela professora da Universidade de São Paulo (USP) Marisa Malvestio, durante palestra realizada na manhã desta segunda-feira (19/5) na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O debate, que contou com a participação de enfermeiros e técnicos de enfermagem do município, abriu o seminário “Atenção Primária e Urgência e Emergência: desafios e atuação crítica da enfermagem em BH". Segundo Malvestio, a implantação do Suporte Intermediário de Vida (SIV) – modalidade de atendimento pré-hospitalar que conta com a participação de enfermeiros, além de socorristas, técnicos e condutores de ambulância – no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) traz impacto direto na definição de qual tipo de ambulância será enviada para cada ocorrência. Além de melhorar a tomada de decisão e o tempo de resposta, a entrada do SIV promove melhorias para o paciente, que contará com um profissional com protocolos assistenciais mais avançados. Segundo a enfermeira, ganha também a rede SUS que, ao receber um paciente mais estabilizado, reduz o tempo médio de internação.
O vereador Edmar Branco (PCdoB), que requereu o encontro, no âmbito da Comissão de Saúde e Saneamento, considerou oportuna a palestra e disse que todo esforço deve ser feito na valorização da carreira destes profissionais que são valiosos e essenciais no bom funcionamento da saúde pública na cidade.
Mesa de abertura
A mesa de abertura do seminário contou com a participação de representantes das entidades sindicais, dos trabalhadores e da academia. A professora Sônia Maria Soares, diretora da Escola de Enfermagem da UFMG, destacou a importância da categoria, que representa a maior força de trabalho da saúde no país.
“A enfermagem precisa ser ouvida. Nossa prática deve estar alinhada às políticas públicas. Estamos aqui com profissionais do Samu que enfrentam desafios diários e a UFMG está comprometida em defender os princípios do SUS”, afirmou Sônia Maria Soares.
A coordenadora do Samu Patrícia Karam reforçou o apelo por melhores condições de trabalho. “A enfermagem tem um poder enorme. Precisamos nos unir para garantir salários e jornadas justas”, disse.
Aline Lara, enfermeira e representante do Sindicado dos Servidores Municipais de BH (Sindibel), lembrou que durante a pandemia os profissionais foram elogiados por sua atuação na linha de frente, mas que isso não resultou em reconhecimentos concretos. “Fomos chamados de anjos, mas somos profissionais e humanos que pagam contas e impostos”, afirmou.
Alternativa eficaz
O ponto central do período da manhã foi a palestra da professora Marisa Malvestio, que abordou o protagonismo da enfermagem na melhoria do atendimento no SUS e apresentou o modelo do Suporte Intermediário de Vida (SIV). Segundo ela, o modelo atual de atendimento pré-hospitalar no país é dividido entre Suporte Básico (SBV) e Suporte Avançado de Vida (SAV). O primeiro é composto por socorristas, técnicos e condutores de ambulância, representando 85% da frota nacional. Já o segundo, que conta com médicos e enfermeiros, representa apenas 15% e é acionado em casos mais graves. “O SIV surge como uma alternativa eficaz, diante do aumento de 30% na demanda nos últimos cinco anos, sem ampliação proporcional da frota”, afirmou.
O modelo intermediário inclui uma equipe composta por enfermeiros, ampliando a capacidade de atendimento da primeira equipe que chega ao local da ocorrência.
“Com o SIV, conseguimos estabilizar o paciente no local e não apenas transportá-lo. Isso aumenta significativamente as chances de sobrevivência em casos como parada cardiorrespiratória, AVC, trauma, crises asmáticas e até situações de saúde mental”, explicou Marisa Malvestio.
BH tem uma SIV em atuação
A proposta já está em funcionamento em cidades como São Paulo, Fortaleza, Santos e Contagem, esta última pioneira em Minas Gerais. Belo Horizonte conta atualmente com 22 ambulâncias de suporte básico, sete de suporte avançado e apenas uma de suporte intermediário.
Luciana Oliveira, enfermeira que atua no setor de regulação do Samu-BH, responsável por receber e organizar as chamadas de urgência e emergência, relatou que a SIV ainda enfrenta resistência dentro da própria regulação médica.
“Os médicos ainda ficam perdidos e sem saber se devem enviar uma SIV ou não e nós, como enfermeiros, ficamos mostrando a capacidade dos profissionais. O objetivo não é ocupar espaço, mas melhorar a assistência e salvar mais vidas”, defendeu Luciana.
Barreira cultural e normatização
Marisa Malvestio reconheceu a barreira cultural e salientou que apenas protocolos claros irão contribuir para a consolidação do SIV. “A desconfiança em relação ao protagonismo da enfermagem é mundial, mas é preciso que o SIV seja previsto e normatizado no modelo nacional de assistência”, afirmou.
Ao concluir sua palestra, a professora da USP destacou que o fortalecimento da enfermagem não é apenas uma questão corporativa, mas uma estratégia essencial para a melhoria do SUS e para garantir uma resposta mais eficiente às urgências e emergências em saúde no Brasil. “Não é sobre categorias profissionais, não é uma ocupação de espaço, não é sobre ficar mais caro. É sobre fazer mais, para salvar mais vidas”, concluiu Malvestio.
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