Especialistas recomendaram outras técnicas para despoluição da lagoa
Em depoimento, técnicos da Fundação Christiano Ottoni disseram que biorremediação não deve parar, mas bacia precisa ser tratada

Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) - Pampulha, na manhã desta terça-feira (21/5), técnicos da Fundação Christiano Ottoni afirmaram que a biorremediação não deve parar, mas que a bacia precisa ser tratada. Outras técnicas para a despoluição da Lagoa da Pampulha deveriam ser consideradas, na opinião deles, dada a complexidade da bacia. Além do presidente da entidade, Benjamim Rodrigues de Menezes, os professores Nilo Nascimento e Alessandra Jeane foram ouvidos pela comissão. Sobre o grau de pureza da água, um dos índices que a fundação deveria analisar conforme contrato com a Prefeitura de Belo Horizonte, os pesquisadores disseram que houve ocasiões em que a classe 3, exigida na contratação, não foi obtida. Presidente e relator da CPI, Sérgio Fernando Pinho Tavares (MDB) e Braulio Lara (Novo) apontaram que as informações científicas produzidas pela fundação indicam que não há um caminho único para a despoluição da água, deixando clara a falta de efetividade integral de todos os parâmetros que eram objeto do contrato.
Os especialistas confirmaram que, em relatórios enviados à Prefeitura, ao menos 17 outras técnicas foram analisadas e teriam potencial para serem aplicadas, sendo uma delas o aprimoramento do sistema de coleta de esgotos e separação das águas fluviais destes. “Dez delas são técnicas que não têm ação direta no lago, mas na bacia. E grande parte dessas dez técnicas está em aplicação, mas tem um período de maturação de médio a longo prazo”, afirmou Nilo Nascimento.
Grau de pureza não alcançado
A Fundação Christiano Ottoni foi a executora de um contrato celebrado entre a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da Escola de Engenharia. A contratação previa, dentre outros pontos, serviços de consultoria em projetos e obras de engenharia, análises e pareceres, além de soluções alternativas e estudos diagnósticos. “Os gráficos estão lá (no relatório) e mostram os limites e quando foi que isso não foi atingido”, disse o professor acerca do não atingimento do grau de pureza da água (classe 3) previsto em contrato.
Não efetividade da biorremediação
O presidente da CPI, Sérgio Fernando Pinho Tavares, e o relator, Braulio Lara, questionaram por que a entidade recomendou em relatório que a aplicação da biorremediação fosse continuada, já que a medida não vem se mostrando efetiva. Os pesquisadores explicaram que a água presente na lagoa precisa ser tratada enquanto outras medidas que dizem respeito à bacia (córregos que irrigam a lagoa), e que são de médio e longo prazo, vão sendo tomadas. “O problema que ocorre na Pampulha é que, ao mesmo tempo que está sendo aplicado esse tratamento, continuamos recebendo nutrientes. É como se estivéssemos tratando um doente, mas ele está sendo submetido a viroses. Então, você não pode retirar aquele remédio. É basicamente isso. Acreditamos que (a biorremediação) é efetiva, sim”, afirmou Alessandra Jeane.
Braulio Lara destacou que a necessidade de utilização de mais de uma técnica para a efetiva despoluição da lagoa é apontada no relatório, mas que a Prefeitura estaria insistindo em utilizar apenas a biorremediação. “Ao ler o relatório, fica muito claro que estamos diante de informações técnicas e científicas que atestam que não há um caminho único. Não há efetividade integral de todos os parâmetros que eram objeto do contrato. E a Prefeitura insiste em tomar ações respaldadas nos relatórios dos senhores, mas eles acham que não vamos ler o relatório”, declarou.
Utilização de técnicas complementares
O relator também questionou se os professores tiveram retorno da PBH quanto às recomendações feitas em relatório, onde sugeriam a utilização de técnicas complementares. A professora Alessandra disse que não teve mais contato após o encerramento do contrato, mas sabia que ao menos dois procedimentos foram realizados. “Nossa missão foi avaliar uma técnica e avaliamos. Algumas das providências que sugerimos estão sendo tomadas, como a retirada de sedimento do fundo da lagoa e a abertura das comportas para permitir o fluxo da água profunda (mais poluída). Há uma série de outras coisas que aconselhamos, baseadas na literatura, e eu não sei, porque não tive mais contato”, afirmou.
Braulio Lara lembrou aos pesquisadores os valores já consumidos para a despoluição da lagoa, cerca de R$ 1,4 bilhão, e novamente questionou o uso de uma única técnica. “Concorda que se não bloquear a entrada de poluentes não teremos uma lagoa limpa?”, indagou. A professora Alessandra Jeane disse consentir em parte. “Concordamos. Mas isso não pode paralisar o que está sendo feito hoje, porque senão a condição vai piorar muito, e demandas como o tratamento do esgoto são obras com custos altos e longos prazos”, esclareceu.
Assista à íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional