SAÚDE DA MULHER

Mutirão realiza 70 procedimentos e reduz fila por cirurgias de endometriose

Ação foi viabilizada após destinação parlamentar. Especialistas cobram ampliação das políticas de enfrentamento à doença

quinta-feira, 23 Outubro, 2025 - 15:00
parlamentares e participantes presentes em audiência pública na câmara municipal de bh

Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH

A Comissão de Mulheres da Câmara Municipal de Belo Horizonte debateu, em audiência pública na manhã desta quinta-feira (23/10), os resultados do mutirão de cirurgias de endometriose realizado no Hospital da Baleia e as políticas públicas voltadas ao enfrentamento da doença. A iniciativa foi proposta pela vereadora Trópia (Novo), que destinou R$ 650 mil em emenda parlamentar para viabilizar o projeto, que demandou a compra de pinças específicas atualmente não cobertas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entre fevereiro e agosto deste ano, o mutirão possibilitou a realização de 70 cirurgias videolaparoscópicas, de menor potencial invasivo. Durante o encontro, especialistas reconheceram a relevância da ação e consideraram que a cirurgia é a "ponta do iceberg", já que no Brasil a doença, que pode atingir até 7 milhões de mulheres, está subnotificada. No município, segundo a Prefeitura de BH, há 218 mulheres na fila do procedimento, e quase 500 aguardam realização de exame de ultrassom para confirmação do diagnóstico. Trópia confirmou que novas destinações devem ser feitas para outras edições do mutirão, e disse esperar "zerar" a fila de espera pelo procedimento.

Dor intensa

Ao iniciar a audiência, Trópia relembrou que o tema já havia sido debatido em reuniões anteriores e destacou a evolução dos resultados. Ela contou que, há três anos, após saber de uma fila de 120 mulheres esperando pela cirurgia, decidiu destinar recursos para sua realização. “Hoje, o mutirão é uma realidade e queremos torná-lo uma política permanente do SUS”, afirmou. Segundo a vereadora, a Prefeitura de BH já incorporou o projeto ao portfólio de destinações parlamentares, e a expectativa é de que novas emendas sejam aplicadas também para reduzir a fila de exames de ultrassonografia.

A endometriose é uma doença caracterizada pelo desenvolvimento e crescimento de partes do tecido que reveste o útero (estroma) fora da cavidade uterina. Durante a audiência, foi exibido um vídeo com depoimentos de pacientes que relataram anos de convivência com dor intensa, incontinência urinária, impossibilidade para trabalhar e uso de morfina, entre outros impactos. Após a cirurgia, muitas afirmaram ter “iniciado uma nova vida, sem dor”.

Diagnóstico ainda é tardio

O coordenador da Ginecologia do Hospital da Baleia, Maurício Bechara, explicou que o diagnóstico da endometriose ainda é tardio no Brasil, e que o projeto representou um desafio técnico e logístico. Segundo o médico, a redução média da dor após as cirurgias foi de seis pontos, e a maior parte das pacientes apresentava endometriose em grau 3 ou 4.

“Uma coisa é operar, outra é operar em grande escala. Mas abrimos o ambulatório e 'alcançamos o coração' dessas mulheres. A pergunta que devemos fazer então é: quanto custa não tratar uma mulher com endometriose?”, afirmou.

"Ponta do iceberg"

Maria Cristina, diretora do Centro de Acolhimento e Atendimento de Mulheres com Endometriose e Dor Crônica do Hospital das Clínicas, lembrou que a doença ainda é subdiagnosticada e tem impacto direto na vida social e profissional das pacientes. No Brasil, segundo a especialista, cerca de 7 milhões de mulheres vivem com a endometriose. De 2015 a 2019, o SUS contabilizou gastos de R$ 45 milhões em internações; e de 2022 a 2024 houve 30% de aumento nos casos de internações.

“Estamos tratando apenas a 'ponta do iceberg'. Precisamos unir forças no cuidado efetivo da mulher com endometriose. O sofrimento das mulheres repercute em toda a sociedade”, alertou.

Fila na PBH

De acordo com a gerente do Núcleo de Apoio à Gestão da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Clara Armond Souza, atualmente há 260 mulheres na fila de espera por consulta ginecológica na especialidade de endometriose, além de 490 aguardando o exame de ultrassonografia específica. A gerente adjunta da Regulação de Acesso Hospitalar, Marcela Pimenta, informou que a fila de cirurgia conta com 218 pacientes, e reconheceu a importância dos mutirões para a redução dessa demanda.

Trópia reforçou o compromisso de dar continuidade à iniciativa do mutirão. A parlamentar destacou que a intenção é criar centros de referência em saúde da mulher, melhorar o fluxo do diagnóstico e ampliar o acesso ao procedimento.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater o mutirão de cirurgias de endometriose realizado no Hospital da Baleia, bem como as políticas públicas de enfrentamento da doença. 36ª Reunião Ordinária -  Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer