RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Economia verde e turismo podem atrair investimentos estrangeiros para BH

Cônsules de quatro países defenderam fortalecimento de laços comerciais e culturais, iniciativas conjuntas e menos burocracia 

segunda-feira, 29 Agosto, 2022 - 23:15

Foto: Karoline Barreto/CMBH

Portugal, Estados Unidos, Itália, e Reino Unido são alguns dos países que mantêm autoridades consulares em Belo Horizonte e buscam oportunidades de investir em projetos e parcerias que gerem ganhos para ambas as partes e estreitem os laços de amizade e cooperação. Nesta segunda (29/8), por iniciativa da Comissão Especial de Estudo de Assuntos Internacionais, os cônsules desses países e representantes do Legislativo Municipal se reuniram para expor suas impressões e expectativas. O desejo de fortalecer as relações comerciais e culturais foi demonstrado por todos os participantes, que apontaram setores que poderiam atrair investimentos, trocas de experiências e iniciativas conjuntas, como projetos de inclusão de jovens vulneráveis, tecnologias e processos inovadores de sustentabilidade urbana e ambiental, exploração do potencial turístico e promoção das culturas nacionais. Os vereadores se propuseram a agendar reuniões com órgãos municipais e contribuir para o estabelecimento de um diálogo permanente e produtivo, promovendo integração e desenvolvimento e de modo a garantir destaque à capital mineira no cenário global.

Presidente da Comissão Especial e requerente da audiência, Ciro Pereira (PTB) explicou que o objetivo da Comissão e deste encontro é promover maior aproximação entre a cidade e as representações dos países que possuem laços diplomáticos, históricos, econômicos e culturais com Minas Gerais e especialmente com Belo Horizonte, a fim de identificar interesses comuns que favoreçam intercâmbios, parcerias e oportunidades de cooperação. O diálogo também visa a identificar os principais gargalos regulatórios e buscar formas de melhorar o ambiente de negócios, estimulando a geração de emprego e renda, bem como conhecer experiências bem sucedidas na solução de problemas. Titular da Comissão, Fernanda Pereira Altoé (Novo) ressaltou que, além de resultados econômicos positivos para a cidade, o estreitamento de relações vai aumentar o conhecimento da população sobre outras culturas e povos, a receptividade ao estrangeiro e o respeito à diversidade, alargando horizontes e enriquecendo a convivência no espaço urbano.

Educação e cultura

Katherine Ordones, cônsul dos Estados Unidos em BH, entende que a cooperação internacional é uma ferramenta poderosa para enfrentar desafios e encontrar ações que funcionem para melhorar a vida da população. A diplomacia subnacional dos EUA, segundo ela, tem como focos o estabelecimento de laços entre pessoas – educacionais e culturais - e relações comerciais. O país mantém parcerias em diversas iniciativas educacionais. Como exemplo, ela citou o apoio ao projeto de Inclusão Digital da PBH, um dos selecionados no edital da Embaixada, que oferece cursos de programação e tecnologia da informação para jovens de vilas e favelas, contribuindo para sua inclusão digital e social. A cônsul mencionou ainda a colaboração da Agência Espacial Brasileira (AEB) com a Nasa, fornecendo treinamento no Centro de Línguas, Linguagens, Inovação e Criatividade (Clic) da PBH para o programa internacional Globe (de educação e ciência, voltado a alunos do ensino fundamental).

Maurizio Fidele, cônsul da Itália, afirmou o interesse na integração e cooperação cultural, econômica e comercial com a cidade. Lembrando que BH abriga uma milhares de italianos e descendentes de italianos, ele mencionou o sucesso da Festa realizada anualmente em via pública, que atrai milhares de pessoas com atrações culturais e gastronômicas daquele país, pediu a redução da burocracia que dificulta a promoção do evento e propôs a realização de uma Festa das Nações, com a participação de diversos países. Para atrair empreendedores e investidores, ele apontou o potencial de Minas para o “agroturismo”, destacando as belezas naturais e alimentos premiados como café e queijos.

Rui Almeida, de Portugal, salientou a importância das afinidades culturais e históricas nas relações com o Brasil, demonstradas pelo envolvimento do país nas comemorações do bicentenário da Independência. A promoção de eventos e celebrações como a Festa Portuguesa popularizam elementos da gastronomia e da música lusitana e contam com a presença de embaixadores e membros do governo. Para além da representação institucional, que presta serviços à numerosa comunidade portuguesa em MG e aos brasileiros que pretendem ir para Portugal, organizações da sociedade civil apoiam projetos de integração entre os países; em setembro, a Associação Portugal-Brasil vai realizar um colóquio sobre Independência do Brasil com historiadores portugueses e brasileiros, e a orquestra de Minas Gerais vai fazer vários concertos em Portugal, inclusive no dia 7. A Câmara de Comércio tem um “trabalho interessante”, mas as relações econômicas entre os países podem ser aprofundadas.

Turismo e economia verde

Entre os campos de interesse para atração de investimentos, Rui Almeida também destacou o turismo. Segundo ele, a população portuguesa associa o Brasil a turismo de praia, e não conhece o patrimônio histórico, as riquezas naturais e culturais de Minas Gerais, que devem ser mostradas e promovidas naquele país. Lucas Brown, cônsul do Reino Unido em BH, ressaltou que a mudança climática é “a maior ameaça que a gente vive, mas também maior oportunidade econômica do século”, e a cooperação internacional vai priorizar investimentos em tecnologias mais limpas e energias renováveis; para ele, BH pode se tornar um hub de economia verde. Em seu entendimento, é preciso trazer atores de diferentes setores, governos, ongs e iniciativa privada para trabalhar juntos. O cônsul assegurou que, embora seja visto como elitista, o Reino Unido também tem grande interesse em investir em projetos sociais e no desenvolvimento econômico sustentável de quem mais precisa, por meio de parcerias.

Gabriel (sem partido), que não é membro da Comissão Especial, mas tem a internacionalização de BH e a sustentabilidade urbana entre as bandeiras de seu mandato, reforçou a necessidade de priorizar investimentos em tecnologias, projetos e ações de redução de poluição e preservação ambiental. Sugerindo a cooperação das nações parceiras para fazer de BH um centro urbano inovador e modelo de sustentabilidade, o parlamentar citou o Crédito Verde, proposto por ele para incentivar a adoção de práticas sustentáveis em edificações residenciais, comerciais e industriais, como reaproveitamento de águas pluviais, uso de energia solar e outras medidas, que ainda não estão sendo efetivamente aplicadas pela PBH. Ele também cita projeto de lei que tramita na Câmara prevendo a substituição da frota de ônibus, táxis e veículos que prestam serviços públicos por modelos elétricos, que podem ser viabilizados por investimentos externos. Gabriel também defendeu a promoção do turismo para que a Capital deixe de ser apenas lugar de passagem para os destinos do entorno, como as cidades históricas e o Museu do Inhotim, por exemplo, e passe a fazer parte do roteiro dos visitantes.

Espaço para cooperação

A implantação de um espaço permanente em Belo Horizonte que reúna os consulados e representações internacionais instalados aqui para troca de informações entre si e com os gestores e entidades locais, proposição e desenvolvimento cooperativo de iniciativas humanísticas e ecológicas – “prioridades absolutas” e “porta de entrada para investidores”. O espaço, que o cônsul italiano comparou a “uma pequena Onu”, também poderia abrigar feiras e eventos culturais e de negócios, visando à integração e cooperação. Gabriel celebrou a ideia e se dispôs a verificar, junto à Prefeitura, a disponibilidade de prédios públicos do Município desocupados, especialmente no centro da cidade. O vereador defendeu que, entre as ideias bem sucedidas a serem copiadas dos outros países, está a requalificação das áreas centrais, articulada com projetos de moradia e inclusão da população em situação de rua.

Canal direto com a Prefeitura

Os vereadores reconheceram a importância da relação com esses países para o desenvolvimento da cidade e sua projeção no cenário internacional, que pode contribuir para o enfrentamento dos maiores desafios do momento em todo o mundo: a recuperação econômica pós-pandemia e as mudanças climáticas. Gabriel acrescentou a necessidade de fortalecer o modal ferroviário, a destinação sustentável e a reciclagem de resíduos, que, segundo ele, ainda estão muito atrasadas em BH. O parlamentar também pediu aos países que tragam exemplos de inciativas bem sucedidas. Para fomentar o turismo, segundo ele, é preciso expandir a malha de voos internacionais, melhorar o atendimento ao turista e qualificar as opções de lazer, cultura e entretenimento características da cidade, conhecida pela hospitalidade de seu povo.

Afirmando que a atual gestão valoriza as relações internacionais, eles destacaram a minirreforma administrativa que aguarda aprovação na Câmara e prevê a criação de um órgão específico para o setor. Outro PL, já aprovado em 1º turno, pretende desburocratizar a realização de eventos no espaço público, inclusive de grande porte, favorecendo a promoção das festas culturais. A participação dos consulados na identificação de entraves e sugestões de melhorias vai favorecer o ambiente de negócios e facilitar a vida de quem quer investir e gerar renda em BH. Para isso, Ciro Pereira anunciou que a Comissão vai articular o estabelecimento de comunicação direta e permanente entre os consulados e a Prefeitura e colaborar com a proposição e alteração de leis que simplifiquem processos e atendam demandas. Gabriel sugeriu reuniões com a Secretaria de Meio Ambiente e a Belotur para agilizar os programas e projetos nas respectivas áreas.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para promover o encontro de autoridades consulares com representação em Belo Horizonte, 7ª Reunião: Comissão Especial de Estudo