Vizinhos reivindicam direito de ir e vir, limpeza e fiscalização em dias de jogo
Interdição de ruas com muita antecedência, comércio e estacionamento irregular, fogos, urina e lixo nas calçadas afetam moradores
Foto: Abraão Bruck / CMBH
Moradores do entorno da Arena Independência, no Bairro Horto, estiveram na Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo nesta quinta (9/6) para expor os muitos problemas que enfrentam em dias de jogos e eventos. Impossibilidade de circular e estacionar por período maior que o necessário, atraso na coleta de lixo, foodtrucks e ambulantes em situação irregular, pessoas urinando e bombas na frente das casas e prédios desrespeitam direitos e assustam moradores. O coordenador da Regional Leste e representantes da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Guarda Municipal e BHTrans ouviram as queixas e demandas da comunidade, que reconhece os serviços prestados, mas aponta falhas recorrentes e pede mais fiscalização. Um dos membros da nova gestão da Arena, devolvida ao América Futebol Clube, concordou em ceder o espaço para a realização de uma reunião entre as partes no próprio local, sugerida por Wilsinho da Tabu (PP), que defendeu a soma de esforços na busca de soluções que atendam a todos.
Wilsinho da Tabu explicou que requereu a audiência a pedido da Associação dos Amigos e Moradores do Entorno do Estádio Independência e Adjacências (Aameia), segundo a qual os impactos dos eventos que acontecem na Arena afetam diretamente a vida das pessoas e da comunidade, causando transtornos e prejuízos. O encontro, segundo ele, não tem objetivo de encontrar culpados e desmerecer o trabalho dos órgãos envolvidos, e sim de promover a escuta dos afetados pelos gestores, que muitas vezes desconhecem as experiências de quem testemunha de perto o descumprimento de normas e as condutas irregulares que perturbam o sossego e até mesmo a saúde de quem mora perto do estádio. A partir da exposição dos fatos e do diálogo, ele acredita que é possível evitar ou amenizar os problemas e atender as demandas da melhor forma possível.
André Orsini, da Aameia, disse que os principais impactos sofridos pelos moradores são relacionados ao trânsito, à limpeza e à segurança, alvos de muitas queixas levadas à associação. O líder comunitário enfatizou que as vias do entorno da Arena são estreitas, com muitos prédios e comércios, e em dias de grandes eventos a circulação e o estacionamento são proibidos. Porém, em vez da restrição ser aplicada apenas por duas ou três horas antes do início e do fim, como era antes, desde a reabertura do estádio as ruas estão sendo fechadas a partir da noite anterior ou até a manhã seguinte, dependendo do horário do jogo ou show, impedindo os moradores de estacionar em frente de casa ou receber visitas. Segundo ele, pessoas já foram multadas às 6h, 7h e até à meia-noite, muitas horas antes ou depois do evento.
Direitos desrespeitados
Em razão da demora no recolhimento do lixo, que já chegou a até 20 horas, muitas vezes as embalagens são rasgadas por animais e pessoas em situação de rua, em busca de alimento ou materiais aproveitáveis, e os resíduos ficam espalhados pela calçadas e em frente às residências, tornando-se foco de doenças e pondo em risco a saúde de moradores e transeuntes. André destacou que muitas das normas acordadas por ocasião da reforma do estádio não vêm sendo mais cumpridas, exigindo a atenção e a revisão do planejamento pelos órgãos responsáveis. Adelmo e Vladimir, membros da Aameia, e as vizinhas Aurelice e Edna reiteraram as queixas e reclamaram dos ambulantes que vendem alimentos e dos foodtrucks, que além de deixar “montões” de lixo nas calçadas, estacionam em esquinas e na frente das garagens, às vezes por 24 horas, agravando o cerceamento do direito de ir e vir.
Além da “bagunbça”, foram relatadas situações desagradáveis como pessoas urinando na porta de casas, com as partes íntimas expostas, sem qualquer pudor ou respeito pelas famílias. A responsabilidade de instalar banheiros químicos, que é do mandante do jogo, não é cumprida pelos clubes, e a gestão da Arena não cobra deles. A explosão de bombas perto ou até dentro de prédios perturba o sossego e assusta pessoas e animais. Edna chorou ao mencionar o desespero de mães e pais que têm crianças autistas e com deficiências mentais, que sofrem crises por causa do barulho e não podem ser tirados de casa; um senhor cardíaco, portador de marcapasso, morreu em decorrência do susto. Prédios antigos, segundo ela, armazenam gás próximo à entrada e, em caso de incêndio, os idosos terão dificuldade de escapar.
Órgãos públicos e gestor do estádio
As queixas sobre trânsito, limpeza, ambulantes sem licença e até mesmo bares improvisados em garagens e calçadas foram ouvidas pelo coordenador da Regional Leste, José Henrique, e pelos representantes da SLU, Érica Rezende, da Guarda Municipal, Júlio César, e da BHTrans, Robson Santos e Marcus Vinícius. Todos afirmaram que os respectivos órgãos cumprem os protocolos e normas de operação para grandes eventos, mas que podem ocorrer falhas pontuais. O superintendente da Guarda assegurou que a fiscalização do trânsito é feita regularmente, em ações conjuntas com a Polícia Militar e a Subsecretaria de Fiscalização. Eles garantiram estar atentos às denúncias e vão analisar as questões a fim de buscar o aprimoramento dos serviços.
Ex-gerente de Operação e Segurança da Arena Independência e convidado a continuar pelo América Futebol Clube, proprietário e novo gestor do estádio, Helder Gurgel assegurou que a gestão “fez tudo que foi possível” e está sempre em busca de novas soluções para atender as demandas e minimizar os impactos causados à vizinhança. Solicitações referentes à sinalização de estacionamentos, através do Ministério Público, foram atendidas com o empenho da BHTrans, da Regiional e da Arena, que, juntamente com os clubes, forneceu recursos para a efetivação da medida. O gestor afirmou ainda que a sinalização que impede a entrada de veículos não autorizados é colocada em todos os jogos, mas muitas vezes é retirada por frequentadores ou foodtrucks para acessar o estádio. Gurgel concordou em ceder espaço na Arena para reunião entre getores e comunidade e declarou-se à disposição para contribuir.
Reunião na Arena
Hebert, morador da Rua Pitangui, afirmou que os problemas não ocorrem mais e os serviços estão sendo prestados de forma eficiente pelo poder público. Os relatos contraditórios, segundo a associação, indicam que os problemas e os serviços nem sempre são percebidos da mesma forma nos diferentes pontos do bairro, afetados em maior ou menor grau. André ressaltou que os testemunhos divergentes não significam que algum morador esteja equivocado ou mentindo, como provam os vídeos exibidos na audiência; e que o empenho da entidade visa a satisfazer a comunidade como um todo, e não apenas uma parte. Wilsinho citou o pedido de um comerciante para que a via onde fica seu negócio não seja mais fechada, demonstrando que há perspectivas diferentes, o que reforça a necessidade de buscar o equilíbrio e o consenso possíveis.
Muitos dos problemas apontados, antigos e novos, poderiam ser resolvidos pela devida fiscalização, segundo os moradores, a exemplo da circulação e estacionamento irregular de veículos e os ambulantes e bares não licenciados. Sem excluir a escuta dos diretamente afetados, o vereador ponderou que a avaliação da pertinência e viabilidade das medidas cabe aos órgãos responsáveis, que consideram elementos técnicos e operacionais. Ele lembrou que a cidade está sempre em movimento e de tempos em tempos é preciso rever os planejamentos sobre os diferentes aspectos. Para detalhar e aprofundar as questões apresentadas, das mais pontuais às mais amplas, o parlamentar sugeriu uma nova reunião entre todas as partes envolvidas, no próprio estádio. Obtida a autorização dos gestores, já anunciada por Gurgel, a data será agendada e comunicada oportunamente.
Superintendência de Comunicação Institucional