Trânsito carregado e desinformação sobre desapropriações geram insatisfação
Moradores dos Bairros Boa Vista e São Geraldo, impactados com a abertura do último trecho da via, diálogo e soluções
Foto: Karoline Barreto/CMBH
Os impactos do fluxo intenso de veículos no trecho final da Via 710, aberto recentemente ao trânsito, vêm gerando preocupação e estresse aos moradores das imediações da Rua Elísio de Brito, no Bairro Boa Vista, e Avenida Itaituba, no Bairro São Geraldo. Sinalização insuficiente, alta velocidade e desrespeito por parte dos motoristas, pondo em risco a segurança de moradores e pedestres, foram os principais problemas relatados nesta quinta (30/3) em audiência pública da Comissão Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviço. Informando que algumas das demandas identificadas em visita técnica ao local há cerca de 40 dias já foram atendidas ou estão em andamento, o requerente do debate, de Wilsinho da Tabu (PP), ressaltou que, embora as medidas paliativas para os problemas mais urgentes sejam importantes, são necessárias soluções definitivas para garantir a fluidez do trânsito e a segurança das pessoas que vivem e trafegam no local. Em relação ao andamento das desapropriações pendentes, que gera incertezas e angústias, o não comparecimento da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) impediu a obtenção de respostas. Diante disso, o coordenador da Regional Leste se comprometeu a articular uma reunião com a participação de todas as partes envolvidas para tratar da questão.
Espera de quase 10 anos pela conclusão
Com pouco mais de 5 km de extensão, a Via 710 atravessa oito bairros das Regiões Leste e Nordeste entre a Avenida dos Andradas e a Avenida Cristiano Machado e cria uma alternativa de acesso ao Vetor Norte de Belo Horizonte. Pensada para desafogar o trânsito na área central, reduzir o tempo e os custos de deslocamento, a via começou a ser construída em 2014 e, após vários atrasos e entregas parciais, foi totalmente liberada para o trânsito no dia 13 de fevereiro deste ano, com a conclusão do último trecho que ainda estava em obras – entre a Rua Elísio de Brito, no Bairro Boa Vista, e a Avenida dos Andradas. Ex-funcionário da Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Wilsinho vem acompanhando a questão na condição de vereador desde o início do mandato, em 2021. Poucos dias depois da liberação do trecho mencionado, objeto da audiência, o vereador requereu uma visita técnica ao local para averiguar problemas apontados por moradores e o envio de um pedido de informações à PBH acerca da situação de imóveis situados no entorno.
Wilsinho apresentou uma breve recapitulação do histórico e das características da Via 710, “uma das maiores obras viárias realizadas na cidade nos últimos tempos”, ressaltando a importância e os benefícios de sua implantação para a região e para a cidade como um todo. Até mesmo por essa razão, segundo ele, é necessária uma atenção especial aos problemas causados pelo aumento da circulação de veículos no último trecho entregue à população, que trouxe transtornos e riscos especialmente para as pessoas que residem no entorno e as que precisam atravessar a via. O vereador comentou que, desde a data da visita técnica, na qual representantes da Prefeitura e da BHTrans identificaram correções a serem feitas, já foram realizadas algumas melhorias na sinalização (semáforos e orientação de circulação). Braulio Lara (Novo) reiterou as palavras de Wilsinho e elogiou os esforços do colega na busca de ajustar os pontos problemáticos.
Moradores de ruas que fazem interseção com a Via 710 se queixaram das dificuldades de saída e entrada de veículos nas garagens, o perigo de se deslocar até mesmo nas calçadas, em razão da alta velocidade e da falta de empatia dos motoristas e o risco de atravessar a via, inclusive com crianças em trajeto escolar. A comunidade pediu a instalação urgente de semáforos, alargamento de ilhas e canteiros centrais ou mesmo radares de velocidade nos pontos mais críticos para proporcionar mais segurança na circulação local, tanto a pé quanto de carro. Alguns reclamaram da existência de tampas de bocas de lobo mal fixadas no meio da pista em alguns pontos de grande movimentação, que produzem ruído intenso a cada vez que um veículo passa em cima, causando estresse e atrapalhando o sono dos moradores, muitos deles idosos.
Ponto de alagamento
Antônio Paulino, da Associação de Moradores do Bairro Santa Inês, reiterou os testemunhos sobre o fluxo intenso de carros, caminhões e ônibus em alta velocidade e considerou que “foi um erro direcionar o fluxo de trânsito todo para aquela área”; e também sobre a existência de um ponto de alagamento à margem da Via 710, em frente à MRS Logística. O líder comunitário disse que recebe muitas reclamações dos funcionários da empresa, que relatam dificuldade de transitar no local, que “vira uma bacia” no período de chuvas, e os riscos diários de atravessar a via. “É preciso resolver esse problema, senão vai morrer gente ali”, alertou. Wilsinho da Tabu, que assisitiu um vídeo da cena, confirmou o relato da moradora Maria Célia, que viu um ônibus ser submerso pela enxurrada, e pediu providências urgentes e ações concretas para solucionar o problema.
A solução definitiva, segundo Wilsinho, exigiria intervenções estruturais e de drenagem; no entanto, enquanto não se resolve o problema, os moradores sugeriram a adoção de medidas de prevenção de danos, como a sinalização do local como área de risco e interrupção do trânsito em dias de chuva forte. Para avaliar a possibilidade, o parlamentar vai solicitar à Defesa Civil que faça uma análise da situação e, caso seja considerado pertinente, encaminhar a adoção das medidas de alerta e o bloqueio do trânsito.
Desapropriações
Outra preocupação trazida à audiência diz respeito às desapropriações de oito ou nove imóveis que foram judicializadas e ainda estão pendentes. Segundo Wilsinho, as oito ou nove famílias remanescentes das Ruas Gomes Pereira, Vespasiano e Camponesa, no Bairro Boa Vista, estão desesperadas, sem saber o que vai acontecer com elas. Para buscar respostas, o vereador requereu à Comissão de Mobilidade o envio de um Pedido de Informação à Prefeitura acerca do andamento dos processos, em nome de quem estão os imóveis, se estão previstas reintegrações de posse ou indenizações. Encaminhado há três dias, o questionamento ainda não obteve retorno. Os moradores se queixaram do desgaste psicológico e emocional, da deterioração dos imóveis e a impossibilidade de investir em reformas e consertos diante da incerteza e imprevisibilidade da situação. “Precisamos de definição: vamos sair ou ficar? Até quando?”, indagaram. O vereador e os moradores lamentaram o não comparecimento da Sudecap, convidada para o encontro. Responsável pela condução da questão, a autarquia é a única que poderia fornecer respostas.
Escuta e diálogo
José Carlos Mendanha, diretor de Sistema Viário da BHTrans, recapitulou a “batalha” de mais de oito anos para construir a Via 710, marcada por dificuldades e atrasos, especialmente em função da judicialização das desapropriações; para concluir a obra, segundo ele, foram necessários alguns desvios do projeto original e soluções provisórias, como a rotatória entre a Avenida Itaituba e a Avenida dos Andradas. “Às vezes o ótimo é inimigo do bom”, ponderou, reconhecendo que o trajeto entregue não foi o ideal, e sim o possível, e intervenções pontuais podem melhorar a segurança enquanto não se chega a uma solução definitiva. O gestor ressaltou que, em que pesem os problemas eventualmente trazidos pela via, ela gera um polo de atratividade de comércio, serviços e melhora a mobilidade na região.
Um dos moradores defendeu que as sugestões de quem vive a realidade do local tinham que ser mais levadas em conta no planejamento e nas decisões sobre as questões que os afetam diretamente, mesmo que implicassem em maiores custos, e que os órgãos envolvidos deveriam conversar mais entre si. Os gerentes de operações Leste e Nordeste da BHTrans, Robson José dos Santos e Cláudio Farias, afirmaram que todas as colocações feitas na audiência foram anotadas, asseguraram a efetividade dos canais de comunicação com a população - o Conselho Regional de Transporte e Trânsito (CRTT) e o plantão na sede da Regional de segunda a sexta, das 8h às 13h - e a disponibilidade da empresa para a escuta, o diálogo e o encaminhamento de demandas internamente ou aos órgãos competentes.
O coordenador da Regional Leste, Elson Alípio Júnior, se comprometeu a encaminhar as medidas paliativas para mitigação dos problemas apontados om a maior celeridade possível. Assegurando a acessibilidade da Prefeitura e da Sudecap para dialogar e dar respostas aos cidadãos, ele se dispôs a “fazer a ponte” entre a comunidade e os órgãos envolvidos. Para isso, a pedido de Wilsinho da Tabu, Elson vai promover, no menor prazo possível, uma reunião na sede da Regional com a participação de moradores, Sudecap, Secretaria Municipal de Obras e Infaestrutura e representantes do Legislativo com o objetivo de ouvir e analisar as diferentes situações e demandas. O coordenador sugeriu a participação da Procuradoria-Geral do Município para fornecer informações e responder dúvidas sobre os processos de desapropriação, sugestão prontamente acolhida pelo parlamentar.
Superintendência de Comunicação Institucional