DIREITO À MOBILIDADE

Coletivos de ciclistas pedem mais segurança e respeito no trânsito em BH

Mortes recentes foram lembradas e retorno de obras da ciclovia na Afonso Pena foi cobrado. PBH recorreu de decisão de suspensão

quarta-feira, 26 Junho, 2024 - 16:15

Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH

As dificuldades que os ciclistas enfrentam diariamente ao transitar pela cidade foram trazidas em audiência pública realizada pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, nesta terça-feira (26/6). No encontro, foram lembradas as mortes recentes dos ciclistas Fabrício Almeida e Hegler Quirino, ocorridas neste ano de 2024. Também houve cobrança quanto ao retorno imediato das obras da ciclovia da Avenida Afonso Pena, suspensa por decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). A Superintendência de Mobilidade do Município (Sumob) afirmou que a obra é regular, prevista nos Planos de Mobilidade e Diretor, e que a Prefeitura já recorreu da decisão de suspensão. Já a Guarda Civil Municipal informou que fiscalizações continuam sendo feitas e que, só nos últimos três anos, mais de 600 multas foram aplicadas por infrações relacionadas às ciclovias, como estacionamento, parada e trânsito irregular de veículos nos locais. Entre os encaminhamentos estão o pedido por campanhas de educação permanentes e o acompanhamento da execução orçamentária relativa ao tema.

Respeito e políticas públicas permanentes

Em abril deste ano, o ciclista Fabrício Almeida morreu durante um sinistro de trânsito que envolveu um ônibus na Rua Guarani, no centro da capital. A irmã, Fabíola Almeida, diz que ainda busca respostas sobre o que aconteceu e não descarta judicializar a questão, uma vez que o artista plástico de 38 anos estava sobre uma faixa de pedestre. "A bicicleta não é só entretenimento, mas trabalho também, como no caso dos entregadores. Aguardamos o laudo da Polícia Civil e acredito que a prefeitura tenha responsabilidade, pois ele foi atropelado por um ônibus e um caminhão da SLU, que não estava sinalizado e atrapalhava sua visibilidade", disse.

Vinícius Mundim, do coletivo Inconfidentes Pedalantes, cobrou maior treinamento dos motoristas profissionais, especialmente os que dirigem ônibus coletivo. O ciclista contou que já foi apresentada à PBH uma proposta para um curso a ser aplicado aos condutores, mas o Município se recusa a implantar. “Talvez se os motoristas tivessem recebido esse treinamento, o Fabrício não teria morrido. BH não tem uma política de mobilidade urbana. Precisamos de políticas públicas que sejam permanentes, políticas de estado e não de governo”, afirmou.

Outra morte registrada no trânsito foi a do ciclista Hegler Quirino. O jovem de 32 anos perdeu o controle de sua bicicleta e foi arremessado dentro do Rio Arrudas ao bater em uma mureta de proteção. O acidente ocorreu durante o Carnaval, numa dispersão do Bloco da Bicicletinha. Integrantes do coletivo disseram que o local tem uma mureta baixa para quem está sobre a bike. Joca, um dos integrantes do bloco, criticou a violência diária enfrentada pelos ciclistas. "A cidade que deveria nos abraçar está nos enxotando, nos jogando aos buracos e às muretas. Pedimos que a Prefeitura faça a readequação do trecho onde ocorreu o acidente e conscientize os motoristas”, declarou.

Obra regular e notificações da Guarda

Liliane Hermom, da Superintendência de Mobilidade do Município, falou sobre a ciclovia da Afonso Pena, ressaltando que a obra é regular e que o Município já recorreu da decisão de suspensão. A arquiteta e urbanista disse que a ação civil pública impetrada pelo Ministério Público questiona a construção da ciclovia em ao menos cinco pontos, dentre eles, a previsão de supressão de árvores, a necessidade de licenciamento ambiental e a possibilidade de que a estrutura aumente o número de acidentes com ciclistas. “As peças de argumentação foram muito bem embasadas pelos órgãos, mostrando que não há previsão para supressão de árvores, apenas a transplantação de uma árvore; que a obra não necessita de licenciamento, que ela não diminuirá as faixas de trânsito, já que estará sendo implantada no canteiro central, e que ela trará segurança aos ciclistas”, afirmou.

O inspetor Marinho, da Guarda Civil Municipal, colocou a corporação à disposição para a criação de ações conjuntas, como blitzes e campanhas educativas, e disse que as ações de fiscalização são constantes. O agente apresentou dados dos últimos três anos (2022, 2023 e 2024) e, no período, foram aplicadas 398 autuações por estacionamento de veículos sobre ciclovias ou ciclofaixas, 22 autuações por parada irregular de veículos sobre os locais e 270 carros foram multados por transitar sobre as ciclovias e ciclofaixas.

Encaminhamentos

Antes de encerrar, Cida Falabella (Psol), que solicitou a audiência pública, disse que diversos encaminhamentos serão feitos, dentre eles, o pedido por campanhas permanentes de educação para termos uma cidade que abrace os ciclistas, a possibilidade de implantação de cursos de capacitação para motoristas profissionais, e a solicitação para que a Central de Operações da BHTrans disponibilize imagens de sinistros envolvendo ônibus coletivos. Além disso, foi ressaltada a importância de garantir celeridade no retorno das obras da ciclovia da Afonso Pena e de acompanhar a execução dos recursos previstos para o PlanMob na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Assista à íntegra da reunião

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública - Finalidade: Discutir o uso da bicicleta para promoção do lazer e do esporte no município