CPI DAS BARRAGENS

Vale estuda uso de novas tecnologias em casos de rompimentos futuros

Em oitiva da CPI das Barragens empresa informou ainda sobre plano de contingenciamento em caso de crise hídrica na Capital

terça-feira, 30 Julho, 2019 - 16:30

Foto: Bernardo Dias/CMBH

O uso de tecnologias que irão permitir o tratamento de águas que tenham sido contaminadas com rejeitos de mineração é uma das ações que a Empresa Vale S/A estuda atualmente para garantir o abastecimento de BH e Região Metropolitana, em caso de novos rompimentos que possam atingir a Bacia do Rio das Velhas. A informação foi repassada por técnicos da empresa em mais uma oitiva realizada no âmbito da CPI das Barragens da Câmara Municipal, nesta terça-feira (30/7).

De acordo com a engenheira sanitarista e gerente de Gestão Ambiental da Vale, Roberta Guimarães, os estudos, elaborados em parceria com a UFMG, fazem parte de um Sistema de Tratamento Complementar que a empresa vem avaliando, com caráter preventivo, a fim de assegurar a não interrupção do abastecimento hídrico da Capital. “Hoje temos tecnologias para o tratamento de águas com os mais diversos contaminantes, alguns inclusive até piores que os que encontramos no Rio das Velhas. A que nós estamos vislumbrando a implementação, tem robustez e já foi implementada em São Paulo, pela Sabesp, com águas degradadas visando a potabilidade”, explicou.  

Durante a oitiva, a gerente executiva de Reparação Brumadinho/Bacia do Paraopeba da Vale S/A, Gleuza Jesué, informou ainda que a empresa tem colocado todos os seus esforços para garantir a finalização das obras para a nova captação no Rio Paraopeba, dentro do prazo previsto - outubro de 2020, mas que um plano de contingenciamento está sendo elaborado, juntamente com a Copasa, caso ocorra situações de desabastecimento a partir de março do ano que vem. A resposta da gerente deu-se a um questionamento feito pela vereadora Bella Gonçalves (Psol), que lembrou que a previsão de chuvas para o biênio 2019/2020 pode seguir o padrão dos anos de 2014 e 2015, e ficar abaixo da média normal para o período, o que reforçaria o quadro de crise hídrica na Capital mineira.

Descomissionamento e descaracterização

Na primeira parte da oitiva, a gerente executiva, Gleuza Jesué, fez uma explanação apresentando um balanço sobre as condições das Barragens visitadas pelos integrantes da CPI, os níveis de segurança em que se encontram e os planos para descomissionamento das mesmas, bem como as ações para a proteção das Bacias dos Rios das Velhas e Paraopeba, que estão na mancha de inundação destas barragens. Além das gerentes executiva e de Gestão Ambiental, integraram a mesa como representantes da Vale S/A, o gerente de Geotecnia, Rafael Henchen; o gerente de Projetos/Engenharia, Marcel Pacheco e o engenheiro e analista de negócios, Diogo Prata.

A gerente lembrou que os trabalhos apresentados envolvem informações acerca das três visitas feitas pela CPI, que ocorreram nos dias 21 de maio (Mina Capão Xavier – Barragens B3e B2); dia 28 de maio (Mina de Fábrica – Barragens Forquilhas I, II e II) e dia 18 de junho (Mina do Pico – Barragens Maravilhas II e Vargem Grande). Gleuza Jesué reforçou que todas as barragens visitadas estão com operações suspensas para elevação do nível de segurança, e que apenas Maravilhas II deve voltar a ser explorada, sendo que todas as demais, por serem construídas pelo método de alteamento montante, estão no programa de descomissionamento que a empresa anunciou após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho.  

Na sequência, o gerente de Projetos/Engenharia, Marcel Pacheco, descreveu os planos de descaracterização destes locais que envolvem o rebaixamento do nível de água destas barragens, as remoções dos alteamentos e a retirada dos rejeitos. Os projetos preveem ainda construção de canais e reforços para as barragens além de posterior retorno das áreas para o ambiente, com retorno da composição original da topografia e recomposição da vegetação do solo.

Qualidade da água e desabastecimento

Sobre as ações da empresa para evitar um possível desabastecimento de água a partir do início do próximo ano, a representante da Vale relatou que desde o mês de abril a empresa vem se reunindo com a Copasa e buscado, tanto mitigar os danos ocorridos na bacia do Rio Paraopeba, como executando ações para viabilizar a nova obra de captação no rio. Questionada pelos vereadores Wesley da Ambulância (PRP) e Pedrão do Depósito (PPS) sobre a possibilidade de antecipação das obras para nova captação no Paraopeba e a situação do rio, Gleuza Jesué falou da segurança dos prazos e das medidas de Tratamento Complementar citadas no início da matéria. A representante destacou que desde janeiro a Vale criou 66 pontos de monitoramento em toda a extensão do Rio Paraopeba e que medições para avaliar a turbidez são mantidas desde então. O vereador Irlan Melo (PR) lembrou a importância destes dados e propôs que a CPI requisite acesso a estes resultados.

Moção de repúdio

Ainda durante a reunião, foi lida e aprovada pelos membros da CPI uma Moção de Repúdio à construção da Barragem de Maravilhas III, nas dependências da Mina do Pico, em Itabirito. A moção foi retirada pelos participantes do Seminário Água versus Mineração, realizado pela Câmara Municipal, no último dia 16 de julho e que teve o objetivo de esclarecer a sociedade sobre o risco de colapso no abastecimento de água em BH, em caso de rompimento de barragens na Região Metropolitana de BH. A construção de Maravilhas III está em andamento e a Barragem deverá ter capacidade para armazenar aproximadamente 108 milhões de m³ de rejeitos - nove vezes os 12 milhões de m3 que vazaram da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho; além de aproximadamente o dobro do reservatório de Fundão, em Mariana, que tinha capacidade de 50 milhões de m³ de rejeitos. A vereadora Bella Gonçalves lembrou que Maravilhas III foi projetada para ser a maior barragem na Bacia dos Rios das Velhas, e que o licenciamento ocorreu após o rompimento em Mariana. “Não é possível que sigamos construindo estas ‘bombas-relógio’ que depois não vão conseguir sequer ser descomissionadas devidamente”, declarou a vereadora.

Participaram da 19ª Reunião da CPI das Barragens os vereadores Bella Gonçalves; Bim da Ambulância; Irlan Melo; Pedrão do Depósito; Wesley Autoescola e Edmar Branco, que a presidiu. Confira aqui a íntegra da reunião

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional

19ª Reunião - Comissão Parlamentar de Inquérito - Oitiva de Vale S.A