VIA 710

Trânsito carregado e desinformação sobre desapropriações geram insatisfação

Moradores dos Bairros Boa Vista e São Geraldo, impactados com a abertura do último trecho da via, diálogo e soluções

sexta-feira, 31 Março, 2023 - 12:30

Foto: Karoline Barreto/CMBH

Os impactos do fluxo intenso de veículos no trecho final da Via 710, aberto recentemente ao trânsito, vêm gerando preocupação e estresse aos moradores das imediações da Rua Elísio de Brito, no Bairro Boa Vista, e Avenida Itaituba, no Bairro São Geraldo. Sinalização insuficiente, alta velocidade e desrespeito por parte dos motoristas, pondo em risco a segurança de moradores e pedestres, foram os principais problemas relatados nesta quinta (30/3) em audiência pública da Comissão Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviço. Informando que algumas das demandas identificadas em visita técnica ao local há cerca de 40 dias já foram atendidas ou estão em andamento, o requerente do debate, de Wilsinho da Tabu (PP), ressaltou que, embora as medidas paliativas para os problemas mais urgentes sejam importantes, são necessárias soluções definitivas para garantir a fluidez do trânsito e a segurança das pessoas que vivem e trafegam no local. Em relação ao andamento das desapropriações pendentes, que gera incertezas e angústias, o não comparecimento da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) impediu a obtenção de respostas. Diante disso, o coordenador da Regional Leste se comprometeu a articular uma reunião com a participação de todas as partes envolvidas para tratar da questão.

Espera de quase 10 anos pela conclusão

Com pouco mais de 5 km de extensão, a Via 710 atravessa oito bairros das Regiões Leste e Nordeste entre a Avenida dos Andradas e a Avenida Cristiano Machado e cria uma alternativa de acesso ao Vetor Norte de Belo Horizonte. Pensada para desafogar o trânsito na área central, reduzir o tempo e os custos de deslocamento, a via começou a ser construída em 2014 e, após vários atrasos e entregas parciais, foi totalmente liberada para o trânsito no dia 13 de fevereiro deste ano, com a conclusão do último trecho que ainda estava em obras – entre a Rua Elísio de Brito, no Bairro Boa Vista, e a Avenida dos Andradas. Ex-funcionário da Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), Wilsinho vem acompanhando a questão na condição de vereador desde o início do mandato, em 2021. Poucos dias depois da liberação do trecho mencionado, objeto da audiência, o vereador requereu uma visita técnica ao local para averiguar problemas apontados por moradores e o envio de um pedido de informações à PBH acerca da situação de imóveis situados no entorno.

Wilsinho apresentou uma breve recapitulação do histórico e das características da Via 710, “uma das maiores obras viárias realizadas na cidade nos últimos tempos”, ressaltando a importância e os benefícios de sua implantação para a região e para a cidade como um todo. Até mesmo por essa razão, segundo ele, é necessária uma atenção especial aos problemas causados pelo aumento da circulação de veículos no último trecho entregue à população, que trouxe transtornos e riscos especialmente para as pessoas que residem no entorno e as que precisam atravessar a via. O vereador comentou que, desde a data da visita técnica, na qual representantes da Prefeitura e da BHTrans identificaram correções a serem feitas, já foram realizadas algumas melhorias na sinalização (semáforos e orientação de circulação). Braulio Lara (Novo) reiterou as palavras de Wilsinho e elogiou os esforços do colega na busca de ajustar os pontos problemáticos.

Moradores de ruas que fazem interseção com a Via 710 se queixaram das dificuldades de saída e entrada de veículos nas garagens, o perigo de se deslocar até mesmo nas calçadas, em razão da alta velocidade e da falta de empatia dos motoristas e o risco de atravessar a via, inclusive com crianças em trajeto escolar. A comunidade pediu a instalação urgente de semáforos, alargamento de ilhas e canteiros centrais ou mesmo radares de velocidade nos pontos mais críticos para proporcionar mais segurança na circulação local, tanto a pé quanto de carro. Alguns reclamaram da existência de tampas de bocas de lobo mal fixadas no meio da pista em alguns pontos de grande movimentação, que produzem ruído intenso a cada vez que um veículo passa em cima, causando estresse e atrapalhando o sono dos moradores, muitos deles idosos.

Ponto de alagamento

Antônio Paulino, da Associação de Moradores do Bairro Santa Inês, reiterou os testemunhos sobre o fluxo intenso de carros, caminhões e ônibus em alta velocidade e considerou que “foi um erro direcionar o fluxo de trânsito todo para aquela área”; e também sobre a existência de um ponto de alagamento à margem da Via 710, em frente à MRS Logística. O líder comunitário disse que recebe muitas reclamações dos funcionários da empresa, que relatam dificuldade de transitar no local, que “vira uma bacia” no período de chuvas, e os riscos diários de atravessar a via. “É preciso resolver esse problema, senão vai morrer gente ali”, alertou. Wilsinho da Tabu, que assisitiu um vídeo da cena, confirmou o relato da moradora Maria Célia, que viu um ônibus ser submerso pela enxurrada, e pediu providências urgentes e ações concretas para solucionar o problema.

A solução definitiva, segundo Wilsinho, exigiria intervenções estruturais e de drenagem; no entanto, enquanto não se resolve o problema, os moradores sugeriram a adoção de medidas de prevenção de danos, como a sinalização do local como área de risco e interrupção do trânsito em dias de chuva forte. Para avaliar a possibilidade, o parlamentar vai solicitar à Defesa Civil que faça uma análise da situação e, caso seja considerado pertinente, encaminhar a adoção das medidas de alerta e o bloqueio do trânsito.

Desapropriações

Outra preocupação trazida à audiência diz respeito às desapropriações de oito ou nove imóveis que foram judicializadas e ainda estão pendentes. Segundo Wilsinho, as oito ou nove famílias remanescentes das Ruas Gomes Pereira, Vespasiano e Camponesa, no Bairro Boa Vista, estão desesperadas, sem saber o que vai acontecer com elas. Para buscar respostas, o vereador  requereu à Comissão de Mobilidade o envio de um Pedido de Informação à Prefeitura acerca do andamento dos processos, em nome de quem estão os imóveis, se estão previstas reintegrações de posse ou indenizações. Encaminhado há três dias, o questionamento ainda não obteve retorno. Os moradores se queixaram do desgaste psicológico e emocional, da deterioração dos imóveis e a impossibilidade de investir em reformas e consertos diante da incerteza e imprevisibilidade da situação. “Precisamos de definição: vamos sair ou ficar? Até quando?”, indagaram. O vereador e os moradores lamentaram o não comparecimento da Sudecap, convidada para o encontro. Responsável pela condução da questão, a autarquia é a única que poderia fornecer respostas.

Escuta e diálogo

José Carlos Mendanha, diretor de Sistema Viário da BHTrans, recapitulou a “batalha” de mais de oito anos para construir a Via 710, marcada por dificuldades e atrasos, especialmente em função da judicialização das desapropriações; para concluir a obra, segundo ele, foram necessários alguns desvios do projeto original e soluções provisórias, como a rotatória entre a Avenida Itaituba e a Avenida dos Andradas. “Às vezes o ótimo é inimigo do bom”, ponderou, reconhecendo que o trajeto entregue não foi o ideal, e sim o possível, e intervenções pontuais podem melhorar a segurança enquanto não se chega a uma solução definitiva. O gestor ressaltou que, em que pesem os problemas eventualmente trazidos pela via, ela gera um polo de atratividade de comércio, serviços e melhora a mobilidade na região.

Um dos moradores defendeu que as sugestões de quem vive a realidade do local tinham que ser mais levadas em conta no planejamento e nas decisões sobre as questões que os afetam diretamente, mesmo que implicassem em maiores custos, e que os órgãos envolvidos deveriam conversar mais entre si. Os gerentes de operações Leste e Nordeste da BHTrans, Robson José dos Santos e Cláudio Farias, afirmaram que todas as colocações feitas na audiência foram anotadas, asseguraram a efetividade dos canais de comunicação com a população - o Conselho Regional de Transporte e Trânsito (CRTT) e o plantão na sede da Regional de segunda a sexta, das 8h às 13h - e a disponibilidade da empresa para a escuta, o diálogo e o encaminhamento de demandas internamente ou aos órgãos competentes.

O coordenador da Regional Leste, Elson Alípio Júnior, se comprometeu a encaminhar as medidas paliativas para mitigação dos problemas apontados om a maior celeridade possível. Assegurando a acessibilidade da Prefeitura e da Sudecap para dialogar e dar respostas aos cidadãos, ele se dispôs a “fazer a ponte” entre a comunidade e os órgãos envolvidos. Para isso, a pedido de Wilsinho da Tabu, Elson vai promover, no menor prazo possível, uma reunião na sede da Regional com a participação de moradores, Sudecap, Secretaria Municipal de Obras e Infaestrutura e representantes do Legislativo com o objetivo de ouvir e analisar as diferentes situações e demandas. O coordenador sugeriu a participação da Procuradoria-Geral do Município para fornecer informações e responder dúvidas sobre os processos de desapropriação, sugestão prontamente acolhida pelo parlamentar.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater os impactos sofridos pela comunidade do entorno da Via 710 regional leste de Belo Horizonte - 8ª Reunião Ordinária: Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços