Empresa estuda modelo de transporte sob demanda; testes foram iniciados
Presidente do órgão foi ouvido nesta manhã em audiência pública. Ideia é tornar o serviço flexível e atraente aos usuários
Foto: Karoline Barreto/CMBH
A Capital Mineira pode ter nos próximos anos uma revolução no seu sistema de transporte coletivo público. Um plano que prevê a flexibilização do itinerário, quadro de horários e tamanho dos veículos, e a implantação do transporte público coletivo por demanda está entre os projetos que a empresa avalia no processo de reformulação iniciado pelo órgão. Os primeiros estudos para estas mudanças foram apresentados pelo presidente da BHTrans, Diogo Prosdocimi, durante audiência pública realizada pela Comissão Especial de Estudo – Reformulação da BHTrans na manhã desta quarta-feira (3/3). Segundo Prosdocimi, estas alterações partem de três grandes intervenções que são a substituição do modelo contratual, a reestruturação administrativa da empresa e a integração com a região metropolitana. Ainda durante o encontro, o presidente da autarquia falou sobre outros temais ligados ao setor, como a micromobilidade, e respondeu a perguntas feitas pelos vereadores sobre assuntos como multas às empresas de concessionárias; ausência de cobradores; ciclovias; regulação do transporte alternativo e estacionamento no Hipercentro.
Queda do número de usuários e viagem agendada
Sessenta e um por cento da população considera o transporte público como sendo ruim ou péssimo. O dado, trazido pelo presidente da BHTrans, escancara uma realidade já percebida mesmo por quem não utiliza o serviço. O sistema, que desde 2010 começou a apresentar uma perda importante na sua utilização, sofreu baques com a chegada do transporte por aplicativo, e neste ano de 2020 viu a sua receita despencar com a chegada da pandemia, e a consequente queda no número de usuários. As multas, que já vinham sendo aplicadas em função da ausência de cobradores, também passaram a ser constantes nos casos de descumprimento do quadro de horários e na superlotação dos carros, no contexto da pandemia.
Segundo Prosdocimi, o sistema vive hoje um paradoxo. Enquanto grande parte da população avalia o setor como ruim, indicadores como intervalo entre as viagens, segurança e idade da frota apontam para uma média ponderada entre 8 e 10, que é uma média alta quando avaliada a partir dos estudos sobre o tema, fazendo com que os dados técnicos não parecem tão ruins quanto a satisfação do usuário. “Há um elo rompido entre o planejamento e o desejo dos usuários que pode estar em dois pontos. Ou a qualidade contratada não é aquela desejada ou a qualidade ofertada não é a contratada, pois não acredito que a percepção do usuário esteja equivocada”, concluiu.
Ainda de acordo com o gestor, outro ponto importante é que quando se faz um serviço a partir de uma média, ela pode não refletir a maioria dos usuários e essa entrega acaba não atendendo as necessidades do consumidor. Entra então assim a possibilidade de um transporte coletivo sob demanda, a partir das preferências do usuário, onde ele agenda antecipadamente sua viagem por meio digital, vai para o ponto indicado e o ônibus vai buscando as pessoas e percorrendo o trajeto junto com outras pessoas que também agendaram a viagem. “Você terá um modelo compartilhado com itinerário flexível, com veículos customizados, pois poderá aumentar ou diminuir o tamanho do ônibus de acordo com o número de pessoas programadas para a viagem, tudo adaptado a cada preferência do indivíduo”, esclareceu Prodocimi, que disse ainda já estarem em andamento os preparativos para o segundo teste com o modelo sob demanda.
Reestruturação, concurso público e participação cidadã
E a mudança no modelo contratual não deve ser a única novidade trazida pela empresa. Segundo Prosdocimi, a modernização institucional da BHTrans já está sendo trabalhada e deve vir a partir de um projeto de lei a ser enviado à Câmara pelo Executivo. Criada em 1991, a empresa de economia mista que tem entre seus acionistas a Prodabel e a Sudecap, tem hoje cerca de 1.100 empregados e um faturamento anual de R$ 300 milhões. De acordo com Prosdocimi, a empresa tem nos seu quadro de funcionários seu maior ativo, e a ideia é reestruturar toda a área de recursos humanos a partir da realização de concurso público e possibilitar aos servidores novas ferramentas para que eles possam desenvolver todo o seu potencial na execução das tarefas. “Temos um corpo técnico muito eficiente. Servidores com o mais alto espírito público. O objetivo é preservar e ampliar o quadro”, explicou o presidente ao ser perguntado sobre a garantia dos empregos no novo modelo organizacional a ser adotado pela empresa.
Outro ponto também destacado foi a ampla rede de relações institucionais que a empresa integra, ou seja, o grande número de públicos com os quais a BHTrans interage. Além dos usuários do transporte coletivo e dos seus servidores, o órgão tem demandas junto à Secretaria de Políticas Urbanas, concessionárias de transporte, Câmaras de Compensação, Conselhos participativos e de regulação, além de órgãos de transporte da Região Metropolitana de BH (RMBH). “É um ambiente institucional complexo e outras ações que estão sendo feitas por outros órgãos precisam ser levados em conta”, contou o presidente, afirmando que que tanto a participação popular quanto a transparência serão garantidas neste processo de reestruturação.
Integração Metropolitana
Aliás, a participação popular, segundo Prosdocimi, é um dos desafios quando a questão chega à Região Metropolitana. A esfera, que carece de representatividade para apontar as demandas dos passageiros e abriga uma população de cerca de 5 milhões de pessoas, precisa, segundo o presidente, ser pensada a partir de três eixos principais: a rede física (estações de integração), a operacional que envolve os ônibus e outros modais, e a institucional, que são os mecanismos de governança que efetivarão o modelo.
Ainda de acordo com Prosdocimi, a intenção é fazer a integração por meio do investimento em infraestrutura para criação de novos acessos. Em sua apresentação, o gestor mostrou que a Avenida Amazonas é hoje o grande corredor de integração metropolitana que a cidade tem com os municípios que fazem fronteira com a Região Oeste da cidade. Pela avenida circulam diariamente 35 mil pessoas, sendo 16 mil vindas de outras cidades. Já na Avenida Cristiano Manchado são 6 mil são oriundas de outros municípios. “Temos 32 mil pessoas sendo carregadas pelo sistema de ônibus convencional. Então o principal esforço a ser feito é de uma integração metropolitana por meio de infraestrutura. Porque se fizermos os outros elementos e não fizermos a infraestrutura você vai estar integrado, mas parado, no trânsito”, justificou.
Multas, ciclovias e regulação do transporte alternativo
Os parlamentares se revezaram em questionamentos diversos. Iza Lourença (Psol) e Nikolas Ferreira (PRTB) questionaram o presidente quanto às multas aplicadas pelo órgão às empresas concessionárias do transporte público e cobrança de tais valores, ao que Prosdocimi explicou que todas as sanções aplicadas serão devidamente cobradas, inclusive sendo inseridas na Dívida Ativa do Município, onde acabará por ser executada. Gabriel (Patri) lembrou que a cidade tem uma insatisfação muito grande com o serviço prestado pela BHTrans e ressaltou estar bastante otimista quanto ao novo modelo institucional que a empresa irá adotar. Entre as ações que espera ver prosperar, segundo o parlamentar, está a extensão e criação de novas faixas exclusivas para ciclistas, as ciclovias. “No primeiro mandato do Kalil não tivemos um milímetro de avanço nas ciclovias”, ressaltou o vereador, lembrando que será preciso ainda tornar o transporte público atraente e convencer a população a deixar o carro em casa.
Também repercutindo a apresentação do presidente da BHTrans, Marcela Trópia (Novo) ressaltou que o órgão há muito tempo está engessado em um excesso de burocracia que dificulta o surgimento de modelos alternativos para a cidade, e lembrou dos serviços de patinetes que se tornaram inviáveis no município frente ao pesado controle do Estado. A parlamentar do Novo disse esperar que a flexibilização das normas seja considerada neste novo modelo gestão do órgão, de modo a não dificultar a expansão e melhoria do setor. Marcela aproveitou para questionar Prosdocimi quanto à criação de estacionamentos particulares e públicos no Hipercentro da Capital. Ao responder à vereadora, o presidente da BHTrans destacou que toda regulação será no sentido sempre de resolver problemas e trazer soluções e que a interferência se dará apenas neste âmbito. “A ideia será reduzir barreiras e para isso a legislação sobre a micromobilidade já está sendo alterada”, ressaltou Prosdocimi, explicando que hoje o poder público realiza chamamento para as ações de mobilidade no Hipercentro e que isto será simplificado com a emissão de apenas uma autorização para quem quiser empreender ou investir no setor.
A comissão aprovou requerimento para a realização de nova audiência pública para debater com a entidade “Tarifa Zero” os rumos da BHTrans. Para o encontro, agendado para a próxima quarta-feira (10/3), às 9h, no Plenário Helvécio Arantes, foram convidados André Veloso e Rodolfo Bechtlufft, representantes da entidade e ainda Roberto Andrez, arquiteto e professor da UFMG. Confira aqui o resultado da reunião.
Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional