LAGOA DA PAMPULHA

Para pesquisadores, córregos são responsáveis pela poluição da represa

Uso de substância biorremediadora não pode ser interrompido, pois causaria degradação ambiental rápida 

sexta-feira, 26 Maio, 2023 - 16:30

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Os professores e pesquisadores da Fundação Christiano Ottoni (FCO) Alessandra Giani, Talita Silva e Nilo Nascimento prestaram depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) - Lagoa da Pampulha, nesta sexta feira (26/5), acerca de estudo sobre a qualidade da água da represa. Segundo o levantamento, dentre os locais averiguados, as proximidades dos Córregos Ressaca e Sarandi é que apresentam mais altos níveis de substâncias como fósforo e clorofila-a, devido à quantidade de esgoto que trazem para a lagoa. Altos índices de chuvas de periódicas também provocam um maior aporte de poluentes através dos córregos. Nesse contexto, é necessário interceptar os esgotos domésticos e industriais, maior causa de poluição do espelho d'água. Os pesquisadores também apontaram que, após a utilização da substância biorremediadora Phoslock, foram observados índices de melhorias do sistema e quedas de duas substâncias cujos altos índices indicam de poluição, o fósforo e a clorofila-a. Além disso, eles afirmaram que a utilização do Phoslock contribuiu para a melhoria do ambiente da Lagoa da Pampulha, ainda que essa melhoria seja flutuante. Confira aqui os documentos e o resultado completo da reunião.

Nilo Nascimento explicou que as pesquisas são resultado de um Grupo de Trabalho (GT) sobre o tema que reúne a FCO a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), além de contar com colaboração internacional. De acordo com o pesquisador, a PBH encomendou ao GT a avaliação das tecnologias e experiências nacionais e internacionais bem sucedidas em lagos urbanos e a discussão de medidas aplicáveis à Lagoa da Pampulha. Ele acrescentou que entre os critérios de avaliação estavam a efetividade, a disponibilidade comercial e a aplicabilidade das soluções. Foram mapeadas 42 tecnologias, das quais oito foram descartadas e 34 se dividiram entre potencial médio e alto de aplicabilidade. Entre as sugestões aplicadas à lagoa está o Phoslock, agente para diminuição de poluição da água; já o uso de interceptores pluviais a tempo seco, que não é de simples execução, está entre as tecnologias que não se aplicam à Pampulha. Ele comentou que um dos desafios encontrados para a manutenção de itens aceitáveis de poluentes é que a cada dois anos há vazões de água muito superiores, o que ocasiona cheia nos Córregos Ressaca e Sarandi e traz alto aporte de nutrientes para a lagoa. 
 
A professora Talita Silva afirmou que os Córregos Ressaca e Sarandi ainda se configuram como as principais fontes de entrada de nutrientes no ecossistema. Ela disse ser necessário atuar na causa da poluição da Lagoa da Pampulha, interceptando esgotos domésticos e industriais. 
 
Indicadores de poluição
 
A professora e pesquisadora Alessandra Grani mencionou pesquisa em que as águas da Lagoa da Pampulha foram monitoradas em três pontos nos seguintes itens indicadores de poluição: fósforo total, clorofila-a e cianobactérias. Grani disse que a pesquisa foi feita de 1996 a 2011, com uma interrupção temporal, e observou a evolução do aporte de fósforo e aumento da dominância de cianobactérias ambos a partir de 2010. Ela explicou que, nos relatórios repassados para a Prefeitura, os níveis dos itens citados foram verificados de 2016 a 2028 e de 2018 a 2021, com complementação de dados do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam) em anos anteriores para se ter um parâmetro, uma vez que o tratamento das águas foi iniciado em 2016. 
 
De acordo com a pesquisadora, os níveis de fósforo e clorofila-a estão acima do estipulado nas proximidades dos Córregos Ressaca e Sarandi. Ela complementou que, nos dois outros pontos avaliados, a quantidade de fósforo esteve próxima ou abaixo do limite estipulado pela Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) na maior parte do tempo, e a de clorofila-a esteve abaixo do estipulado pelo Conama na maior parte do tempo. Grani explicou que foram investigadas as causas de dois picos de níveis de clorofila-a: um ocorreu em 2017, com a ruptura de um interceptor da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), e outro ocorreu em 2019 e está relacionado aos trabalhos de recuperação dos Córregos Ressaca e Sarandi, responsáveis pelo envio de pelo menos 70% dos nutrientes presentes na lagoa. Ela concluiu que o nível de cianobactérias, outro item verificado, teve aumento significativo nos anos 2017 e 2019, e queda em outros momentos do período da pesquisa. 
 
Mencionando outra pesquisa sobre a utilização do Phoslock, feita entre 2016 e 2018, Alessandra Grani comentou que a Lagoa da Pampulha teve queda nos níveis de fósforo e clorofila-a ao longo dos anos, e uma queda seguida de subida nos níveis de cianobactérias no mesmo período. Ela disse que a comunidade de algas teve queda em 2016, crescimento em 2017 e aumento de variedade em 2018, o que indica recuperação e equilíbrio do sistema. Grani concluiu que o sistema é muito flutuante, com tendência de melhoras, e que a utilização do Phoslock interrompeu a ligação direta entre os níveis de fósforo e o de cianobactérias, e melhoria do ambiente. 
 
Relator da CPI, Braulio Lara (Novo) disse que os pesquisadores recomendaram a interceptação dos esgotos dos Córregos Ressaca e Sarandi e afirmaram que a biorremediação tem que continuar. “Caso ela seja interrompida, a Lagoa da Pampulha irá se deteriorar muito rápido”, explicou.  
 
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