IMUNIZAÇÃO

Em Belo Horizonte, baixa cobertura vacinal preocupa autoridades da saúde

Vereadores e profissionais da área defenderam o combate às fake news e o desenvolvimento de campanhas de conscientização 

quinta-feira, 30 Março, 2023 - 18:15

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Criado em 1973, o Programa Nacional de Imunização completa 50 anos no mês de setembro. Instituído para coordenar ações de vacinação que historicamente eram descontínuas, ele alcançou, ao longo do tempo, considerável sucesso, tendo se consolidado como referência em nível internacional. A despeito disso, nos últimos anos, tem se verificado uma queda da cobertura vacinal no país, em decorrência sobretudo, da diminuição da adesão por parte da população. Para tratar do assunto, a comissão de Saúde de Saneamento realizou audiência pública nesta quinta-feira (30/3). Requerido por Bruno Pedralva (PT), Dr. Célio Frois (PSC), Helinho da Farmácia (PSD), Maninho Félix (PSD) e Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB), o evento buscou discutir propostas para o fortalecimento da política de imunização em âmbito municipal. 

Conforme lembrou Bruno Pedralva, essa luta não se processa apenas em âmbito local. Para fazer frente ao problema, o governo federal lançou, em 2023, o Movimento Nacional pela Vacinação, campanha que objetiva fazer com que o país retome as altas coberturas vacinais registradas em outros momentos de sua história, fortalecendo a cultura de imunização entre os brasileiros.

Cobertura insuficiente 

Professor da UFMG, o infectologista Unaí Tupinambás destacou que, em 2020, havia no Brasil cerca de 600 mil crianças sem nenhuma dose de vacina contra o sarampo. Já no período que se estende de 2012 a 2021, cerca de 3,5 milhões de crianças ficaram sem as três doses do imunizante contra a poliomielite e 5 milhões não foram protegidas contra a meningite tipo C. Dados do SUS mostram ainda que a meta de cobertura vacinal de pelo menos 90% dos indivíduos de zero a 12 meses não foi atingida no tocante a 16 vacinas do calendário de imunização da criança, entre as quais a BCG, pentavalente, tríplice viral e imunizantes contra febre amarela e poliomielite. 

De acordo com Paulo Lopes Correa, subsecretário municipal de Promoção e Vigilância em Saúde, a situação não é diferente em Belo Horizonte. No caso da pentavalente, pneumocócica e do imunizante contra a poliomielite, por exemplo, a cobertura vacinal das crianças tem ficado na casa dos 70%, abaixo portanto da meta fixada pelo Ministério da Saúde. Entre os adultos, a situação também preocupa. No caso das pessoas com mais 60 anos, apenas 23% tomaram a vacina bivalente contra a covid-19 em 2023, embora esse grupo seja o mais afetado pelos casos de óbito decorrentes da doença.  

Entre as diversas causas para a queda na adesão à imunização, Unaí Tupinambás destaca o avanço global do movimento anti-vacina e a difusão de fake news, que, sem respaldo científico, lançam dúvidas infundadas sobre a segurança da imunização.  

Busca ativa e ações de conscientização.

Diante do problema, a vereadora Loíde Gonçalves (Pode), membro da Comissão de Saúde e Saneamento, destacou a importância dos fortalecimento das campanhas educativas e de conscientização como forma de ampliar a cobertura vacinal e facilitar a adesão de adultos e crianças.    

Para fazer frente a esse quadro adverso, a Secretaria de Saúde tem desenvolvido ações de busca ativa em todas as unidades básicas de saúde, a partir da identificação de casos de atrasos vacinais, além de realizar parcerias com escolas das redes pública e privada para o desenvolvimento de ações de conscientização de pais e de estudantes. Só no segundo semestre de 2022, 152 escolas municipais e 366 Emeis e creches foram visitadas. No mesmo período, as campanhas de vacinação em escolas públicas levaram à imunização de cerca de 4 mil adolescentes contra o HPV. Outros 2.800 estudantes receberam a vacina meningocócica e 313 a triviral. 

Representante dos trabalhadores, a enfermeira Maria das Graças Rosa Dias afirmou que a ampliação da cobertura vacinal é um desafio que faz parte do dia a dia de trabalho nos centros de saúde. Além de defender o fortalecimento das campanhas de conscientização, ela solicitou melhorias nas condições estruturais das salas de vacinação, bem como no sistema de acondicionamento e refrigeração das vacinas. Ao mesmo tempo, apontou a necessidade da oferta de formação permanente aos profissionais que atuam nesses locais, como forma de qualificar a atenção aos usuários. 

Como encaminhamento, o vereador Bruno Pedralva defendeu o desenvolvimento de ações políticas de combate às fake news na cidade, bem como o fortalecimento de iniciativas de conscientização com vistas a estimular a imunização. Para tanto, na esteira do que foi proposto por especialistas ouvidos na audiência, ele sugeriu a ampliação do diálogo com pastores e lideranças religiosas, agentes que, em função de sua influência, podem contribuir para esclarecer a população sobre os efeitos benéficos das vacinas. Pedralva se dispôs, inclusive, a dar início a essa discussão junto aos seus colegas vereadores que integram a bancada cristã da Câmara. 

Também como propostas à PBH, o vereador sugeriu a ampliação do número de profissionais nas salas de vacinação e o incremento de sua formação. Além disso, nos casos em que for tecnicamente viável, o vereador defendeu a flexibilização das possibilidades de acesso às vacinas, uma vez que a rígida divisão da oferta segundo a faixa etária da população acaba sendo um elemento dificultador da adesão às campanhas de imunização. 

Superintendência de Comunicação Institucional  

Audiência pública para debater desafios da vacinação em Belo Horizonte - 7ª Reunião Ordinária - Comissão de Saúde e Saneamento