HISTÓRIA ORAL

Memória da cidade e da Câmara é resgatada na voz de servidores aposentados

Projeto História Oral conversou com Célia Lacerda. Ela chegou à CMBH em 1958 e deixou a Casa 30 anos depois, como diretora do Legislativo

segunda-feira, 23 Dezembro, 2024 - 13:15

Foto: Dara Ribeiro/CMBH

"O processo legislativo funcionava à noite e no prédio da Rua da Bahia, com Augusto de Lima, as pessoas entravam, ajoelhavam-se e faziam 'em nome do pai': achavam que era igreja." Essas são algumas das lembranças que Célia Lacerda compartilhou em um bate-papo com a equipe do História Oral, projeto que vem sendo desenvolvido pela Seção de Controle e Gestão Arquivística (Secarq) da Câmara Municipal de Belo Horizonte, com o apoio do arquivo público da cidade e a parceria do Sindicato dos Servidores do Legislativo Municipal de BH (Sindslembh) e da Superintendência de Comunicação Institucional (Supcin). Primeira entrevistada, a servidora, que está aposentada há 36 anos, recebeu historiadores, fotógrafos e videomakers em sua casa, no último dia 20, para uma conversa sobre os diversos trabalhos que desenvolveu no Legislativo, bem como os setores pelos quais passou. Todo o material coletado, que inclui mais de 1h30 de registros, está à disposição para consulta pública. Futuramente, tanto o texto quanto o conteúdo audiovisual serão disponibilizados na página da CMBH.

De datilógrafa a diretora do Legislativo

Em 1958, o presidente João Goulart aprovou a previdência social para os trabalhadores rurais e o 13º salário para o funcionalismo público. Naquele ano, Célia Maria Lopes Lacerda entrou na CMBH para substituir uma datilógrafa que estava em férias-prêmio. Durante uma viagem ao Rio de Janeiro, a titular se apaixonou por um militar, casou-se e ficou por lá, pedindo demissão de seu cargo e possibilitando, assim, a efetivação de Célia no posto. Nos anos seguintes, a aprovação em um concurso interno fez Célia integrar de forma definitiva o quadro de servidores da Casa. De datilógrafa, Célia passou a redatora de atas, assistente e, finalmente, diretora do Legislativo, cargo no qual se aposentou.

Fichas cor-de-rosa

Atuando simultaneamente como professora de matemática na rede Sesi, Célia Lacerda trabalhou nos três prédios em que a CMBH funcionou: Rua da Bahia (1936 a 1972), Rua Tamoios (1973 a 1987) e Avenida Andradas (1988 até hoje). Ao todo, a servidora completou 30 anos de serviço na CMBH, deixando a Casa em 1988. Perguntada sobre como era o Legislativo nos anos iniciais no prédio da Rua da Bahia, ela lembrou que as proposições ficavam registradas em fichas nas gavetas, que eram consultadas periodicamente para verificar seu andamento. "Então, se você queria saber sobre um projeto tal ou um vereador tal, você ia até lá e consultava. Era uma ficha cor-de-rosa. Ali constava o andamento de todos os projetos. E tudo era mimeografado a álcool, naquela tinta roxa. A gente saía de lá toda roxa", contou.

Cestas da Memória e Meu Coração

O Projeto História Oral integra um conjunto de iniciativas voltadas à produção de acervos relacionados à memória da Câmara Municipal. Entre 2007 e 2008, após coleta de depoimentos de 19 servidores, a CMBH publicou o livro "Por aqui andou meu coração". Nele, servidores já aposentados relataram aspectos do cotidiano vivido nas diferentes sedes da CMBH, os impactos do crescimento da instituição, as funções públicas já extintas, as percepções sobre o cenário político e a relação com os parlamentares. "A proposta do projeto é, portanto, a continuidade do processo de captação dessas memórias - iniciado quase 20 anos atrás - com o objetivo de, a partir da metodologia de história oral, retomar narrativas já realizadas e obter novos registros e relatos," explicou Lays Souza, que ainda mencionou a intenção de lançar uma nova edição do livro.

Outra iniciativa do setor é o Cestas da Memória. Criado em 2003, esse projeto tem como principal objetivo identificar e descrever imagens pertencentes a diversos fundos recolhidos pelo Arquivo Público, que estão sob sua guarda permanente. A ideia central é que servidores ativos e aposentados, ex-vereadores e diretores ajudem a identificar as fotografias que compõem o acervo da CMBH.

Segundo Lays Souza, analista e historiadora da Secarq, o objetivo é, a partir da metodologia de história oral, retomar narrativas já realizadas e obter novos registros, complementando os relatos trazidos pelo projeto Cestas da Memória e pelo livro "Por aqui andou meu coração".

Superintendência de Comunicação Institucional

Projeto de História Oral da CMBH - Entrevista com Célia Lacerda