Transporte para grandes eventos necessita de integração, inovação e planejamento
Entre as sugestões está a criação de uma comissão que envolva Executivo, Legislativo e sociedade civil na busca de soluções
Foto Abraão Bruck/CMBH
Eventos de grande porte realizados em Belo Horizonte, como jogos de futebol e shows de artistas consagrados, requerem uma logística de mobilidade urbana em que os diversos meios de transporte disponíveis, como ônibus, automóveis particulares ou contratados por aplicativo e táxis coexistam de forma organizada e funcional. Nesse contexto, a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário realizou, nessa quinta-feira (21/07), audiência pública, solicitada por Braulio Lara (Novo) e Fernanda Pereira Altoé (Novo), para debater importância dos planos de mobilidade para os grandes eventos em BH. Produtores de eventos e responsáveis pelos locais onde eles são realizados disseram que os grandes shows, interrompidos há dois anos devido à pandemia de coronavírus, retornaram com bastante intensidade, sendo necessário inovar para que o turista e o cidadão local convivam harmoniosamente e tenham uma boa experiência. Eles fizeram sugestões para a melhoria do processo de licenciamento, da logística do evento e do trânsito local, e se dispuseram a fazer mais reuniões sobre o tema. Representantes da Prefeitura explicaram como funciona o processo de autorização dos eventos e se mostraram abertos ao diálogo. Bráulio Lara sugeriu a criação de um comitê com reuniões periódicas para aprofundar as discussões sobre o tema; e Fernanda Altoé afirmou que irá reunir as ideias levantadas e pesquisar possíveis melhorias a serem feitas na legislação.
Braulio Lara disse que a reunião tem o objetivo de discutir a questão da mobilidade em grandes eventos, e o funcionamento de diversos serviços que permeiam o transporte. Fernanda Pereira Altoé afirmou que a profissional de marketing Maria Eduarda Cerchiari a abordou sobre o tema após um show ocorrido este ano, com observações sobre o evento para além da questão de mobilidade urbana. “Ela me contou que teve um gasto excessivo com transporte e deixou de fazer compras na Feira Hippie e no Mercado Central”, disse. A vereadora passou a considerar quais ações poderiam ser feitas para que a cidade possa funcionar para atender melhor o cidadão e o turista nesses eventos. Cerchiari contou que, na ocasião de seu deslocamento ao evento mencionado, taxistas e motoristas de transporte por aplicativo não tinham conhecimento do mesmo. E solicitou dos presentes ideias de como melhorar a experiência do cliente de grandes eventos na capital mineira.
André Soares Dantas, superintendente da Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (Sumob), disse estar aberto ao diálogo para a construção de uma cidade mais vibrante. Dantas disse ser necessário tentar fazer melhor e assegurou haver pessoas e recursos para que isso aconteça. Ele explicou que eventos de grande porte como os jogos que ocorrem no Mineirão têm uma realidade diferente, e os clientes têm uma expectativa maior. “É necessário criar soluções arrojadas, mas o engajamento transcende o poder público”, pontuou. Ele disse ser preciso tomar decisões difíceis e buscar parcerias e novos modelos de negócios e gestão. “Precisamos avançar como um todo”, assegurou.
Lara sugeriu a formação de uma comissão intersetorial envolvendo os poderes Executivo e Legislativo e representantes diversos da sociedade civil para construir soluções diversas para o problema. O superintendente de operação da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Fernando de Oliveira Pessoa, afirmou estar aberto a sugestões para a construção de um modelo de mais resultado para a cidade. Pessoa explicou o processo de licenciamento de um evento de grande porte, que inclui a apresentação de documento com o planejamento das alterações de trânsito à BHTrans. O documento inclui os desvios de trânsito previstos, pontos de embarque e desembarque de passageiros e sinalização específica, além de locais onde se vão se situar a Guarda Municipal e os agentes de trânsito.
Wesley (PP) disse que durante a Copa do Mundo de 2014, o padrão de organização da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa) foi positivo, e poderia trazer contribuições. Pessoa disse que o padrão funcionou bem mas, quando a BHTrans tentou mantê-lo após a copa, a Polícia brecou por não possuir efetivo suficiente, e a Prefeitura não iria conseguir mantê-lo sem esse apoio. Wilsinho da Tabu (PP) disse que o aprimoramento do plano de mobilidade em grandes eventos é um desafio muito grande “que tem que ser construído a várias mãos”, apostando na união de forças para vencê-lo.
Sugestões
Melhor sinalização de pontos de táxi e de embarque dos transporte por aplicativo, mais oferta de transporte público, novas linhas de ônibus a locais como o Centro e a Savassi e a criação de rotas alternativas foram algumas das sugestões feitas para a melhoria da mobilidade durante grandes eventos. Todos consideram positiva e necessária uma maior comunicação entre as entidades envolvidas. Rodrigo Marques, presidente da Associação Mineira de Eventos e Entretenimento (Amee), ressaltou a dificuldade em contatar táxis e transporte por aplicativo nos eventos de grande porte. Alfredo Neves, representante do Estádio do Mineirão, disse que, para ir ao local, cerca de 70% utilizam carro, 10% ônibus e 15% utilizam táxis e aplicativos, e que o útimo número aumenta para 35% em grandes eventos. “A melhor saída seria potencializar o transporte público, o que contribuiria para o fluxo de trânsito”, afirmou. André Neves, representante do Minas Arena, sugeriu a implantação de linhas de ônibus para o Centro e a Savassi antes e depois dos eventos.
Braulio Lara disse que, muitas vezes, a articulação entre o transporte público e a entrada dos eventos não é evidente para o cidadão. E sugeriu que os pontos de embarque e desembarque de táxis e transporte por aplicativo sejam sinalizados de maneira ostensiva, com balões coloridos, por exemplo, dentro dos parâmetros legais.
A promotora de eventos Karla Delfim sugeriu uma maior oferta de metrô, mais ciclovias e linhas de ônibus alinhadas, incluir transfer de hotéis aos locais de eventos, além da criação de rotas alternativas para chegar até os mesmos. João Costa Silva, representante da Coopertáxi, sugeriu que o trânsito usual no entorno dos locais que sediam os grandes eventos seja mantido, com o reforço de agentes de trânsito no local. Silva explicou que a mudança pode confundir quem mora na cidade.
Representante do Minascentro, Jota Tomaz, defendeu a importância de se considerar as peculiaridades de cada local que sedia eventos de grande porte. A padronização do plano de mobilidade apresentado à BHTrans, conforme local e público estimado, foi a sugestão feita por Márcia Ribeiro, representante do Centro de Eventos Expominas BH. Osias Baptista Neto, representante da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), sugeriu a padronização da sinalização em todos os eventos da cidade, e que os aplicativos de vendas de ingressos e de tíquetes de estacionamento forneçam informações complementares aos clientes dos eventos de grande porte. Neto disse ser importante equilibrar o quanto o evento traz de incômodo para quem mora perto do local onde acontece e o quanto ele é necessário para quem o frequenta.
Marah Costa, diretora de Eventos da Belotur, considerou positiva a ideia de montar um Grupo de Trabalho sobre o tema. Maria Eduarda Cerchiari colocou à disposição um estudo de sua autoria e disse ter tido acesso a novas considerações sobre o tema.
Fernanda Altoé disse que a audiência foi positiva, pois várias pessoas se identificam com as dificuldades pelas quais passam aqueles que vão a um evento de grande porte. A vereadora afirmou ter percebido, nos depoimentos, a necessidade de planejamento, integração e gestão. Ela propôs reuniões intersetoriais para levantar ideias com o objetivo de construir uma proposta de indicação ao Executivo, além de estudar a possibilidade de alguma alteração na legislação sobre o tema, reforçando o intuito de promover melhorias concretas. Braulio Lara disse ser importante a construção de um plano articulado para a mobilidade urbana. “Vamos colocar BH para funcionar bem no campo dos eventos”, concluiu.
Superintendência de Comunicação Institucional