Praticantes e motociclistas defenderam criação de "pipódromos" na cidade
Sugestão foi bem acolhida em audiência; vereadores solicitaram aprovação de PL e indicação de áreas adequadas nas regionais
Foto: Abraão Bruck/CMBH
O alto número de acidentes provocados pelo uso de cerol e “linha chilena”, especialmente nesta época do ano, que resultam em cortes profundos, mutilações e até mesmo na morte de motoqueiros, ciclistas e pedestres foi lamentada pelos participantes de audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, realizada nesta quarta (19/7). Associações de motoboys e de “pipeiros” apresentaram suas queixas e reivindicações e concordaram com a delimitação de espaços para a prática da atividade, reconhecida e valorizada como lazer e esporte em diversas partes do mundo. Além de apoiar um projeto de lei que propõe a medida, os vereadores solicitaram colaboração na busca de áreas adequadas nas nove regionais da cidade.
Um dos requerentes da audiência, Catatau da Itatiaia (PSDC) apontou os diversos aspectos positivos e até mesmo seu gosto pessoal pela prática de soltar papagaio, que hoje ensina aos netos. A utilização do cerol (vidro moído) e da chamada “linha chilena”, cerca de dez vezes mais cortante, no entanto, foi veementemente condenada pelo parlamentar, que citou inúmeros casos de ferimentos graves e até mesmo mortes causadas pelo atrito dessas linhas ao atravessar vias púbicas e atingir quem está passando. Segundo o parlamentar, entre maio e agosto, os ferimentos por linhas de pipa representam 89% dos casos atendidos no Hospital João XXIII, oriundos principalmente das regiões Leste e Nordeste da capital.
Catatau lembrou a existência de lei estadual proibindo a prática, que sujeita o infrator a multas e pena de três meses a um ano de prisão, e propôs o endurecimento da legislação e das ações de combate ao uso desses produtos, por meio da fiscalização em pontos de venda e de usuários durante a prática. Nesse ponto, um motoboy presente comentou que o cerol pode ser feito em casa, o que torna insuficiente a restrição aos comerciantes.
Os integrantes da Comissão de Saúde e Saneamento Flávio dos Santos (PTN), Cláudio da Drogaria Duarte (PMN) e Hélio da Farmácia (PHS), que também assinam a autoria da audiência, juntamente com os vereadores Pedrão do Depósito (PPS) e Irlan Melo (PR), reforçaram as palavras de Catatau e se disponibilizaram a colaborar na busca de soluções conjuntas que beneficiem todos os envolvidos, garantindo a segurança da população sem condenar à proibição uma atividade de lazer tão tradicional, que faz parte da cultura mineira e brasileira, representando ainda uma forma de lazer acessível e democrática para as crianças e adolescentes menos favorecidos.
Conscientização e denúncia
Representante da Secretaria de Segurança Urbana e Patrimonial e um agente da Guarda Municipal relataram as operações que vêm sendo realizadas pela corporação na cidade, de caráter educativo e preventivo, que incluem a distribuição de cartilhas e antenas a usuários e motociclistas, nas quais também já foram apreendidos milhares de metros dessas linhas cortantes. Segundo eles, o objetivo não é coibir a tradicional brincadeira, e sim garantir que seja praticada sem riscos para terceiros e para os próprios praticantes.
Representando a Secretária Municipal de Saúde, Charles Carvalho e Marcelo Marin confirmaram o alto índice de acidentes e sua extrema gravidade, garantiram a retaguarda do município no atendimento às vítimas e sugeriram a adoção de material cortante nas antenas de proteção, evitando que a linha escorregue por sobre elas e atinja o condutor. Em nome da Secretaria de Serviços Urbanos, Imaculada Queiroz confirmou a intensificação da fiscalização nessa época do ano.
Os participantes lembraram ainda os outros riscos a que os usuários dessas linhas se expõem, além dos prejuízos causados a terceiros, citando casos de crianças que mutilam os próprios dedos, sofrem quedas de lajes e barrancos ou choques na fiação elétrica, o que torna ainda mais importante chamar a atenção de pais, parentes, professores, vizinhos e autoridades, no intuito de evitar tragédias. “É um esforço que deve ser feito por toda a sociedade, pois amanhã a vítima pode ser um familiar ou qualquer um de nós”, alertou, reforçando o clamor dos vereadores.
Motociclistas pedem providências
Dirigentes e integrantes da Associação dos Motoboys e de Motofretistas, alguns acompanhados por familiares, compareceram em grande número à audiência com a finalidade de relatar tragédias e situações de risco vividas ou testemunhadas por eles e por colegas, lamentando a omissão da sociedade e a irresponsabilidade de parentes que não dão a atenção devida a um problema tão grave. Segundo Rogério Lara e Alex Brant, que representaram as categorias, a própria ação dos agentes de segurança no sentido de coibir o uso das “linhas assassinas” é repudiada pelas famílias e comunidades, que os acusam de “perseguir crianças” em vez de prender os verdadeiros criminosos. Essa mentalidade e atitude, segundo eles, dificulta bastante a tarefa de conscientizar sobre os riscos da prática.
Defendendo a proibição da prática em via pública, e sua restrição a áreas adequadas e autorizadas, Catatau comunicou aos presentes a existência de um projeto de lei em tramitação na Casa – PL 271/17, apresentado por Irlan Melo (PR) – que propõe a criação de “pipódromos” em todas as regionais da capital, ou seja, espaços amplos destinados exclusivamente à prática da atividade, que não ofereçam riscos aos transeuntes, e conclamou os colegas a aprovarem a proposta, adotada com sucesso em outros municípios.
Praticantes defendem “pipódromos”
Tradição cultural no Brasil, em Minas Gerais e em Belo Horizonte, a prática de soltar pipas (ou papagaios, na linguagem local) é uma das mais antigas e conhecidas formas de lazer por crianças, jovens e adultos em diversas partes do país e do mundo. Organizados em associação, “pipeiros” de Belo Horizonte e Região Metropolitana reivindicam a destinação de espaços adequados para a prática, que classificam como “saudável” e “esportiva”, sendo inclusive objeto de festivais, torneios e premiações ao redor do mundo. Afirmando a necessidade de brincar com responsabilidade, a categoria foi unânime em condenar a prática irresponsável e inadequada em ruas, praças e margens de rodovias, onde normalmente ocorrem essas tragédias. Muitos dos pipeiros presentes declararam ser também motoboys ou possuírem parentes atuando na área.
Como exemplo de sucesso na conciliação de interesses, foi mencionada a cidade de Manaus, onde a implantação de pipódromos zerou o número de acidentes. Reivindicando a liberação das linhas cortantes em lugares previamente autorizados, dentro de critérios específicos, eles negaram que a medida traga custos ao município e se prontificaram a cuidar da conservação dessas áreas, além de promover e organizar torneios e outros eventos. Alguns mencionaram ainda o trabalho social realizado, retirando crianças das ruas e dando oportunidades a pequenos comerciantes.
“Tiro ao alvo”
Os diretores Cleuber Faria e Rosânia Garcia, além do advogado e diversos membros da Associação de Pipeiros de MG, que tiveram a oportunidade de se manifestar, relataram as dificuldades encontradas pelos entusiastas da prática, que viajam muitos quilômetros, sobem morros e atravessam matagais para soltar seus papagaios com segurança e sem pôr em risco a integridade de terceiros. A reivindicação deles, apresentada aos vereadores, é que sejam delimitadas áreas em cujos limites seja permitida a utilização dessas “linhas proibidas” que, segundo eles, é essencial ao desempenho lúdico e esportivo da atividade. “O tiro ao alvo também é uma prática perigosa e nem por isso deixa de ser praticada, porém tem locais adequados”, exemplificou um dos pipeiros.
Parabenizando-se mutuamente pela mobilização em defesa de seus direitos e interesses, as duas categorias concordaram com a instituição dos pipódromos e foram convocadas pelos vereadores a apontar e indicar possíveis áreas adequadas para a prática, bem como as áreas de maior risco. Também foi unânime a condenação do uso irregular das linhas cortantes, em locais de fluxo de pessoas ou instalações elétricas, que levam a sociedade a discriminar e repudiar todos os praticantes do esporte. “Nós não somos criminosos. Se alguém estiver utilizando em local não autorizado, deve ir para a cadeia!”, afirmou Cleuber, sendo muito aplaudido pelos presentes.
Novas reuniões
Satisfeito com o resultado do debate, no qual todos puderam se expressar, denunciar, reivindicar e defender seus posicionamentos, Catatau garantiu que o assunto não foi encerrado na reunião. Segundo ele, além da possibilidade de entrar em contato com os vereadores em seus gabinetes, novos encontros serão agendados para receber sugestões de áreas adequadas, analisá-las e discuti-las com as partes interessadas e com o poder público municipal, além de acompanhar sua implementação. Os vereadores também conclamaram toda a sociedade a colaborar com as forças de segurança em sua ação de coibir o uso da “linha assassina” nas vias públicas ou próximo a elas, denunciando e apoiando as ações preventivas.
Superintendência de Comunicação Institucional
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