Acervo Museológico

Especialistas criticam condução da PBH sobre mudanças no Museu de Arte da Pampulha

Questionamentos sobre verdadeiras intenções com as obras de reforma, transporte e acesso ao acervo do museu foram feitos em audiência

terça-feira, 8 Outubro, 2019 - 13:30

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Para onde vão as obras do acervo do Museu de Arte da Pampulha? Por quanto tempo o MAP vai ficar fechado? Como será feito o acesso ao acervo e como este está sendo transportado? Estes são alguns dos vários questionamentos feitos por especialistas e vereadores em audiência pública promovida pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, que ocorreu nesta terça-feira (8/10).  A audiência foi solicitada pelo vereador Pedro Patrus (PT), por meio do Requerimento de Comissão 1182/2019, e contou com a presença do vereador Arnaldo Godoy (PT) e das professoras da UFMG, Regina Helena Alves da Silva, que integra o Conselho Estadual do Patrimônio Cultural; Carolina Ruoso, do Comitê Permanente de Políticas de Acervo do MAP e Rita Lage, pesquisadora e especialista em História da Arte.

Apesar de existirem tantas perguntas, representantes da Prefeitura não estiveram presentes, deixando indignados os demais participantes. “Convidamos a Secretaria Municipal de Cultura, a Fundação Municipal de Cultura e a Superintendência de Desenvolvimento da Capital, mas nenhum deles se faz presente. Nós e a sociedade civil gostaríamos de ter explicações. Mais uma vez a Prefeitura mostra a falta de respeito e o descaso com o nosso trabalho, com a cidade e com a universidade,” disse o vereador Pedro Patrus ao abrir os trabalhos. “Estou pasma por não ter ninguém da Prefeitura. Esta é uma forma de lidar com a democracia e que mostra exatamente porque estamos assim atualmente. Olha o tanto de perguntas que vão ficar sem respostas. A ausência da Prefeitura é uma grande falta de respeito à população”, disse a professora Regina Helena.

Sucateamento e acesso

Segundo a especialista em História da Arte, professora Rita Lage, o processo de sucateamento do Museu de Arte da Pampulha já está ocorrendo há mais tempo e pode se agravar com os problemas surgidos a partir das obras de reforma do prédio. “Em uma perspectiva histórica há um enfraquecimento da estrutura com perda de pessoal. Se o quadro era razoável, ele piorou com o esvaziamento ocorrido nos últimos tempos. Como podemos ter um museu se não temos gente que cuide dele? A situação tende a se agravar pois segundo informações que temos, o local onde fica guardado o acervo  do museu deixará de existir. Para onde vão as obras deste acervo?”, perguntou a professora. Ainda segundo Rita, o setor de documentação do MAP também é muito importante e há vários pesquisadores utilizando o que há nele em seus trabalhos. “É preciso dar acesso aos pesquisadores a este material enquanto o museu estiver fechado”, finalizou. Para o vereador Arnaldo Godoy , este é um aspecto importante a ser tratado. “É possível manter o museu e fazer a cidade ter acesso ao acervo. Basta ter respeito à memória da cidade”, afirmou.

Ariel Ferreira Costa é artista plástico e também espera que o acesso ao acervo seja mantido. “Tenho duas obras minhas no acervo do MAP que foram doadas ao museu quando participei do Bolsa Pampulha há cerca de 11 anos. Acho muito importante que o museu funcione em outro lugar. Se o museu tiver que ficar fechado à espera da reforma, que o acesso não seja impedido”, disse Ariel.

Fechamento e reforma

Noticiado pela Prefeitura de Belo Horizonte no dia 12 de setembro, o fechamento do Museu de Arte da Pampulha causou, entre outras coisas, a suspenção da 7ª edição da exposição do Bolsa Pampulha, que reúne obras de 10 artistas, produzidas durante o período de residência artística entre 2018 e 2019. Segundo nota enviada à imprensa pela PBH, o fechamento tinha como objetivo executar reparos de rotina, sem ameaça à estrutura física do prédio. Para conferir este trabalho e verificar os motivos do fechamento, a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo realizou visita técnica ao museu no dia 24 de setembro.

No dia 25 o MAP foi reaberto com a exposição do Bolsa Pampulha. Na época, a direção do MAP explicou que o laudo da Sudecap não indicava a suspensão da exposição, mas orientava que o espaço não deveria abrigar eventos que gerassem um grande fluxo de pessoas. Após a adoção de medidas emergenciais relativas à rede elétrica - uma vez que ela havia sido considerada inadequada em vistoria da Sudecap - foi anunciada a reabertura da exposição até 17 de novembro. Já no dia 18, o museu será novamente fechado para uma ampla reforma que deve durar cerca de dois anos. A expectativa é que o MAP só seja reaberto no final de 2021 ou início de 2022.

Museu Cassino

Outra questão levantada durante os debates foi o futuro do museu após a reforma. Conforme a professora e integrante do Comitê Permanente de Políticas de Acervo do MAP, Carolina Ruoso, todo museu deve ter um plano, um programa de gestão museológica que define o trabalho desde a guarda até a exposição e socialização do acervo. Um plano que deve ser discutido com a sociedade. “O museu existe porque é um conjunto de ações e o plano museológico do MAP precisa ser revisto e elaborado novo plano discutido com a população. Este novo plano pode ser discutido durante esta reforma”, afirmou a professora.

Para a professora Regina Helena, é preciso que fiquem claros para a população também quais são os reais interesses da Prefeitura com a reforma. “Existe em Brasília projeto de lei que prevê a volta dos cassinos em locais que já foram destinados a este uso. Se querem fazer de lá um cassino, digam. Há interesse que volte a ser cassino? Queria perguntar para a Prefeitura qual o compromisso dela com a edificação e também com o museu. A PBH não tem direito de fazer nada lá sem conversar com a gente”, disse a professora.  

Encaminhamentos

Devido à ausência da Prefeitura, a Comissão decidiu, em conjunto com os participantes, encaminhar vários pedidos de informação. Os pedidos serão enviados com o objetivo de esclarecer sobre o tempo e cronograma da obra de reforma, informações sobre o projeto, o corpo de servidores que trabalham no museu, construção de prédio anexo, o que a Prefeitura quer com o prédio, convênio com o Iphan, transporte do acervo e acesso ao acervo durante a reforma. O Comitê Permanente de Políticas de Acervo do MAP também vai enviar à Comissão cópias de cartas enviadas à Prefeitura, onde buscou esclarecimentos sobre o tema e não obteve resposta. As cartas serão anexadas aos pedidos de informação.

Os participantes também definiram que vão realizar um seminário que debata sobre as políticas de museus e seus acervos em Belo Horizonte. O seminário será realizado pela Câmara de BH em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e ainda não tem data marcada.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional

 

Audiência pública para discutir sobre o fechamento do Museu de Arte da Pampulha - 7ª Reunião Extraordinária - Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo