ÁREA DE RISCO

Moradores denunciam degradação de prédios do Vila Viva no Aglomerado da Serra

População teme chegada do período chuvoso. Urbel lembrou tarefas que cabem aos moradores e assegurou que ações são contínuas

terça-feira, 21 Novembro, 2023 - 13:45

Foto: Bernardo Dias / CMBH

Medo, insegurança, indignação e abandono por parte do poder público. Estes foram alguns dos sentimentos relatados por moradores da Aglomerado da Serra que residem em apartamentos do Programa Vila Viva, em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos, Habitação, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor, nesta terça-feira (21/11). As unidades, que foram construídas a partir do ano de 2005, hoje apresentam rachaduras nas paredes, tetos e pisos e a população está apreensiva com a chegada das chuvas. Moradores também reclamaram da falta de luz e de limpeza dos condomínios. Para Gilson Guimarães (Rede), autor do pedido de debate e ex-morador dos ‘predinhos’, há um abandono por parte da Prefeitura em relação à comunidade do aglomerado, o que ele atribui a um ‘fechamento de portas” por parte do prefeito Fuad Noman (PSD). O diretor de Obras e Projetos da Companhia Urbanizadora e de Habitação de BH (Urbel), Aluízio Moreira Rocha, explicou que o pagamento das contas de água e luz é de responsabilidade dos moradores e que a falta de limpeza de caixas de gordura, o que também cabe aos residentes, pode estar causando o abatimento do solo e consequentes rachaduras. O dirigente garantiu ainda que as equipes do órgão continuam a atuar quando há necessidade e acertou que irá fazer uma vistoria para verificar as intervenções que precisam ser feitas pelos condomínios.  

Prédios rachados e luz

O Aglomerado da Serra abriga oito vilas onde moram cerca de 34 mil famílias. Em 2005, o Programa Vila Viva foi implantado na região e centenas de famílias que moravam em áreas de risco foram assentadas em prédios construídos pela Prefeitura. Segundo os moradores, quando os apartamentos foram entregues tudo estava muito bonito, mas, com o passar do tempo, as construções foram sofrendo danos estruturais, e hoje rachaduras e infiltrações vêm trazendo medo e insegurança às famílias. Antes de iniciar a fala dos representantes da comunidade, um vídeo feito por Gilson Guimarães mostrou dezenas de rachaduras nos pisos, paredes e tetos de prédios e apartamentos.

Luciane e Vanessa residem em prédios da Rua Macaúbas e, segundo as moradoras, o tamanho das rachaduras mostra que as construções podem desabar a qualquer momento. Além disso, vários prédios e apartamentos estariam sem luz.  “As rachaduras estão aumentando. Ligamos para a Urbel e eles disseram que passaram dois anos e que somos nós que temos que resolver. Tenho minha mãe doente em casa e, num caso de desabamento, não tem como ela sair de casa. As escadas estão sem luz, porque não temos condição de pagar a conta cara. Trabalhamos para colocar o básico dentro de casa”, afirmou Luciane.

Vanessa reside no primeiro andar de um dos ‘predinhos’ e sofre com o recorrente entupimento da rede de esgoto, que invade os corredores para passagem de pedestres, entrando até dentro sua residência. “Temos cadeirantes que moram lá e que precisam ser carregados. Eles (Urbel) não querem saber do que nós precisamos. Simplesmente jogaram a gente num lugar que no início estava bonito e nos deixaram lá”, lamentou.

Retirada compulsória e gestão da Urbel

Pastor Givago realiza um trabalho social, com distribuição de cestas básicas para a comunidade, e, segundo ele, a partir de 2005 o Aglomerado da Serra passou por um período de conquistas e o sonho de uma moradia digna levou muitas famílias a concordarem com a ida para os apartamentos. Para o pastor, entretanto, muitas destas pessoas não estavam preparadas para morar em condomínios e hoje sofrem com depressão e problemas financeiros. “A política pública para a baixa renda precisa ser revista. Levei uma cesta nove horas da noite. Subi até o último andar e não tinha uma lâmpada acesa nas escadas. A casa era de uma senhora idosa. Como se transita num local assim? É um apartamento de três quartos, mas entra lá e é um caos, porque a pessoa não tem como pagar a água, a luz”, declarou, sugerindo que se foi a Urbel que construiu que ela faça o gerenciamento.

A gestão e um plano de monitoramento por parte da Urbel também foram a cobranças feitas pela Michele Rocha. Moradora de um dos apartamentos, ela queixou-se de só haver um representante da Prefeitura para ouvir todas as pessoas que vieram da comunidade, e lembrou o perfil financeiros dos moradores. “A mesa está só com moradores. 99% aqui é morador. Cadê as pessoas que irão nos ouvir? Eu quero ter respostas! A descrição do programa (Vila Viva) já diz: intervenções para populações de baixa renda. Então são famílias que recebem bolsa família e não têm como pagar pelas reformas. E aí como fica? Aquilo lá é uma tragédia anunciada”, afirmou.

Intervenções continuam e vistoria será marcada

Presente na audiência, o diretor de Obras e Projetos da Urbel, Aluízio Moreira Rocha, buscou responder todas as questões colocadas. Segundo o dirigente, a falta de iluminação pode ocorrer por falta de lâmpadas ou do pagamento de contas de energia e que, em ambos os casos, cabe aos moradores a responsabilidade. “Cada apartamento tem um padrão de energia e há um para as áreas comuns e do condomínio”, afirmou.

Ainda de acordo com o engenheiro, o abatimento no solo nos arredores dos prédios pode estar sendo causado pelo entupimento das caixas de gordura, tarefa esta que também cabe aos moradores. Segundo Aluízio Rocha, as imagens trazidas pelo vereador mostram rachaduras em locais que não comprometem a estrutura dos prédios, já que aparecem em muros de vedação, que não são estruturas que sustentam os edifícios. O engenheiro ainda garantiu que intervenções continuam a acontecer na comunidade. “No encontro de um pilar com a viga vi uma ferragem exposta que me preocupou e iremos olhar. Já estivemos lá e fizemos diversas atuações de recuperação de rede de esgoto e continuamos voltando lá”, assegurou.

Já sobre a retirada compulsória das famílias, o dirigente negou que tenha havido imposição por parte da Prefeitura e lembrou que antes e depois dos moradores começarem a residir nos apartamentos houve um trabalho social para que a adaptação acontecesse de forma satisfatória. “Foi feito um trabalho de pré e pós-morar com cada morador, para eles aprenderem a viver em condomínio. Seriam seis meses, mas foi muito mais. Não foi uma obrigação. Ficar lá e não ir para outras regiões da cidade foi uma opção. Ninguém pegou uma família e colocou lá a força”, afirmou.

Gilson Guimarães chamou atenção dos moradores sobre a parte que lhes cabe de responsabilidade, mas cobrou uma solução mais concreta, por parte do dirigente da Urbel. "A limpeza, a luz, a capina e a água não são responsabilidade da Urbel, vocês precisam se organizar para manter. Viemos debater questões estruturais e quero saber é como isso irá ficar”, afirmou. O engenheiro da Urbel, então, se comprometeu a marcar com os moradores uma data para realizar uma vistoria aos prédios e identificar as reformas e intervenções que os condomínios precisarão fazer.

Assista à íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater os danos estruturais que vem ocorrendo em prédios do Vila Viva - 39ª Reunião Ordinária - Comissão de Direitos Humanos, Habitação, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor