ESTUDANTES SEM AULA

Quase três mil crianças e adolescentes ainda estão sem escola em BH

Estado e PBH não compareceram à audiência. Ministério Público afirma que caso situação permaneça, ação individual deve ser ajuizada

quinta-feira, 12 Março, 2020 - 15:45

Foto: Divulgação/CMBH

“Estamos na iminência de ajuizar uma ação individual (em desfavor do Município e do Estado) para cada aluno fora da sala de aula”. A declaração é da Promotora de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), e foi dada durante audiência pública que debateu o entrave entre a Prefeitura de BH e o Estado de Minas Gerais na efetivação de matrículas de crianças e adolescentes nas redes municipal e estadual de educação para o ano de 2020. O encontro foi realizado na manhã desta quinta-feira, (12/3), no âmbito da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, por solicitação dos vereadores Cida Falabella (Psol) e Arnaldo Godoy (PT). A Prefeitura e o Estado não enviaram representantes para o debate. Além dos vereadores requerentes, participaram da audiência Gilson Reis (PCdoB) e Pedro Patrus (PT); a deputada Beatriz Cerqueira (PT), além de representantes do MPMG, do Conselho Municipal de Educação, e de entidades sindicais e de pais, ligados à educação.

Ajuizamento de ação

Para a promotora de justiça do MP, Nívea Mônica da Silva, que considerou uma “lástima” a ausência do Poder Executivo na audiência pública, o ajuizamento de uma ação de responsabilidade por cada uma das 2.715 crianças e adolescentes que não conseguiram se matricular em escolas do município pode acontecer nas próximas semanas. Segundo a promotora, o Ministério Público tomou conhecimento dos fatos no último dia 10 de fevereiro, e em 18 do mesmo mês impetrou com uma ação na Vara da Criança e do Adolescente, sendo logo identificado que os problemas não eram só na Capital, mas em várias cidades do Estado.

Segundo Nívea, o MP já solicitou à PBH e ao Estado o quadro comparativo de vagas dos anos de 2019 e 2020 para entender o que aconteceu, para então apurar as responsabilidades. Para a promotora, não é possível que as famílias fiquem com o ônus desta quebra de diálogo entre Município e governo do Estado. “Estão sendo buscadas soluções mais imediatas, mas o prazo é até a próxima semana, senão iremos entrar com ações individuais para garantir a matrícula de cada uma destas crianças”, assegurou.

Informatização

Segundo a deputada Beatriz Cerqueira, que disse acompanhar a questão desde o final do ano passado, o processo de organização da matrícula na rede estadual foi construído de forma unilaretal, com pouca ou nenhuma divulgação e o resultado foi um enorme dano para as famílias. “Deu tudo errado, porque as pessoas que precisavam não conseguiram, e para a secretaria foi ótimo, porque ela definiu para onde o aluno irá”, contou a deputada, que acredita que a mudança no sistema se deve ao contínuo processo de abandono do Estado, em relação à garantia do ensino fundamental.

Reforçando esta falta de diálogo com a rede, Paulo Henrique Fonseca, representante do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), relatou que em BH a situação é um pouco melhor, mas que no interior muitos são os municípios que não têm como absorver estes alunos. “Temos notícia de que são 120 mil crianças ainda sem matrícula efetuada e há casos em que os pais estão optando ir para a rede privada próximo de casa, porque fica mais barato que pagar o transporte”, afirmou Fonseca, lembrando que isso é uma municipalização e uma privatização forçada.

Ociosidade na rede municipal

E se não há vagas na rede estadual, na rede municipal os relatos, entretanto, são de ociosidade de salas de aula. Dirigentes e professores de unidades da Região Centro-sul, como as Escolas Municipais Paulo Mendes Campos e Edson Pisani, contaram que todos os dias mães batem na porta da escola pedindo vaga para seus filhos e que, embora haja vagas, a Secretaria Municipal de Educação (SMED) não permite a matrícula. “Em janeiro enviamos os dados para a SMED, tínhamos 15% de vagas não preenchidas, hoje já são 24% de ociosidade”, contou Floricena Estevam, diretora da EM Edson Pisani.

Daniela Xavier, vice-diretora da EM Paulo Mendes Campos, apresentou relatos semelhantes, e disse que a suspensão da matrícula no período de fevereiro é um procedimento novo. Segundo Daniela, o processo de matrícula no município é iniciado com o cadastramento no mês de novembro, depois em janeiro é feito o subcadastro, e que em fevereiro, com o início das aulas, abre-se para livre demanda – ou seja, todo mundo que bate na porta da escola é atendido. “Impediram a matrícula para a livre demanda, e tivemos redução de turmas, uma incongruência”, salientou a dirigente, que contou que as escolas estão inclusive proibidas, pela SMED, de anotar o nome das mães e crianças que procuram vagas nas escolas.

A vereadora Cida Falabella ressaltou que não é possível que no meio do mês de março ainda existam crianças sem escola em BH e que várias solicitações de informações já foram feitas à PBH. “Nós queremos é saber quem vai colocar estas crianças na escola? A escola é o primeiro patamar de cidadania. É lugar de acolhimento, educação, coletividade e troca”, ressaltou. Como encaminhamento da audiência foram definidos pedidos de informação com dados sobre os números de matrículas, crianças atendidas, unidades parceiras, número de vagas e infraestrutura das escolas a ser encaminhados na próxima reunião da Comissão.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para discutir os problemas na realização de matrículas nas escolas públicas estaduais e municipais de Belo Horizonte - 6ª Reunião Ordinária - Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo