COMBATE À DENGUE

Novo sistema de informática estaria atrasando atendimentos nas unidades

Servidores relatam exaustão e usuários demora na espera. MP pode mediar conversa entre PBH e empresa responsável por tecnologia

quinta-feira, 22 Fevereiro, 2024 - 18:15

Foto: Abraão Bruck/CMBH

‘O caos está instalado’. Assim trabalhadores e usuários descrevem a situação vivida hoje nas unidades de saúde do Município. O quadro seria resultado da combinação de dois fatores: a alta na procura por assistência, devido ao aumento nos casos de dengue, e à instalação de um novo sistema de informática (Sigrah), por parte da Prefeitura. Os relatos de perda de dados e de material coletado de pacientes, aumento no tempo de espera e adoecimento entre os trabalhadores foram feitos na tarde desta quinta-feira (22/2), em audiência pública da Comissão de Saúde de Saneamento. Durante a reunião, que discutiu a situação da dengue na capital, representantes dos usuários cobraram atenção da Prefeitura quanto aos possíveis focos do Aedes aegypti em praças e terrenos públicos, e sugeriram a distribuição gratuita de repelentes às famílias mais vulneráveis. Presente ao encontro, o promotor de Justiça de Defesa da Saúde Nélio Costa Júnior se comprometeu a acompanhar as questões do Sigrah. O deputado federal Rogério Correia (PT), que também participou da agenda, contou que o pedido de R$ 16.5 milhões feito pela PBH ao Ministério da Saúde para o combate a dengue está em análise.

Sistema impede atendimento de qualidade

A audiência pública desta tarde foi solicitada por Bruno Pedralva (PT). Ao abrir o encontro, o parlamentar falou do avanço da dengue na capital - hoje são cerca de 150 mil casos, 8 mil somente na última semana -, e disse que o quadro deve piorar, já que a expectativa é que os números possam ficar até seis vezes maior do que o registrados em 2016, quando 154 mil casos foram notificados. “Em BH, a estimativa é que de 350 mil pessoas tenham dengue”, contou.

E o desafio dos centros de saúde e UPAs não é apenas a alta na procura por atendimento. Segundo Aline Cristina Lage, do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de BH (Sindbel), outra dificuldade enfrentada pelos trabalhadores tem sido o Sigrah, sistema recentemente implantado pela Prefeitura para a gestão do atendimento dos usuários. O sistema de informática, que não estaria totalmente implantado, tem apresentado falhas e comprometido a assistência aos pacientes. “É inadmissível que o sistema atrapalhe o atendimento nesse momento (de epidemia). Trabalhadores estão angustiados em ver pacientes voltando para casa sem atendimento. O sistema está nos impedindo de dar um atendimento de qualidade e com dignidade à população”, afirmou.

Mato alto e repelente

Andréa De Paula Nacif e Jadir Leandro são conselheiros de Saúde Distrital, respectivamente, nas Regionais Nordeste e Barreiro. No encontro, ambos falaram com preocupação de suas regiões. Andréa contou que no Centro de Saúde Alcides Lins a situação está um caos, com filas enormes para tudo, não só para o atendimento dos casos de dengue. A gestora cobra a responsabilidade do Município: “A  Prefeitura já sabia que teríamos uma epidemia de dengue e não fez nada. Não fez campanhas educativas, não fez capinas e não tem feito mutirões”. Já Jadir ressaltou que as moradias não foram monitoradas pelos agentes e que agora é preciso ações emergenciais. “A região é crítica. Vila Pinho, Vila Cemig são regiões pobres e poderíamos pelo menos distribuir repelentes, porque essa população não tem dinheiro para comprar”, sugeriu.

A vereadora Loíde Gonçalves (Pode) também cobrou a capina de áreas públicas por parte do Município. A parlamentar disse que há mato alto em diversas partes da cidade e que a Prefeitura precisa ser mais transparente em suas ações em relação ao combate à dengue. “Será que a PBH está contratando pessoal para fazer esse trabalho? Quais ações ela está desenvolvendo para o período? Não é só decretar emergência. Tem que ter ações”, cobrou.

Pedido em estudo

Além dos cerca de R$ 2 milhões que o Município já recebeu do Ministério da Saúde para o combate a dengue, outros R$ 16 milhões podem vir nas próximas semanas. Segundo o deputado federal Rogério Correia, que esteve em agenda recente com a chefe da pasta, ministra Nísia Trindade, o pedido feito pela Prefeitura já está sendo analisado. “O que a PBH achar que é necessário o governo irá bancar. A primeira parcela já deve vir e depois a Prefeitura precisa apresentar o plano de emergência”, explicou.

O promotor de Justiça de Defesa da Saúde Nélio Costa Júnior ouviu os relatos e disse que a PBH precisa investir em educação ambiental, ter um plano de contigência para o combate à dengue e, principalmente, cuidar da limpeza urbana. O representante do Ministério Público de Minas Gerais destacou que a sugestão de distribuição de repelentes também é uma importante alternativa. Sobre o Sigrah, disse que várias questões ainda estão sem respostas. Segundo Nélio Júnior,  a promotora Josely Ramos Pontes já está analisando a questão, tendo inclusive já estudado a fundo o contrato de cerca de R$ 35 milhões feito entre o Município e a MV Saúde Digital. “Ela já fez uma lista de questionamentos à Secretaria de Saúde e precisamos saber várias questões. Precisamos entender as dificuldades, ter soluções técnicas e transparência. O Danilo (secretário) tem que se posicionar quanto a medidas efetivas”, afirmou.

Prejuízos ao cidadão

Antes de encerrar a audiência Bruno Pedralva, ponderou que ninguém está sendo contra uma nova tecnologia, mas que é preciso que o momento para a sua implantação seja revisto. “O contrato prevê responsabilidade da empresa por prejuízos causados no atendimento ao cidadão. Temos fotos de caixas e caixas de sangue (coletado) que foram perdidas porque não se conseguiu inserir no sistema”, contou.

Entre os encaminhamentos apresentados pelo parlamentar estão questões a serem levadas ao secretário Municipal de Saúde, dentre elas, o pedido para ampliação do atendimento emergencial; a atenção quanto a limpeza urbana; a revisão da implantação Sigrah e a distribuição de repelentes para famílias do CadÚnico.

Assista à íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater a situação da Dengue em BH - 3ª Reunião Ordinária - Comissão de Saúde e Saneamento