SAÚDE

Especialistas defendem ações educativas para fortalecer combate à leishmaniose

Testagem, distribuição de coleiras repelentes e controle do vetor da doença também são apontados como medidas eficazes

quinta-feira, 24 Agosto, 2023 - 19:00

Foto: Karoline Barreto/CMBH

As políticas municipais para o controle e prevenção da leishmaniose estiveram em debate em audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, ocorrida nesta quinta-feira (24/8), por requerimento do vereador Helinho da Farmácia (PSD). O encontro foi realizado após solicitação de veterinárias e especialistas com atuação no Barreiro, que perceberam, em sua rotina clínica, números preocupantes de infecção pela doença entre animais da região. 

A leishmaniose visceral é uma doença parasitária transmitida por um inseto popularmente conhecido como mosquito-palha, que em ambientes urbanos afeta gatos, mas sobretudo cães. A doença pode ser transmitida aos humanos através da picada do mesmo vetor, risco ampliado pela convivência com animais infectados. Entre a população canina, a infecção, que em alguns estágios pode ser assintomática, se manifesta por meio de queda da pelegagem, feridas na pele e até mesmo perda dos movimentos, podendo levar à morte. Em humanos, causa febre, dor abdominal, perda de peso, aumento do fígado e do baço, além de inchaço nos linfonodos, sendo também potencialmente fatal. 

Medidas preventivas

Segundo as veterinárias Thabata Garcia e Mariana Rocha, o controle da doença exige atenção a aspectos variados, entre os quais o saneamento e a destinação correta do lixo, para evitar a proliferação do mosquito-palha. O controle da saúde animal, por meio da testagem e da disponibilização de coleiras repelentes, além de ações educativas em saúde, para estimular a corresponsabilidade da população no enfrentamento da doença, também são medidas importantes para fazer frente ao problema. 

Para o vereador Helinho da Farmácia, o investimento em informação é indispensável para a promoção da saúde pública. “Esse, inclusive, é um dos objetivos da audiência”, destacou o parlamentar, afirmando que estimular a discussão e o conhecimento sobre a leishmaniose pode ajudar a população a fazer sua parte, evitando descarte incorreto de lixo e acompanhando de perto o estado de saúde de seus animais. Ponto de vista semelhante foi defendido pelos vereadores Wanderley Porto (Patri) e Cláudio de Mundo Novo (PSD), que chamaram atenção para a necessidade de que a administração municipal e a sociedade civil se unam no enfrentamento ao problema. 

“Saúde Única”

Segundo Eduardo Gusmão, da Secretaria Municipal de Saúde, nos primeiros quatro meses do ano, quase 11 mil cães foram examinados para controle da leishmaniose. Em quase 1.200 deles foi identificada sorologia positiva. No âmbito da saúde humana, de 2008 até este ano, foram registrados 1.017 casos positivos, com 172 mortes, o que indica uma letalidade de quase 17%. 

Tanto Gusmão quanto as especialistas convidadas para a reunião concordam que o enfrentamento da doença exige intervenção integrada e multiperspectívica, na lógica da chamada “Saúde Única”, abordagem integrada que visa equilibrar de forma sustentável o bem-estar de pessoas e animais, a partir do reconhecimento que que a saúde de humanos, espécimes domésticos e selvagens, plantas e o meio ambiente está intimamente ligada e interdependente. 

Segundo a Secretaria de Saúde, além da testagem dos animais, as ações de rotina contra a leishmanioses envolveram, no 1º quadrimestre, borrifação de quase 21 mil domicílios para controle do vetor, colocação de coleira repelente em 8 mil cães soronegativos e realização de mais de nove mil esterilizações para fins de controle étnico da população de cachorros e gatos. Ao mesmo tempo, segundo Gusmão, a Prefeitura tem trabalhado no desenvolvimento de ações educativas com vistas a disseminar informações e hábitos que ajudam a prevenir a doença.

Barreiro

Em face do relato da veterinária Mariana Rocha, segundo quem mais da metade dos animais testados no seu consultório desde novembro do ano passado recebeu diagnóstico positivo, Gusmão explicou que a PBH orienta sua atuação de modo a priorizar áreas mais vulneráveis para a infecção. Há programação para ações para encoleiramento de cães na regional, nos Bairros Mangueiras, Vila Cemig, Vila Pinho, Bonsucesso e Milionários.

No tocante à disponibilização pública de coleira, o vereador Helinho da Farmácia defendeu que a distribuição dos repelentes, hoje restrita a cães soronegativos, seja estendida também aos animais já infectados, como forma de fortalecer o controle da leishmaniose na cidade, ponto de vista que foi apoiado pelas veterinárias presentes na reunião. Segundo Eduardo Gusmão, contudo, os procedimentos seguem normativas determinadas pelo Ministério da Saúde, que fornece insumos para as campanhas. 

Animais doentes

Segundo informações disponibilizadas pela PBH, o tratamento de cães com leishmaniose não se configura como uma medida de saúde pública para controle da doença, constituindo, portanto, uma escolha do proprietário do animal, de caráter individual. Uma vez que o poder público não atua diretamente no tratamento dos animais infectados, a alternativa disponível no serviço público é o recolhimento dos indivíduos para eutanásia. 

Segundo Thabata Garcia, que além de veterinária é pesquisadora da Fiocruz Minas Gerias, a eutanásia não seria um procedimento comprovadamente eficaz para o enfretamento da leishmaniose.Manifestando entendimento semelhante, o vereador Miltinho CGE (PDT) afirmou ser contrário à prática. Embora reconheça que, do ponto de vista legal, não haja irregularidade na adoção da medida, o parlamentar afirmou defender seu abandono, por considerar que ela implica em crueldade e “covardia contra os animais”.   

Como encaminhamento, o vereador Helinho da Farmácia, requerente da audiência, anunciou que vai sugerir à PBH, em conjunto com outros parlamentares que atuam no campo da proteção animal, a adoção de medidas para ampliar e qualificar o combate à leishmaniose. Entre as reivindicações anunciadas pelo parlamentar, está a inclusão de animais soropositivos entre aqueles que recebem as coleiras repelentes, como forma de fortalecer o combate à doença.     

Superintendência de Comunicação Institucional 

Audiência pública para debater as ações de combate à leishmaniose na cidade - 26ª Reunião Ordinária: Comissão de Saúde e Saneamento