Especialista aponta que falta de articulação entre municípios pressiona leitos em BH
Em audiência realizada nesta manhã entidades denunciaram ainda falta de EPI’s, ausência de testagem e de repasses
Foto: William Delfino/CMBH
Cada município tem gerido a crise da pandemia do coronavírus de forma independente, e como Belo Horizonte concentra grande parte da rede hospitalar, a cidade tem sido pressionada. O argumento foi defendido pelo médico epidemiologista Rômulo Paes, pesquisador titular em Política de Saúde da Fiocruz, durante a sua participação na audiência pública promovida pela Comissão de Saúde e Saneamento na manhã desta quarta-feira (17/6). Solicitado pelo vereador Pedro Patrus (PT), o encontro, que teve o objetivo de debater questões acerca da flexibilização do isolamento social e da subnotificação de casos de Covid-19, contou com a participação de representantes de entidades sindicais ligadas aos trabalhadores da saúde, que relataram dificuldades como falta de equipamentos de proteção individual (EPIs), de testagem e de repasses de outras esferas de governo.
Durante a audiência, mais de uma entidade cobrou a participação de outros parlamentares no encontro que teve apenas a presença de Patrus. Na abertura da reunião o vereador lembrou a importância do debate e da Comissão como um espaço onde todos podem propor encaminhamentos, contribuindo no combate da pandemia.
Heterogeneidade e encruzilhada
“Estamos num momento crítico da pandemia do Coronavírus e as medidas adotadas pelo país foram precárias”. Esta foi a observação feita pelo Dr. Rômulo Paes durante a audiência desta manhã. Para o epidemiologista, embora o Governo Federal tenha identificado com certa antecedência a presença do vírus no país, e feito um importante relatório de procedimentos, as respostas foram lentas, somente cinco semanas após o primeiro caso.
Para o especialista, esta falta de coordenação determinou uma autonomia forçada na gestão da crise do coronavírus, o que gerou um quadro de heterogeneidade nas ações entre os municípios. “Temos municípios hoje que nunca entraram em isolamento, outros que estão em lockdown, e outros ainda que estão voltando para o isolamento, após flexibilizarem e os casos subirem”, argumentou Paes.
Ainda segundo o médico, esta falta de parâmetros claros, tem colocado BH numa encruzilhada, pois embora o município venha realizando um manejo eficiente da crise, a cidade concentra a maior parte da rede hospitalar de Minas Gerais, e por isso é pressionada com a chegada de pacientes de cidades vizinhas, e mesmo de outras partes mais distantes do Estado. “Estamos em isolamento há muitos dias. Na Europa, os países fizeram quarentena de 45, 49 dias. Estamos com o dobro disso e sabemos que a flexibilidade nos coloca em risco”, explicou Paes, que defendeu que as tomadas de decisões precisam envolver mais testagem, sistema de vigilância epidemiológica (dados e localização) e retaguarda de leitos.
Testagem, EPIs e repasses
Estes três indicadores, entretanto, têm se mostrado frágeis, e estão entre as denúncias feitas por entidades sindicais representantes dos trabalhadores em saúde do município e do governo do estado durante a audiência. Neuza Freitas, coordenadora do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais (Sind-Saúde) contou que a situação vivida pela rede é grave, e que vem presenciando um preocupante aumento dos casos positivos para coronavírus entre os trabalhadores. “O governo não dialoga. Recusou-se a realizar o afastamento dos trabalhadores que são do risco (idosos, hipertensos, diabéticos e doentes pulmonares crônicos) e tivemos que judicializar. Quem conseguiu fazer teste pagou do próprio bolso”, denunciou Freitas.
Segundo a coordenadora, o trabalho de quem está na ponta também tem sido dificultado pela ausência ou má qualidade dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). “Não existe combate à doença sem isso. Temos trabalhadores usando máscara de tecido no atendimento e outros usam a N95 por 15 dias”, explicou Neuza, que contou que o sindicato chegou a oficiar o Ministério da Saúde, sendo que este enviou novos EPIs, porém não se tem informações de como foi feita a distribuição.
A presidente do Conselho Municipal de Saúde (CMS), Carla Anunciatta, também participou da audiência e reconheceu como acertada a opção da PBH por ouvir um comitê técnico-científico, porém criticou o Executivo em sua determinação de reabertura do Shopping Oiapoque, no plano de retomada da atividade econômica. “Foi uma decisão horrível, porque no dia seguinte tinha uma fila de 500 pessoas na porta para fazerem compras”, lembrou.
A presidente do conselho ainda apontou as restrições financeiras que as prefeituras vêm sofrendo em função de uma imobilidade e ausência do governo federal. Segundo Anunciatta, o Sistema Único de Saúde é tripartite, entretanto, os repasses não estão sendo feitos. “A maior parte dos R$34,5 milhões destinados ao combate à pandemia estão parados no Ministério da Saúde; apenas 30%, cerca de R$10 milhões foram repassados”, afirmou.
Preservação de vidas
Respondendo às questões colocadas, Fabiano Geraldo Júnior, subsecretário de Promoção e Vigilância à Saúde, lembrou que desde o início a opção da Prefeitura de BH tem sido pela preservação das vidas, mesmo com todo tipo de pressão que isso tenha acarretado. Segundo o subsecretário, a Prefeitura já realiza a testagem dos trabalhadores da saúde, e de 2481 testes feitos até o momento, 79 foram positivos para a Covid-19. Ainda de acordo com Geraldo Júnior, a estratégia agora é ampliar a testagem e perceber para onde caminha o vírus. “Iniciamos a testagem dos trabalhadores dos serviços essenciais, como caixas e repositores de supermercados e trabalhadores de padarias, farmácias, drogarias e motoristas e auxiliares de bordo do transporte público da cidade”, contou.
Segundo o subsecretário, a expectativa da PBH é ampliar a capacidade de testagem a partir de um convênio com a Fiocruz, o que deverá dar ainda mais claridade sobre o quadro da pandemia na cidade. “Acabamos de construir um laboratório de bioteclogia molecular onde faremos a extração e a Fiocruz as análises”, explicou.
Antes de encerrar o encontro, o vereador Pedro Patrus esclareceu que mesmo não havendo quórum para a reunião todos os relatos serão levados ao conhecimento da Comissão de Saúde e Saneamento e que encaminhamentos serão analisados juntamente com outros vereadores.
Assista ao vídeo com a íntegra da audiência pública.
Superintendência de Comunicação Institucional