Comerciantes da Av. Abílio Machado sugerem criação de ‘baias’ de estacionamento
Citando exemplo da Pedro II, lojistas temem que faixa exclusiva inviabilize o comércio na via; execução da obra não tem data prevista
Foto: Abraão Bruck/CMBH
Projeto de implantação de faixa exclusiva para ônibus em ambos os lados da Av. Abílio Machado, na Região Noroeste da capital, impossibilitando o estacionamento de veículos, foi confirmado nesta quinta (7/3) em audiência pública da Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços. Para comerciantes e consumidores, entanto, o atual fluxo de ônibus na via, não justifica os prejuízos, demissões e fechamento de lojas num dos maiores e mais tradicionais centros de comércio regional da cidade, causando desemprego e redução na arrecadação do município. A Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) explicou que a priorização do transporte coletivo no local é imposta no Plano Diretor e que os estudos e o projeto já estão concluídos, mas não há data marcada para a intervenção. Para o autor do debate, Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB), a cidade precisa conciliar mobilidade e economia; ele pediu que, antes de bater o martelo, a Prefeitura se reúna com os afetados para discutir a real situação da via e possíveis soluções, como a criação de baias de estacionamento em locais em que o passeio é largo.
Preto Sacolão salientou que as diretrizes da cidade incluem a descentralização do comércio, reduzindo a necessidade de deslocamentos e de circulação na área central. Para que os empreendimentos migrem para os bairros, é necessário planejar uma boa estrutura para absorvê-los. Nesse contexto, as áreas de comércio regionais que já funcionam cumprem um papel importante para a cidade e não podem ser desprezadas. Embora a mobilidade e a priorização do transporte coletivo sejam questões fundamentais, é preciso considerar os impactos da supressão de estacionamentos. Comerciantes instalados há décadas na Abílio Machado, segundo o parlamentar, temem a inviabilização dos negócios e querem informações precisas sobre os planos da Prefeitura.
Braulio Lara (Novo), ponderou que, na discussão sobre polos de comércio, “não adianta a PBH achar que todo mundo vai usar transporte coletivo e bicicleta; se não tiver onde parar, ninguém vai”. A supressão total de vagas de estacionamento, segundo ele, pode “matar” uma configuração construída ao longo do tempo, a exemplo do que ocorreu com a implantação do corredor de ônibus na Av. Pedro II, que alterou o ecossistema e expulsou o comércio tradicional da via. “Tem que discutir antes, propor alternativas; o carro é o principal modal da cidade, ninguém vai às compras de ônibus”, afirmou. Ressaltando o comércio “pujante” da Abílio Machado, que abastece toda a região e reduziu o trânsito no Centro, Fernando Luiz (PSD) e o presidente da comissão, Wesley Moreira (PP), reforçaram que é preciso ouvir as demandas de todos os envolvidos antes de reconfigurar os espaços.
Busca de alternativas
Os comerciantes reclamaram da falta de diálogo da Prefeitura com os afetados antes de tomar medidas que impactarão diretamente a vida e o sustento das mais de 30 mil famílias que dependem do trabalho e dos empregos gerados, além das mais de 300 mil pessoas atendidas nos comércios e serviços tradicionais da Abílio Machado. “Só um dos edifícios tem 100 CNPJs!”. A dúvida sobre se e quando a mudança deve ocorrer os impede de assumir compromissos, decidir se investe, se contrata ou dispensa funcionários, se permanece ou se muda.
O trânsito no local, segundo eles, diminuiu muito com a abertura da Av. Tancredo Neves, que “puxou” 80% do fluxo de veículos, e de outras vias de acesso ao centro e ao Anel Rodoviário, e as retenções pontuais podem ser resolvidas com intervenções na circulação e sinalização. “A Abílio Machado precisa é de revitalização, arborização, recapeamento, estacionamento rotativo e travessias elevadas para maior conforto e segurança para o pedestre”, defenderam.
A categoria sugere que parte do tráfego dos ônibus poderia ser deslocada para vias paralelas. Mas, se o corredor for mesmo implantado na Abílio Machado, nos trechos em as calçadas têm até oito metros de largura poderiam ser criadas ‘baias’ de estacionamento, propuseram.
Decisão cabe à PBH
O supervisor de projetos viários da BHTrans, Ricardo Alves Godoy, explicou que as políticas nacional e municipal de Mobilidade Urbana estabelecem a priorização do transporte coletivo e dos deslocamentos a pé e de bicicleta. Em BH, o Plano Diretor (Lei 11.181/2019) definiu um “pacote” de 70 km de corredores onde a circulação de ônibus é mais representativa para implantação de Faixa Exclusiva, que inclui a Av. Abílio Machado. O gestor relatou outras medidas previstas no projeto, referentes a travessias de pedestres e fluidez do trânsito, como o recapeamento da via e a implantação de um rotor na Praça Paulo VI. A ciclovia inicialmente prevista não será implantada por falta de espaço.
Nos estudos, foi avaliada a possibilidade da criação de um ‘binário’ entre a Av. Abílio Machado com as Avenidas Ivaí e Brigadeiro Eduardo Gomes, mas a distância e as aclividades entre os corredores, que dificultariam o deslocamento dos usuários do transporte coletivo, inviabilizaram a proposta. Segundo o gestor, 22 a 26 linhas trafegam na via, e, como o sistema de transporte na cidade é diametral, os atrasos se refletem em outros bairros da cidade (esse ponto, segundo os comerciantes, não se aplica, já que 90% das linhas são intermunicipais). Sobre o uso das calçadas, o gestor explicou que o poder público não pode eliminar a parte pública para fazer estacionamento e jogar a circulação para a área privada (4m de afastamento frontal dos imóveis); “o espaço é finito, e temos que tomar decisões”.
Questionado sobre a previsão do início da execução das intervenções, Godoy explicou que cabe à BHTrans realizar os estudos e elaborar os projetos; implantar ou não, e quando, fica a cargo da Prefeitura, e da Sudecap, que licita a obra.
Encaminhamentos
Reiterando que o comércio, que move a economia da cidade e reverte grande parte dos ganhos em impostos, não pode ser deixado em segundo plano, Reinaldo Gomes reforçou que, conforme apontado pelos lojistas, a realidade da avenida mudou de uns anos para cá e, como ainda não há data para a implantação, os estudos e o projeto ainda podem ser atualizados e revistos, buscando alternativas para reduzir os impactos. Nesse sentido, além de requerer uma cópia do projeto para repassar à categoria, vai solicitar à Prefeitura a realização de uma reunião na comunidade para que o projeto seja apresentado presencialmente, esclarecido e debatido com os afetados. O parlamentar acredita que o prefeito Fuad Noman, pessoalmente, não deve estar por dentro da situação da Abílio Machado e talvez ainda haja tempo de obter uma revisão dos planos. “Já vi o Município voltar atrás antes, em 2016. Nem tudo está perdido”, encorajou.
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