Similar à Pampulha, brasiliense Paranoá tem esgoto coletado e prática esportiva
Experiência foi relatada em audiência realizada pela CPI. Técnica de biorremediação e plano global também foram apresentados
Foto: Bernardo Dias/CMBH
“O caminho é esse: coletar e tratar 100% do esgoto”. Essa foi a recomendação dada por Carlos Eduardo Pereira para tratar a despoluição da Lagoa da Pampulha. O químico, que é diretor na Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), foi um dos participantes da audiência pública realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) - Lagoa da Pampulha, na manhã desta terça-feira (13/6). O objetivo foi debater tecnologias, métodos de trabalho e soluções para a melhoria da qualidade da água, desassoreamento, retenção e retirada de resíduos, bem como de lixo sobrenadante. Além da experiência de sucesso que Carlos Eduardo relatou com base no trabalho feito no Lago Paranoá, a partir década de 1990, foram apresentadas outras duas técnicas: uma que utiliza remediador ambiental, resultado da combinação de proteína extraída da levedura do fermento de pão com pequenas quantidades de surfactantes; e um plano global de infraestrutura para a região, que prevê a duplicação da via que circunda a orla e que privilegia a reutilização do sedimento retirado da bacia. Para os parlamentares, todas as contribuições foram importantes e demonstram que a solução precisa vir a partir da atuação de várias frentes de cuidado e proteção.
100% do esgoto coletado
O Paranoá tem 40 km de extensão e foi formado durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek, na década de 1950. O lago, que recebe águas de 21 córregos e cinco bacias hidrográficas, tem coleta de esgoto ao longo de todos os cursos d’água, inclusive dos que estão localizados em outros municípios. Mas nem sempre foi assim. Segundo Carlos Eduardo Pereira, que é diretor de operação e manutenção da Caesb, e há 32 anos trabalha na empresa, com 20 anos da criação do lago ele já apresentava um intenso processo de degradação, e no fim dos anos de 1970 quase 100% da bacia já estava tomada pela poluição. “Contratamos uma consultoria e foi confirmado que altas cargas de material causavam a poluição. Então começamos com um processo de coleta de esgotos de todas as bacias que chegavam ao lago. Construímos duas Estações de Tratamento de Esgoto (Asa Norte e Sul), mas ainda assim um milhão de residências continuavam a despejar esgotos. Então a solução foi coletar esgotos de todos as cidades que estavam na bacia hidrográfica que deságua no lago”, explicou.
Práticas esportivas e biocontrole
Hoje o Lago Paranoá é utilizado para pesca e atividades esportivas e a história de sucesso de recuperação da bacia foi apresentada em um vídeo curto, que mostrou a trajetória do lago desde a sua criação até os dias de hoje. Para Carlos Eduardo Pereira, há forte similaridade entre a Pampulha e o Paranoá e, além do esgoto, outras medidas precisam ser efetivadas. “O programa de despoluição que sugerimos é a coleta de 100% do esgoto, o monitoramento de galerias de águas pluviais, para que não recebam águas de esgoto, além de técnicas que podem ser usadas como o biocontrole, que retira espécies como a tilápia que revolve muito o fundo do lago”, afirmou o diretor, que lembrou ainda que já conversou com técnicos da Copasa e que considera necessária a criação de uma legislação que determine a ligação da residência na rede coletora, nos casos em que já há a infraestrutura disponível. Perguntado pelo relator Braulio Lara (Novo) sobre qual o grau de pureza alcançado, o diretor contou que água apresenta 0.2 miligrama de fósforo/litro, estando na Classe 2.
Teste para ver reação
Universalizar a coleta de esgoto dos cursos d’água que chegam à Pampulha também é a solução para a despoluição definitiva da lagoa dada pelo empresário Renato Abucham, da Verus Ambiental. Ele defendeu, contudo, a utilização de uma tecnologia intermediária até que a coleta do esgoto possa ser efetivada. “Acredito que o produto pode ajudar a Pampulha a conviver melhor com estas condições, e se o Município quiser podemos fazer o teste. Com a aplicação é que saberemos onde podemos chegar”, declarou.
O teste proposto por Renato Abucham trata-se da aplicação do remediador ambiental Accell3. O produto, utilizado em tratamento de esgoto sanitário, age reduzindo a tensão superficial das águas e aprofundando a aeração superficial da atmosfera. Segundo o empresário, testes já foram feitos no Rio Pinheiros, em São Paulo, e uma aplicação com duração de três meses foi feita no Lago Jansen, em São Luís do Maranhão. “No Lago Jansen conseguimos melhora na condição de turbidez da água. Como trata-se de um tratamento de biorremediação e cada ambiente reage de uma forma, o ideal é fazer o teste de aplicação e ver como a coluna d’água reage”, explicou. Perguntado por Braulio Lara sobre o valor do produto, o empresário admitiu os altos custos e contou que está em cerca de 10 a 20 centavos de dólar, o metro químico tratado.
Projeto Pampulha
Já o engenheiro Décio Chami, da Construtora Protenco, apresentou um plano global para a região da Pampulha. A proposta levada ao Município em 1997 teve a simpatia do vice-prefeito à época, porém não prosperou em função da falta de recursos. Segundo Chami, a proposta precisaria de alguma atualização, mas praticamente tudo o que o Projeto Pampulha propõe ainda é possível de se executar. “É um projeto de recuperação e desenvolvimento sustentável da lagoa e envolveu mais de 100 técnicos que apresentaram conceitos e soluções para a lagoa” explicou.
O projeto atuaria em três frentes principais: a malha viária, o ecossistema ambiental e espaços de lazer e turismo. Além do reaproveitamento do sedimento, a previsão é que seja feita a duplicação da pista que circula a lagoa e que novas tecnologias possam impedir que novos sedimentos cheguem à bacia. Infraestrutura para lazer, diversão e turismo. “A Pampulha não é somente a lagoa. Há congestionamentos que se avolumam do início e fim do dia. Somos passagem de municípios como Ribeirão das Neves e precisamos tratar isso”, defendeu.
Para os parlamentares, todas as contribuições apresentadas são importantes e demonstram a complexidade do tema. “R$ 1.4 milhão já foi gasto na despoluição na Pampulha. Esperamos que daqui para frente as pastas que cuidam da lagoa saibam que cuidamos de um patrimônio tombado. É o marco do modernismo e não podemos deixá-lo desprotegido”, declarou.
Além dos parlamentares citados, participaram da reunião a vereadora Flávia Borja (PP) e os vereadores Rubão (PP), Irlan Melo (Patri), Cleiton Xavier (PMN), Sérgio Fernando Pinho Tavares (PL) e Professor Juliano Lopes (Agir), que a presidiu.
Assista à íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional