Defesa dos animais

Ativistas cobram tratamento para gatos em situação de rua com esporotricose

​Atualmente, PBH só acolhe gatos tutelados. Osvaldo Lopes propõe criação de comitê de enfrentamento à zoonose

segunda-feira, 7 Julho, 2025 - 18:45
imagem dos vereadores e demais participantes de audiência pública

Fotos: Tatiana Francisca/CMBH

A Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana discutiu em audiência realizada na tarde desta segunda-feira (7/7) a necessidade de medidas mais efetivas para o combate à esporotricose, com foco nos gatos em situação de rua. A esporotricose é uma doença fúngica que pode afetar animais e humanos, cuja transmissão ocorre por arranhões ou mordidas de animais contaminados ou diretamente do ambiente, sendo mais comum a contaminação felina. Atualmente, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMM) oferece tratamento gratuito para felinos doentes, mas somente se forem tutelados. Osvaldo Lopes (Republicanos), requerente da reunião, propôs a criação de um Comitê Municipal Intersetorial de Enfrentamento à Esporotricose, que deve ser composto por representantes do poder público, entidades de proteção animal, conselhos de classe e sociedade civil. Participantes do debate enfatizaram a necessidade de unir forças para que ações de combate à doença sejam efetivas, e cobraram mais apoio do poder público a ativistas da causa animal.

Uma só saúde

A vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-MG), Myrian Kátia Teixeira, destacou que a primeira transmissão zoonótica da esporotricose registrada no Brasil ocorreu em 1955, no Rio de Janeiro, e hoje ocorre praticamente em todo o Brasil. Segundo ela, alguns motivos para o crescimento da esporotricose são a falta de exigência da notificação compulsória em muitos municípios; a ausência de um programa abrangente de contenção da esporotricose felina no país; a dificuldade no manejo com os animais doentes; o desconhecimento de medidas de controle pela população e mazelas socioeconômicas.

Myrian Teixeira enfatizou a necessidade da abordagem “uma só saúde”, apontando que, para controlar a disseminação da doença entre seres humanos e também no meio ambiente, é preciso tratar os gatos infectados. Ela destacou que os felinos não podem ser culpados e tratados como 'vilões', já que são apenas vítimas de negligência.

Tratamento e desafios

A esporotricose tem cura, mas o tratamento, principalmente no caso de felinos, pode levar meses e necessita de medicação diária e acompanhamento. Por conta disso, e por não ter uma estrutura que possa assumir a internação e domicílio de animais após o tratamento, é que o Complexo Público Veterinário de Belo Horizonte (CPVBH), sob responsabilidade da SMM, só realiza atendimento de gatos tutelados, conforme esclareceu a médica veterinária Natália Malaguti. A representante do Executivo municipal explicou que a pasta reconhece que existe um surto não controlado, que tem trabalhado para ampliar os atendimentos mensais, mas que, no momento, a figura do tutor é necessária para o trabalho.

Para Osvaldo Lopes, essa falta de estrutura do Executivo preocupa, já que Belo Horizonte tem 81 parques municipais e, segundo o vereador, todos têm "colônias de gatos", com pelo menos um felino com esporotricose em cada.

Vice-presidente do Grupo de Resposta a Animais em Desastres Brasil (Grad) e diretora técnica do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Vânia Plaza Nunes afirmou que, pela sua experiência de atuação, o poder público não se movimenta o suficiente no combate à esporotricose felina.

“ (...) há falta de atenção e adoção de medidas que, muitas vezes, nem são tão complexas quando tomadas no momento oportuno, e que poderiam prevenir a ocorrência grave do alastramento dessa doença que tem sido desafiadora para todos nós. O que nós temos visto é,  muitas vezes, a omissão daqueles que podem realmente contribuir”, declarou Vânia Nunes.

Por outro lado, de acordo com Nunes, os resultados positivos surgem a partir de profissionais que se unem, seja na pesquisa científica para achar alternativas de tratamento, ou na sensibilização através de informação e comunicação para a comunidade. Ela reforçou ainda a importância da castração dos animais para prevenir o espalhamento da doença, visto que o comportamento reprodutivo dos gatos acentua o risco de contaminação por arranhões e mordidas.

A diretora de zoonose da Secretaria Municipal de Saúde, Aline Bezerra Virginio Nunes, apontou que, desde 2005, Belo Horizonte tem um programa de castração de cães e gatos gratuito, com seis centros cirúrgicos e uma unidade móvel. Além disso, os centros têm um dia reservado para atendimentos especiais, sendo um deles voltado a felinos de colônia. Nunes esclareceu que o diagnóstico da esporotricose, atualmente, é feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas que em agosto deste ano começa a construção de um novo laboratório, e que o Município vai assumir essa etapa. De acordo com a representante do Executivo, existe também um desejo de reformular os centros cirúrgicos para oferecerem, além de castrações, vacinas, coleta de esporos e acompanhamento pré e pós cirúrgico.

Conscientização

Outro ponto enfatizado no enfrentamento à esporotricose foi a conscientização da população em relação à doença. Victor Melo, fundador da empresa “Pega pra castrar”, com experiência no manejo de gatos de vida livre, disse que é muito comum ouvir relatos de pessoas que resgataram gatos com “machucados de briga” que na verdade são lesões típicas da contaminação pelo fungo. Para ele, o maior risco da transmissão para humanos está no momento em que pessoas, sem conhecimento da condição, tentam manejar os animais e acabam levando arranhões e mordidas.

Vânia Plaza Nunes também acentuou a importância de “ter um serviço permanente de informação, comunicação e educação” sobre o assunto. Segundo ela, isso ajudaria, inclusive, nas notificações que são necessárias para a busca ativa de animais infectados em áreas com maior incidência. Além disso, a conscientização também poderia desmistificar "ideias equivocadas" de que os gatos são causadores da doença, prevenindo agressões a esses animais. 

Instituição de Comitê

Osvaldo Lopes reiterou que irá formar o Comitê Municipal Intersetorial de Enfrentamento à Esporotricose e registrou entre os presentes os interessados em compor o grupo.

“A importância do comitê é que ele poderá acompanhar dados, propor ações, campanhas educativas e buscar soluções estruturais para que Belo Horizonte enfrente essa doença com responsabilidade e solidariedade”, declarou o vereador.

O parlamentar também disse que toda a sua emenda impositiva, a partir de 2026, será destinada à causa animal, e propôs uma articulação com o Executivo para viabilizar “algo mais concreto” para receber animais com esporotricose, já se comprometendo a encaminhar sua emenda para isso. Lopes também se dispôs a auxiliar com recursos uma pesquisa conduzida pelo professor da Faculdade de Farmácia da UFMG, Daniel de Assis Santos, que está criando uma nova droga mais rápida e eficaz no tratamento da esporotricose.

A coordenadora do curso de Veterinária da Faculdade Newton Paiva Wyden, Fabiana Alves, que também representou a reitora da instituição, Paula Cambraia, disse que a faculdade pode ajudar na educação sobre o assunto, com campanhas de conscientização e capacitação de estudantes, bem como oferecer atendimentos sociais na clínica veterinária. Ela também informou que, em setembro, acontecerá um simpósio voltado para felinos na faculdade, e que dentro das discussões poderia incluir os resultados alcançados até lá, dentro das medidas tomadas contra a esporotricose.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater sobre surto de esporotricose em gatos no município de Belo Horizonte. 20ª Reunião Ordinária - Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana.

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