ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Comissão cobra rescisão contratual e pagamento a trabalhadores

Cooperados denunciam retenção de salários e retaliações; Prefeitura afirma que pagamentos têm sido feitos em dia 

quarta-feira, 9 Abril, 2025 - 18:45
Vereadores e convidados da audiência estão sentados no plenário. O telão atrás deles mostra a videochamada com participantes presentes virtualmente.

Trabalhadores denunciaram uma série de irregularidades praticadas pela Cooperativa de Transporte Urbano Rural (Coopertur) durante audiência realizada pela Comissão de Administração Pública na tarde desta quarta-feira (9/4). A Coopertur é prestadora de serviços de transporte para a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), e os motoristas estão em paralisação devido à falta de pagamento desde janeiro. Apesar de ter sido convocada, a empresa não enviou representantes. “Fiquei indignado ao saber que a coleta de sangue e o transporte de pacientes da hemodiálise foram interrompidos. Mesmo assim, a Coopertur não teve o compromisso de participar dessa reunião”, afirmou o vereador José Ferreira (Pode), autor do requerimento para realização da audiência. Ele anunciou que fará uma indicação ao prefeito, Álvaro Damião, para que o contrato seja rompido o quanto antes, e irá agendar uma reunião com o Ministério Público para debater formas de solucionar o problema. Confira o resultado completo da reunião do colegiado.

Denúncias graves 

Durante o início da audiência, Ferreira apresentou uma carta da Coopertur justificando a ausência. A empresa tem sede em Teófilo Otoni e alegou que a distância impediu o comparecimento. O parlamentar rasgou a carta e disse que se a empresa tivesse respeito pelos trabalhadores ou por Belo Horizonte, poderia ter participado de maneira virtual. 

O presidente da Comissão de Administração Pública, Wagner Ferreira (PV), afirmou que as denúncias são graves. “Retenção de salários e de tributos, entre outras irregularidades. Recebemos uma série de denúncias que precisam ser investigadas”, destacou. Segundo o parlamentar, o problema é antigo e vem se arrastando. “A paralisação dos trabalhadores é legítima. Precisamos de uma providência mais drástica, sem prejudicar ainda mais os motoristas e os usuários dos serviços”, defendeu.

Pagamento em dia 

O primeiro questionamento feito pelo vereador José Ferreira foi direcionado à secretária municipal de Administração Logística, Soraya Mourthé. O parlamentar perguntou se a prefeitura tem feito os pagamentos dentro do prazo. Soraya informou que o pagamento dos faturamentos emitidos pela Coopertur estão rigorosamente em dia, sendo que o último foi, inclusive, feito antes do vencimento. "A última fatura foi apresentada dia 17 e paga dia 24 para tentar minimizar o impacto da paralisação em áreas críticas, sendo que a prefeitura teria até 30 dias para efetuar o pagamento. Temos toda a documentação que comprova nossa adimplência com a Coopertur”, explicou.

Má-fé

Para o vereador Helton Junior (PSD), está ocorrendo má-fé da empresa, que está se furtando de suas obrigações. “A prefeitura precisa rever a contratação da Coopertur. Recomendo fortemente a rescisão desse contrato”, disse. Diante da colocação, Soraya Mourthé anunciou que, no dia 18 de março, começou o processo de rescisão unilateral. Entretanto, há etapas a serem seguidas. “Preciso seguir rito processual que a Lei de Licitações impõe”, disse.

Valor defasado

Os trabalhadores da Coopertur relataram que precisaram fazer a paralisação porque não estão tendo condições financeiras de abastecer os carros após três meses sem receber salários. De acordo com o contrato, o valor repassado aos motoristas inclui o abastecimento dos veículos. 

Fábio Lúcio, motorista que faz o transporte de pacientes de hemodiálise, disse que eles têm compromisso com a população, mas estão passando por sérias dificuldades. “Não recebemos nem o mês de janeiro. Todos nós aqui temos contas a pagar. Além disso, o valor repassado pela prefeitura está defasado”. O motorista também relatou problemas como multas indevidas. “Mesmo identificado (placa de carro oficial) eu já fui multado pela Guarda Municipal enquanto aguardava um paciente”, disse.

Credores 

A motorista Franciane, que atende a Regional Barreiro, contou que os credores não param de ligar. “Estamos endividados com parentes, com banco, com agiota. Existem setores da prefeitura nos pressionando para continuarmos o serviço. Mas, para colocar o combustível no carro, teríamos que deixar de levar o alimento para dentro da nossa casa. Peço encarecidamente para que a solução seja breve. Nós precisamos de ter nosso salário e trazer o alimento para dentro de casa”, disse.

Comissão 

Outros problemas foram relatados pelos participantes: pressão para que motoristas transportem cargas excessivas, ameaças de substituição e desconto indevido de 30% nos salários. Também foi questionado se a Coopertur é de fato uma cooperativa ou uma empresa privada, pois a gestão não é compartilhada com os motoristas. Soraya Mourthé pediu para os trabalhadores pautarem todos os pontos de reclamação e encaminharem esse documento para a secretaria. “Formem uma comissão de trabalhadores e me enviem previamente os questionamentos e eu me comprometo a receber vocês para conversarmos”, afirmou.

Para tratar do atraso salarial, a secretária defende o apoio do Ministério Público ou de algum órgão do Judiciário. “Precisamos chamar o Ministério Público. Com apoio deles poderemos reter esse crédito e pagar diretamente aos trabalhadores. Mas não posso decidir isso sozinha”, disse.

Contratação emergencial

Mônica das Graças Moreira Lino, subsecretária de Serviços Compartilhados e gestora do contrato, afirmou que já está pronto o termo para contratação emergencial, a fim de cobrir o período após a rescisão contratual, até que uma nova licitação seja realizada. “Já temos uma outra empresa pronta para assumir”. De acordo com as representantes da PBH, a proposta é que se mantenha o atual quadro funcional.

Encaminhamentos

José Ferreira (Pode) afirmou que irá agendar uma reunião com o Ministério Público com objetivo de viabilizar autonomia à PBH para pagar diretamente os motoristas. “Também vamos fazer uma indicação ao prefeito para que o contrato seja rompido o mais rápido possível, preservando os trabalhadores. Vamos buscar assinatura dos 41 vereadores desta Casa”, disse Ferreira.

O parlamentar ratificou a formação de uma comissão de trabalhadores para agendar uma reunião com a prefeitura, tendo como objetivo discutir pontos de melhoria e a revisão do contrato para a próxima licitação, evitando problemas como os atuais.

Confira a íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater sobre as condições de trabalho e remuneração dos trabalhadores da COOPERATIVA DE TRANSPORTES E SERVIÇOS URBANOS E RURAIS LTDA - COOPERTUR. 8ª Reunião Ordinária - Comissão de Administração Pública.