IDENTIDADE DE BH

Especialistas destacam a importância da bandeira como símbolo de pertencimento

Debate sobre o novo modelo para bandeira de BH distinguiu o papel dos símbolos cívicos. PL deve ser votado na próxima terça (13/7)

 

quarta-feira, 7 Junho, 2023 - 16:45
Foto dos autores do PL, Jorge Santos e Cleiton Xavier, e Gabriel Figueiredo segurando a bandeira proposta pelo PL

Foto: Bernardo Dias/CMBH

A cidade é feita de símbolos. Com essa frase, o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Gabriel (sem partido), defendeu a criação de uma bandeira para a cidade, “uma vez que o que temos é a mera representação de um brasão em um pano branco”. A declaração foi dada em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, realizada nesta quarta-feira (7/6) a pedido de Cleiton Xavier (PMN) e Jorge Santos (Republicanos), autores do Projeto de Lei 483/2023, que propõe novo leiaute para a bandeira de BH.  Ao anunciar que o PL será pautado para votação em 1º turno na próxima terça-feira (13/6), Gabriel refutou a ideia de que o debate seja menor diante das prioridades da cidade e destacou que há muita coisa importante sendo discutida pela CMBH. Segundo ele, a instituição de símbolos também é muito importante para garantir uma unidade. 

Autor da proposta de um novo modelo para bandeira, que atualmente se resume ao brasão de BH em um fundo branco, Gabriel Figueiredo também defendeu a importância de debater símbolos da cidade. Ele contou que a proposta surgiu a partir de uma inquietação com o fato de que BH não tem uma bandeira adequada do ponto de vista de simbologia. “A atual bandeira retrata apenas o brasão e os símbolos têm propósitos bem diferentes”, esclareceu. Segundo ele, a ideia é que a cidade tenha símbolos tão bons quanto os símbolos federais e estaduais, símbolos esses capazes de captar e traduzir o “orgulho enorme da população com a cidade”, explícitos em inúmeras manifestações culturais. Ele acredita que, atualmente, esse carinho não é traduzido nos símbolos da cidade, mas que uma bandeira bem resolvida pode solucionar essa questão.

Fácil como a bandeira nacional e a de Minas

O designer revelou que desde o início do projeto houve uma preocupação em fazer uma bandeira que pudesse ser usada por todos. “O tamanho da comoção e da movimentação que o projeto gerou e a rapidez com que ele vem sendo abraçado refletem tanto a insuficiência dos símbolos atuais quanto o potencial enorme que uma bandeira bem resolvida pode ter”, disse. Gabriel Figueiredo explicou que a bandeira representa o elemento central do brasão, que é o nascer do sol no Pico Belo Horizonte e que as cores são as mesmas da bandeira nacional. Ele afirmou ainda que é muito gratificante ver as pessoas se apropriando do desenho das mais diversas formas, “como adesivo, como canga, carregando a cidade junto ao corpo, usando a bandeira para defender a Serra do Curral e para representar o município quando estão longe dele”. 

A simplicidade e a modernidade do projeto, que cumpre todos os preceitos para criação de uma boa bandeira, foi destacada na fala do professor e diretor de criação da Greco Design, Gustavo Greco. Ele lembrou que a bandeira representa um país ou uma causa e traz um sentimento de pertencimento, além de expor nossos valores. “As bandeiras nos unem e nos conectam e também nos trazem um senso de pertencimento e orgulho. Por isso, é fundamental que a bandeira de BH seja significativa para o seu povo”, ressaltou. Ele sugeriu que esta, bem como outras propostas de bandeiras, deve ser submetida à apreciação popular para que reflita a vontade do povo, sua história e seu amor pela cidade.

Poder de aglutinar e fortalecer conexões

Especialista em Place Branding, Ronei Sampaio elogiou o design da bandeira. Segundo ele, a partir do diálogo com algo que já é familiar para o belo-horizontino, que é o Pico Belo Horizonte, o projeto tem a possibilidade de produzir uma “marca capaz de expandir e de criar conexões positivas, relevantes e dotadas de significados”. Para ele, o desenho escolhido é um convite à experiência que remonta ao reconhecimento, ao vínculo com a história, ao cotidiano, à familiaridade possibilitando uma renovação. Ele destacou ainda o potencial de versatilidade e aplicação que a proposta apresenta. 

O designer Rafael Quick chamou a atenção para o poder transformador de um bom projeto gráfico e afirmou que a bandeira destaca a beleza da cidade em uma linguagem atualizada do ponto de vista técnico. Já Laura Scofield destacou que o símbolo reforça o senso de pertencimento e vai muito além de um símbolo. Mestre em designer-gráfico, gerente sênior da Revista The Atlantic e estudiosa de bandeiras, ela acompanha os debates estéticos e políticos que envolvem a criação de uma bandeira e, durante a audiência, ressaltou o papel aglutinador de uma bandeira e o que ela pode significar na sociedade. “É uma forma de comunicar o nosso cuidado com a cidade, uma oportunidade de demonstrar a nossa preocupação e nosso orgulho cívico, além de fortalecer nossas conexões. É um investimento na nossa identidade e no nosso futuro”, afirmou. 

Representando a Secretaria Municipal de Cultura, o diretor do Arquivo Público da Cidade, Yuri Melo, salientou que o brasão foi oficializado apenas em 1937 e que ele reflete a história da cidade. Ele colocou o Arquivo Público à disposição. 

Símbolos importam e geram significados

O vereador Jorge Santos fez questão de salientar que, ao registrar o pôr do sol na Serra do Curral, a proposta chama a atenção para a destruição que a mineração está provocando no símbolo da cidade: “É um pedido de socorro”. Já Cleiton Xavier lembrou que, quando do lançamento da proposta, muitos internautas nas redes sociais afirmaram que “essa não é uma prioridade”. Ele fez questão de frisar que, embora a cidade tenha problemas múltiplos, isso não pode ser impedimento para criar um símbolo que só vai trazer benefícios. 

Ao concordar com os colegas, Gabriel fez uma retrospectiva histórica do desenvolvimento da cidade desde a sua fundação, enfatizando a carência de símbolos nas décadas de 1910, 1920 e 1930 e a resistência popular quando, na década de 1940, “JK resolveu dar símbolos à cidade”. Gabriel relembrou que nas décadas seguintes, a “cidade viu seus símbolos sendo destruídos, seus fícus sendo colocados abaixo, e ainda a destruição das manifestações populares, do que é belo”. Ele acredita que só os autocratas acham que os símbolos não importam e afirmou que há cidades, estados, nações que se reinventaram completamente ao darem importância a eles. 

Ao revelar que o novo modelo de bandeira já está erguido na sala da presidência da CMBH, Gabriel manifestou seu desejo de que ele se torne “uma flâmula popular, que se transforme em uma maneira de as pessoas abraçarem a cidade que está precisando ser cuidada, precisando ver seus símbolos ressignificados revigorados”. O parlamentar avaliou também que BH está ficando para trás em relação a outras capitais e cidades que têm tido mais visão do que é ser uma cidade e ressignificado o que têm de melhor. 

Ao rebater as críticas, o presidente da Câmara questionou as prioridades de uma cidade. “O que é mais importante do que um teto, o alimento, a mobilidade?” Segundo ele, a ideia de criticar e de dizer que não é necessário debater “a alma e os símbolos da cidade” é coisa de quem acha que uma cidade se faz apenas de prédios onde as pessoas moram e onde vão trabalhar.  “Mas, tudo isso fica mais fácil quando há unidade e as pessoas participam, quando elas têm senso de pertencimento. Não estamos falando de supérfluo, estamos falando da vida das pessoas”, assegurou.

Gabriel anunciou que o texto será votado em 1º turno na próxima terça-feira (13/6) e que o vereador Pedro Patrus (PT) apresentou uma emenda solicitando que haja um referendo popular em 2024 para aprovar o modelo de bandeira proposto por Gabriel Figueiredo.  Com isso, o PL 483/2023 terá que voltar às Comissões de Legislação e Justiça e de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, antes de poder ser votado em definitivo. Para ser aprovado , o PL precisa de 21 votos favoráveis. 

Superintendência de Comunicação Institucional 

Audiência pública para discutir o Projeto de Lei 483/2023, que dá nova redação à Lei nº 11.293/2021, que "Consolida legislação sobre os símbolos oficiais do Município" - 17ª Reunião Ordinária - Comissão de Educação