ARTE NO LEGISLATIVO

Acervo artístico da Câmara de BH reúne mais de 70 objetos

Esculturas, quadros e fotografias antigas compõem o patrimônio que enriquece os jardins e os corredores da Casa

segunda-feira, 23 Janeiro, 2017 - 19:30
Escultura triangular em ferro na portaria principal da CMBH

Foto: Larissa Metzker / Câmara de BH

A enorme estrutura triangular em ferro na portaria principal do Palácio Francisco Bicalho chama atenção de quem passa em frente ao Legislativo de BH, na Avenida dos Andradas. Do lado de dentro, outra grandiosa escultura no hall do plenário principal do parlamento impressiona: dois anjos velam Jesus Cristo crucificado. Essas e outras obras compõem um acervo artístico de mais de 70 objetos, entre esculturas, quadros e fotografias, que trazem novos sentidos aos jardins, paredes e corredores da Câmara Municipal de Belo Horizonte.

Criada pelos artistas Wilde Lacerda (Belo Horizonte, 1929 - 1996) e Aroldo Tenuta (Cuiabá, MT), “Cristo com anjos” é uma escultura produzida em ferro batido, datada de 1973. Entregue à Câmara Municipal, a peça compunha a capela da antiga sede da instituição, na Rua dos Tamóios (Centro). Atualmente, a obra está exposta no hall de entrada do Plenário Amynthas de Barros.

Reconhecido por seu caráter artesanal, Aroldo Tenuta utilizava o ferro batido com martelo, enrolado e pintado manualmente. O artista cuiabano mudou-se para Belo Horizonte ainda jovem, deixando em Mato Grosso uma de suas obras mais expressivas, a estátua de Maria Taquara, que homenageia personagem de referência para a cidade de Cuiabá na luta pelos direitos da mulher. Já na capital mineira, Tenuta empresta seu nome a uma praça pública e a um teatro de arena no Bairro Buritis (região Oeste). Pintor, desenhista, gravador, escultor e professor, Wilde Lacerda é referência na arte mineira, tendo estudado com Alberto da Veiga Guignard (1896 - 1962) na Escola de Belas Artes de Belo Horizonte.

Memória da cidade

Construído especialmente para compor as paredes do Plenário Amynthas de Barros, o painel “Belo Horizonte: do século XVIII ao século XXI”, de Yara Tupynambá, retrata parte da memória da cidade, lembrando o período de construção da capital e a criação da Câmara dos Vereadores. A obra ilustra as primeiras propriedades rurais em torno da Fazenda do Leitão, a Igreja da Boa Viagem, a Rua Sabará (primeira a ser construída), a comissão construtora da "cidade planejada", os operários e os imigrantes, as reivindicações do movimento feminista e dos jovens e a formação de um ideal de democracia.

Resultado de cinco meses de trabalho, o painel de Yara Tupynambá foi entregue à Câmara em junho de 2010, mas não é a primeira obra da artista a ocupar a sede do Legislativo Municipal. Outra tela de sua autoria, intitulada “Guerra e Paz”, ornamentava as paredes do plenário da antiga sede da Câmara, mas foi danificada irrecuperavelmente durante a mudança de endereço do Legislativo para o atual prédio, na Avenida dos Andradas (Santa Efigênia), em 1988. Em outubro de 2013, a artista anunciou a doação à Câmara dos estudos bibliográficos e fotográficos realizados por ela para criação da obra.

Símbolo do Legislativo

Instalada no jardim em frente à portaria principal da Câmara Municipal, a escultura de Amílcar de Castro (Paraisópolis, 1920 – BH, 2002) é uma das principais peças do acervo da instituição. Produzida em ferro, datada de 1997, a obra expõe um caráter particular do trabalho de Amílcar, que traz um plano chapado, cortado e dobrado, sem solda ou emendas, formando um objeto tridimensional em equilíbrio e diálogo com o espaço.

Sendo um plano circular, com uma forma triangular vazada em seu interior, o objeto dialoga com outras obras do artista, especialmente aquela exposta na Praça Carlos Chagas, diante do Legislativo Estadual, que inspirou a logomarca da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Nota gravada ao lado da obra explica que "o triângulo dá passagem à representação popular e aponta o caminho da construção democrática; o círculo simboliza a aliança sociedade-Poder Legislativo, fonte síntese da vontade geral".

Escultor, gravador, desenhista, diagramador, cenógrafo e professor, Amílcar de Castro foi um dos fundadores do Movimento Neoconcreto e tornou-se um dos nomes mais representativos da arte contemporânea no país.

Sustentabilidade

“Fazer arte é descarregar vida ressuscitando materiais antes desprezados pelo desenvolvimento tecnológico”. Assim acredita o artista plástico Leandro Gabriel (Belo Horizonte, 1970), responsável pela escultura monumental instalada nos jardins de entrada da Portaria 2. Produzida em 2007, a partir da reutilização de placas de ferro e outros materiais em sucata, sem pintura e já enferrujados, a obra tem cerca de quatro metros de altura, que se lançam ao céu e se harmonizam entre as árvores.

Com obras espalhadas por todo o Brasil, Leandro Gabriel é conhecido por suas peças de tamanho monumental, que chegam a 5m de altura, feitas em ferro e sucata, sempre buscando formas intrigantes. Seriam micro-organismos, árvores, cactos, partes do corpo humano? O artista garante que nenhuma de suas obras representa algo específico e deixa para o espectador criar seu próprio sentido.

Premiado no Salão Nacional de Arte de Paraty (RJ) em 2004, o artista integra o acervo do Museu Nacional de Arte Contemporânea de Brasília (DF). Em Belo Horizonte, Leandro Gabriel tem outras peças em exibição permanente na PUC Minas (campus Barreiro) e em frente ao Ponteio Lar Shopping (BR-356, Região Centro-Sul). Na Região Metropolitana, o artista exibe seus objetos no Parque Estadual do Rola Moça (Brumadinho - MG).

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