Usuários pedem segurança e revitalização ambiental e cultural da área
Gestores apontam complexidade de problemas do parque e relatam ações e projetos; vereadores irão ao local daqui a 60 dias
Foto: Karoline Barreto/CMBH
Imagens de cercas caídas, pichações, sanitários danificados, entulho e lixo, uso de drogas e prostituição à luz do dia no Parque Municipal Guilherme Lage foram exibidas em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana da CMBH nesta terça-feira (27/7). Vizinhos e usuários lamentaram a degradação da área, que abriga nascentes, lagoas, diversas espécies vegetais e animais, equipamentos esportivos e de lazer, se queixaram da falta de diálogo e celebraram a oportunidade de se expressar e ouvir o poder público. Os gestores relataram suas ações e projetos e se dispuseram a participar de reuniões e vistorias para prestar informações, ouvir sugestões e construir soluções junto com a comunidade. No final, foi encaminhada a realização de uma visita técnica ao local, no prazo de dois meses, para conferir as intervenções anunciadas.
Requerente da audiência, Gabriel (sem partido) destacou a importância ambiental do Parque Municipal Professor Guilherme Lage, implantado há 39 anos em uma área preservada de aproximadamente 120 mil m² na Região Nordeste da Capital, com entradas pelos Bairros São Paulo e Pirajá. Antigo viveiro de mudas do Município, o parque criado para ser um espaço de lazer e prática esportiva da comunidade está abandonado, degradado e é utilizado para uso de drogas e prostituição, afugentando famílias e pessoas de bem. A recuperação e proteção das nascentes, lagos, fauna e flora também está no centro das preocupações de frequentadores e moradores do entorno, que há muito tempo reivindicam a requalificação e a vigilância permanente do local. O vereador transferiu a condução do debate ao assessor e “co-vereador” da Regional Nordeste, Júlio Cézar da Silva.
Ativista na luta em defesa do parque há seis anos, Júlio Cézar exibiu um vídeo gravado por moradores para expor as condições das instalações, cercas, ruas e espaços internos, quadras esportivas, pista de skate e equipamentos da academia da cidade. As imagens mostram banheiros destruídos, telhas quebradas, quadras esburacadas, estruturas pichadas e cheias de lixo e entulho. No vídeo, é possível ainda visualizar pessoas usando drogas e exercendo a prostituição e nenhum morador praticando esporte, passeando com a família, relaxando ou contemplando a natureza. Júlio Cézar contou que a comunidade já vem expondo a situação há muito tempo por meio de ofícios e e-mails, que nunca foram respondidos pela Prefeitura.
Corroborando as palavras de Júlio, os moradores Maria Teixeira, Josiane Xavier, Lidiane Cristina, André Luiz Rocha e o músico Tom Farias lembraram a “maravilha” que era o Parque Guilherme Lage, onde eles próprios e os filhos brincavam, se exercitavam, faziam piqueniques e reuniões com música e teatro, com toda a segurança. Hoje, segundo eles, o espaço está perigoso, sem gestão, sem pessoas para prestar informações e apoio aos frequentadores, sem placas indicando os caminhos e identificando as atrações, portarias abertas sem nenhum controle de entrada e passagem, sem iluminação à noite e sem a presença de vigilantes ou agentes de segurança. “A PM só aparece quando acham um cadáver aqui”, reclamou um dos moradores.
Termo de Cooperação Técnica
Júlio Cézar reforçou que o maior problema do parque tem sido a falta de gestão, organização, planejamento e monitoramento permanentes, com a presença constante de um administrador e de funcionários no local. Segundo ele, a comunidade estava muito satisfeita com a atuação do Grupamento Civil Ambiental (GCA), organização sem fins lucrativos que administrou o parque entre de setembro de 2019 e o março de 2020 mediante a assinatura de Termo de Coopração Técnica com a Prefeitura. O coronel Júlio César Mello, presidente da entidade, explicou que o trabalho foi interrompido em razão da pandemia, seis meses antes do término do contrato de um ano, que não foi renovado em 2020 como era a vontade do GCA. Vizinho da área desde a infância, ele reconheceu os esforços da Fundação de Parques para manter a limpeza e conservação, mas que acaba “enxugando gelo” diante dos repetidos atos de vandalismo.
O presidente do GCA relatou melhorias realizadas durante sua gestão e sua atuação como interlocutor da comunidade junto ao poder público, encaminhando e buscando resolver as questões, e a promoção de eventos para atrair os moradores do entorno, como Rua de Lazer, com sorteio e distribuição de brinquedos, roupas e livros doados pela comunidade, Festival de Férias com atividades de educação ambiental para crianças e jovens. Além disso, o grupo atuou na vigilância ambiental, coibindo pescaria irregular, furto de filhotes de aves e combate a princípios de incêndio, com a colaboração da Polícia Militar. Segundo o coronel, o GCA não abandonou o parque após a interrupção do contrato e está “aguardando e torcendo” pela renovação.
Problemas urbanos e sociais
Sérgio Augusto Domingues, presidente da Fundação de Parques e Zoobotânica, assegurou que há interesse em renovar o contrato com o CGA e agradeceu o empenho e a colaboração da comunidade. Responsável pelos 75 parques da Capital, ele garantiu que o órgão está sempre atento ao Guilherme Lage, o que mais recebeu recursos em proporção à sua dimensão. Reconhecendo as deficiências de informação e publicidade, e o atraso das obras em razão da pandemia e de restrições orçamentárias, o órgão afirmou que a PBH está “fazendo o dever de casa”, mas é preciso sim ouvir os vizinhos e usuários que conhecem bem o perfil e a realidade de cada parque.
Robson Machado, Rafael Rangel e Benito Drummond, gerentes e técnicos da Fundação de Parques e Zoobotânica, observaram que o vídeo exibido é de 2019 e que já foram feitas reformas em banheiros e quadras e construída uma guarita para abrigar o vigilante que será contratado. Os servidores afirmaram que a limpeza vem sendo feita regularmente, as nascentes, a flora e a fauna estão preservadas e o desassoreamento do lago está em andamento.
O secretário de Segurança, Genilson Zeferino, e a Guarda Municipal afirmaram que os agentes e a PM comparecem ao local rotineiramente e quando são acionados. O titular da pasta defendeu o estabelecimento de parcerias com entidades, comerciantes e outros interessados para revitalizar o espaço e atrair a comunidade; no entanto, é preciso observar os devidos processos e instrumentos legais. A Guarda admitiu que as visitas ao local diminuíram durante a pandemia, devido às muitas funções assumidas pela instituição, mas não deixaram de ser feitas; para promover a ocupação da área pela comunidade, afugentando naturalmente os contraventores, eles comunicaram que o setor tem projetos como a realização de treinamentos e instalação do canil no local, promoção de ações educativas e eventos. Os gestores resslataram a complexidade dos problemas que afetam não só o parque, mas o mundo todo, que envolvem questões sociais, exigem intervenção e articulação de setores de assistência social, saúde pública, educação, cultura e segurança pública. O aspecto urbanístico, com a ocupação desordenada, o adensamento populacional e o descarte de lixo e esgoto também impactam o meio ambiente, as águas, a fauna e a flora.
Visita técnica
Agradecendo a presença de todos, Gabriel comunicou que todas as considerações e informações apresentadas na audiência foram anotadas e que irá requerer a realização de uma visita técnica ao parque daqui a 60 dias para veificar as intervenções já realizadas e o andamento das medidas anunciadas.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional