Aeroporto Carlos Prates deve funcionar somente até próximo dia 1º de maio
Terreno que é da União poderia abrigar moradias habitacionais. PBH, porém, foi chamada a assumir espaço junto com associação
Foto: Cláudio Rabelo/CMBH
O terreno de 500 mil m² que hoje abriga o Aeroporto Carlos Prates ainda tem destino incerto. Localizada na Região Noroeste de BH, a área que pertence à União e hoje abriga cinco escolas de aviação, com intenso trabalho de pouso, decolagem e manutenção de aeronaves, deve ter suas atividades suspensas até o próximo dia 1º de maio. A informação foi confirmada pelo superintendente do Aeroporto na manhã desta quarta-feira (9/2) à Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, em visita técnica solicitada pelo vereador Rubão (PP). O espaço deve ser destinado a programa habitacional do governo federal, mas a dificuldade de acesso a serviços públicos na região limitaria o adensamento. Para a Associação Voa Prates, criada por escolas de aviação civil e utilizadores do aeroporto, o fechamento do terminal não deixa alternativa para a formação de mão de obra aeronáutica, de pilotos e comissários. A entidade defendeu a municipalização do terreno e o gerenciamento do aeroporto sem fins lucrativos.
De acordo com o superintendente do Aeroporto Carlos Prates, Mauro Lúcio Diniz, uma portaria publicada no último dia 24 de dezembro estendeu para até o dia 1º de maio de 2022 o prazo da autorização de atividades do espaço aeroportuário, que se encerraria em 31 daquele mês. Segundo Diniz, atualmente o Carlos Prates trabalha com uma média diária de 40 a 50 pousos e decolagens/dia e cinco escolas de aviação civil utilizam o local para a instrução de pilotos e retirada de brevês. O aeroporto também abriga as atividades de todas as aeronaves do governo do estado, da Polícia Civil e dos Bombeiros. “Dia 31 de abril tudo deve ser desmobilizado. Ninguém mais decola e estas aeronaves (do governo do estado) não têm para onde ir, já que a Pampulha não tem hangares disponíveis”, afirmou o superintendente.
O Aeroporto Carlos Prates existe há 80 anos e há 40 é administrado pela Infraero, que já se posicionou pelo fim das atividades no local. Segundo Mauro Lúcio Diniz, as informações são de que a área será destinada à construção de moradias habitacionais por meio do programa Casa Verde e Amarela, do governo federal. Dentro da área de 500 mil m² que circunda o aeroporto está também um parque municipal - Parque Maria do Socorro, que hoje tem manutenção da Infraero. A destinação para os fins de moradia, porém, é contestada pela Associação Voa Prates, uma vez que, segundo eles, a Prefeitura já informou que a área não possui infraestrutura (ruas, escola, posto de saúde) que suporte o adensamento local.
Não existe plano B
Rubão também conversou com o piloto e vice-presidente da associação Voa Prates, Guilherme Andere, que explicou que o fechamento do Carlos Prates não deixa alternativa para as escolas de aviação que ali funcionam. Atualmente, 80% do movimento do campo aeroportuário vem das cinco escolas de aviação que atendem cerca de 500 alunos; metade deles estudantes assistidos pelo Fundo de Financiamento Estudante do Ensino Superior (Fies). Ainda segundo Andere, o Carlos Prates é o segundo aeroporto mais movimentado do estado, o 13º do Brasil e a segunda base de formação de mão de obra aeronáutica do país. "Não tem plano B. O fechamento do aeroporto será a aniquilação da aprendizagem no estado (MG). Não tem como levar estes alunos para outro campo de instrução", afirmou o piloto, dizendo que a área ainda realiza treinamentos de aprimoramento para pilotos já formados.
Questionado pelo vereador sobre a quantidade de acidentes já ocorridos no local, Andere disse que qualquer tipo de incidente (furo de pneu, saída de pista, derrapagem) é descrito como acidente na aviação, e que em 80 anos de funcionamento foram registrados apenas cinco acidentes com vítimas fatais, sendo que destas duas foram pessoas que estavam em solo. Ainda de acordo com o piloto, a preocupação da população que vive nas adjacências de que o vôo de instrução seria mais perigoso não corresponde à realidade. "Oitenta por cento do movimento aqui vem dos vôos de instrução, entretanto nenhum deles (dos acidentes) foi com este tipo vôo", destacou.
Segundo Andere, a Voa Prates trabalha hoje junto ao Ministério da Infraestrutura e ao Município para que o terreno seja cedido em definitivo para a Prefeitura de BH, que poderia transferir a gestão à associação, que o assumiria sem fins lucrativos. De acordo com o piloto, o Carlos Prates já esteve na lista de privatizações do governo federal, porém foi desclassificado por não ser 'financeiramente atrativo', já que os vôos de instrução não pagam algumas tarifas. Ainda de acordo com Andere, a destinação da área já foi chancelada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) e pelo governador Romeu Zema (Novo), sendo que com o último já há inclusive projetos conjuntos em estudo. "Somos o único aeroporto do estado que divide muro com um hospital, o Alberto Cavalcanti. Podemos fazer ali um centro de transplante do estado e os órgãos não precisariam desembarcar na Pampulha e ainda seguir no trânsito para o hospital", contou o piloto, referindo-se a um dos projetos.
A desativação das atividades do aeroporto já foi debatida em outras oportunidades na Câmara Municipal. Em agosto do ano passado, uma audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana debateu o assunto, a pedido de Macaé Evaristo (PT), Bella Gonçalves (Psol), Bruno Miranda (PDT), Duda Salabert (PDT), Iza Lourença (Psol) e Pedro Patrus (PT). Na ocasião, lideranças comunitárias e vereadores pleitearam a municipalização da área para implantação de parque e moradias sociais.
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