Debate sobre violência contra mulheres e crianças continua em segundo encontro
Com novos convidados, Comissão de Mulheres quer aprofundar discussão sobre o tema e ampliar rede de proteção
Foto: Marcelo Casal/Agência Brasil
Dando sequência a debate iniciado no dia 30 de abril, a Comissão de Mulheres realiza, nesta sexta-feira (7/5), às 10h, no Plenário Amynthas de Barros, nova audiência pública com o módulo II do debate “Ameaça e violência contra mulheres e crianças em tempos de pandemia”. O encontro, que pretende contar com a presença remota de representantes da sociedade civil e do poder público, vai tratar dos efeitos do isolamento social imposto pela covid-19 na vida de mulheres, crianças e adolescentes que sofrem com violências e agressões. O objetivo principal é jogar luz nessa face perturbadora da pandemia que é o aumento crescente da violência contra mulheres e crianças e a diminuição de casos registrados presencialmente, além de propor estratégias para reforçar a rede de proteção desses indivíduos. A reunião será transmitida ao vivo pelo Portal CMBH e a população também poderá participar enviando perguntas e/ou sugestões, por meio de formulário digital já disponível.
Incluído nas ações do Maio Laranja – uma campanha de proteção a exploração sexual de crianças e adolescentes – o segundo debate promovido pela comissão, por solicitação da vereadora Flávia Borja (Avante), tem entre os convidados a Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, a Rede Nacional da Infância Protegida, a Procuradoria Regional da República, a Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e a 1ª CIA de Prevenção à Violência Doméstica Contra Mulheres da Polícia Militar.
Violência e depressão
Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram um significativo aumento da violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes durante a pandemia. Esse aumento estaria diretamente ligado ao cenário de fechamento das escolas e isolamento social. Sobre as mulheres, em março, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais revelou um crescimento de 50,15% na quantidade de ocorrências sobre agressões contra a mulher no espaço familiar quando comparados aos meses de janeiro de 2020 e de 2021 – os números subiram de 1.659 para 2.491.
Segundo o projeto Justiceiras, criado pelo Instituto Bem Querer Mulher para dar orientação jurídica, psicológica e socioassistencial a mulheres vítimas de violência, os casos de violência doméstica duplicaram durante o período da pandemia. Conforme a entidade, em 2021, a quantidade de denúncias saiu de 340 casos por mês para 658 denúncias em março. O levantamento mostra ainda que 35% das mulheres atendidas moram com o suspeito. Em 51% dos casos, o agressor é o atual companheiro e em 48%, um ex-namorado ou marido.
Toda esta violência atinge também as crianças. Apesar de os dados relativos a 2020 ainda serem preliminares, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) informou que, segundo especialistas consultados, o isolamento social, medida essencial para conter a pandemia do novo coronavírus, resultou em aumento da exposição das crianças a uma maior incidência de violência doméstica, o que, consequentemente, elevou também os casos letais. Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do Departamento Científico de Segurança da SBP, Marco Gama, afirmou que o estresse causado pela pandemia aumentou a probabilidade de as crianças serem vítimas de violência, além de causar prejuízos do ponto de vista da saúde física e mental.
Durante o Módulo I, debate realizado na semana passada, a pediatra Filomena Camilo do Vale afirmou que nos grandes centros urbanos, crianças e adolescentes ficam confinados em apartamentos, sem contato com outras pessoas e sem atividade física, o que tem gerado um comportamento inadequado no qual as crianças têm medo de tudo. Segundo ela, a situação é agravada pela ausência da convivência escolar que propicia não só a socialização da criança e do adolescente, mas também um acompanhamento diário de professores.
Para o presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil, Rodrigo Carneiro Campos, que também participou do primeiro momento do debate, a violência infantil é um fenômeno mundial e negligenciar situações que geram bem-estar para crianças e adolescentes também é violência. O neuropediatra afirmou ainda que estamos vivendo uma epidemia de transtornos comportamentais na infância e na adolescência e que isso tem a ver com o ambiente emocional inadequado em que estas crianças vivem.
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