Seminário destaca a influência das mídias sociais na transformação do cenário político
Cientista político da UFMG e gestor público da PBH reforçam a presença de pensamentos dominantes e ausência de debates políticos nas redes
Foto: Heldner Costa
Os impactos das mídias sociais digitais na construção da democracia foram tema da palestra que abriu o II Seminário de Comunicação Pública realizado pela Câmara de BH, nesta sexta-feira (22/3). Com a participação de estudantes e profissionais da área de comunicação que atuam na iniciativa privada e em órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da capital e de outros municípios mineiros, o evento teve como foco os desafios da comunicação pública e política na era digital.
Segundo a Superintendente de Comunicação Institucional (Supcin) da Câmara de BH, Bianca Casadei Melillo, a iniciativa do II Seminário vem ao encontro da responsabilidade do Poder Legislativo de construir e repassar informações para a sociedade de maneira correta e transparente, um desafio nesses tempos de redes sociais e “fake news”. “Queremos alcançar uma comunicação mais assertiva, que realmente atinja todo o nosso público”.
Chefe da Divisão de Jornalismo e Divulgação da Câmara, Izabela Moreira Maurício Fiuza completou afirmando que, para além da escolha dos representantes, a participação da sociedade deve ocorrer através da participação democrática da população e as mídias digitais são importantes instrumentos para isso. Para o cientista político e jornalista da Supcin, Carlos Freitas, são “informações qualificadas que ajudam a escrever as páginas da democracia”.
Redes sociais e a política
De acordo com o vereador Álvaro Damião (DEM), que abriu o seminário representando a presidenta Nely Aquino (PRTB) e agradecendo por incentivar este importante debate, a comunicação vem mudando e dando uma nova ideia de fazer política. “Hoje temos um presidente que foi eleito com um milésimo do que se gastava com campanha política. Foi eleito com apenas R$ 2 milhões investidos principalmente nas redes sociais”.
Doutor em Ciências Políticas e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFMG, Bruno Reis destacou o dinamismo da comunicação e sua influência nas questões políticas. “A internet e os meios de comunicação vão se autotransformando e a política responde a essa mudança da paisagem tecnológica”. Segundo o cientista político, há 10 anos, as redes sociais foram fundamentais no cenário político norte-americano, contribuindo para aumentar a arrecadação de campanhas. “Elas foram decisivas na vitória de Barack Obama. Com as redes, ele produziu meios de canalizar muito dinheiro para divulgação de sua campanha política. Hoje, as redes novamente voltam para o centro das atenções trazendo a questão das ‘fake news’. O principal problema atualmente é a disseminação e recepção das notícias”.
Reis ressalta que o centro da questão é que os disseminadores das notícias são máquinas e não pessoas. Máquinas programadas para saber o que cada um consome e direcionar apenas o que a pessoa vai se interessar, fazendo com que haja um reforço da polarização política e uma diluição do debate público e da deliberação. “Que democracia resta neste ambiente que não tem mais debate? Essa polarização vem diminuindo o espaço dos compromissos políticos. Desqualificar o adversário é algo corriqueiro”. Além disso, ele afirma que, hoje, no jornalismo, há grandes conglomerados, que evitam análises e possuem jargões idênticos, e blogs, operando em um nicho específico. “Ocorreu uma perda de espaço de veículos intermediários com cardápio variado de linhas editoriais, o que alimenta a hostilidade na política e reforça a polarização”.
Gestor público, diretor Central de Imprensa da Prefeitura de Belo Horizonte e jornalista, Vitor Colares, segundo palestrante a se apresentar no seminário, concorda com Reis destacando que nas últimas eleições foi possível perceber que “a maioria das pessoas foi refratária, refletindo o posicionamento que já tinha antes e compartilhando coisas para reforçar sua tese. As pessoas não querem ver a realidade de outra forma”. Assim, segundo ele, é cada vez mais importante “ficar atento às relações off line e perceber os movimentos das pessoas”.
Colares destacou ainda que não é possível saber o futuro da internet, para onde vai a internet. “Vamos descobrir juntos. A internet é muito experimental ainda e o que um fez e deu certo, não é o que dará certo para outra pessoa, em outro momento”.
Conteúdo Audiovisual no Setor Público
Na segunda parte do seminário, a jornalista e professora Ângela Carrato falou sobre a disputa “sem sentido” entre televisão e redes sociais. Segundo ela, uma nova mídia que surge não elimina outras; são complementares. Também é equivocada a ideia de que a internet é tudo e o resto é resto”. Carrato lembrou que quando a televisão surgiu copiou o rádio e só depois criou uma linguagem própria. Atualmente o grande desafio da internet é “buscar uma estética própria”, já que utiliza linguagens de vários veículos.
Na sequência, traçou um breve histórico da televisão no mundo e no Brasil. Para a professora, os desafios futuros da TV Pública no Brasil são grandes e “dependem de vontade política” para serem superados. Ela considera fundamental investir num veículo essencial para produção e divulgação de conteúdos de qualidade para suprir uma demanda de informações que não são exploradas pelas TV comerciais.
O jornalista Rodrigo Lucena encerrou o seminário com a palestra “Funcionamento e Potencialidades da Rede Legislativa de Rádio e TV”. Ele defendeu a importância das TVs Públicas, especialmente as Legislativas, na construção da democracia e do diálogo com a sociedade. Enfatizou que o papel de uma TV Pública é produzir conteúdos que façam contraponto às redes sociais. Segundo ele, a comunicação pública tem uma perspectiva mais voltada para o interesse público – “veículos de natureza pública são mais capazes de levar informações sem distorções”.
Lucena falou das dificuldades, tanto técnicas como políticas, enfrentadas para a consolidação das TVs Legislativas, que hoje contam com uma rede com 51 canais de televisão e 62 de rádio. “É um ativo valoroso um canal de televisão digital à disposição de governos”. Segundo Lucena, é grande o desinteresse da televisão comercial para com os trabalhos legislativos – “só os escândalos interessam” – e esse papel cabe à TV legislativa com o objetivo de valorizar e divulgar as funções do parlamento. “O investimento em comunicação institucional é em defesa do parlamento e é diferente da divulgação do mandato parlamentar”, explicou.
Por último, o jornalista, que também é servidor da Assembleia Legislativa de Minas, ressaltou a importância de “uma produtora de conteúdos dentro do parlamento”. Segundo ele, produzir só para a tv não é viável. “É preciso produzir para todas as mídias. E o volume de produção de conteúdos vai depender da disponibilidade de cada casa legislativa.”
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional