Condição feminina na educação em tempos de covid-19 é tema de debate
Estudos apontam que metade das mulheres cuidam de alguém e educadoras enfrentam o cansaço da “tripla jornada” durante pandemia
Foto: Alexandra Koch por Pixabay
Os desafios enfretados por educadoras no contexto da pandemia serão tema de audiência pública da Comissão de Mulheres nesta sexta-feira (26/3), às 10h, no Plenário Helvécio Arantes. Pesquisas apontam que a sobrecarga feminina, com o acúmulo de atividades profissionais e domésticas, se intensificou no cenário de combate ao coronavírus, período em que metade das brasileiras passou a cuidar de alguém. As mulheres também predominam nos trabalhos essenciais, em áreas como educação e saúde, sendo minoria, contudo, em postos de comando. Professoras e outras profissionais do setor, em atividade remota e cuidados com a casa e a família, relatam sobrecarga, cansaço e ansiedade. A audiência pública foi solicitada pela vereadora Macaé Evaristo (PT) e pela ex-vereadora Sônia Lansky da Coletiva, e tem entre os convidados professoras da rede municipal, Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal (Sind-Rede), Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, UFMG e União Colegial de Minas Gerais.
A pandemia evidenciou a sobrecarga feminina e levantou o debate sobre a necessidade de uma divisão mais equilibrada das tarefas entre homens e mulheres. No artigo “Reflexões sobre gênero e educação em tempos de pandemia”, texto integrante de uma parceria entre o Pensar a Educação, Pensar o Brasil 1822/2022 e o Instituto René Rachou (Fiocruz) para promover ações e reflexões em torno da educação para a saúde, publicado na rede em outubro de 2020, Brunah Schall, Polyana Valente, Mariela Rocha e Paloma Porto afirmam que, “enquanto as mulheres predominam nos trabalhos essenciais da pandemia, elas são minoria nas profissões ligadas à tomada de decisão e liderança”. As pesquisadoras citam o estudo da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2019, que informa que o Brasil está em 9º lugar entre os 11 países da América Latina no que diz respeito aos direitos políticos das mulheres e paridade políticas entre homens e mulheres. “A pandemia deixou evidente a predominância das mulheres em profissões ligadas ao cuidado, seja na área da educação, saúde e no trabalho em ambientes domésticos”, concluem.
“Tripla jornada”
A chamada “dupla jornada”, a responsabilidade pelo trabalho remunerado e pelas atividades domésticas, era uma realidade antes da pandemia: dados da ONU mensuraram que, em 2019, as brasileiras gastavam cerca de 8,1 horas semanais a mais em afazeres domésticos que os homens ocupados. Este quadro se agravou com a pandemia, uma vez que elas incorporaram outras tarefas à sua rotina. Metade das brasileiras passou a cuidar de alguém durante a pandemia, muitas delas sem apoio externo, segundo a pesquisa “Sem Parar: O trabalho e a vida das mulheres na pandemia”, realizada pelas organizações Gênero e Número e Sempreviva, de 2020.
No meio educacional, atividade predominantemente feminina, não foi diferente: professoras e outras profissionais do setor tiveram que conciliar a atividade profissional remota com os afazeres domésticos e o cuidado dos filhos, aumentando a sobrecarga em uma “tripla jornada”. A pesquisa “Sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do coronavírus no Brasil”, realizada pelo Instituto Península entre março e abril de 2020, mostrou que 70% desses profissionais afirmaram estar dedicando mais tempo à vida pessoal e familiar, e 67% afirmaram estarem se sentido “ansiosas”, 35%, “sobrecarregadas” e 27%, “frustradas”. Na última etapa da pesquisa, realizada em novembro, o sentimento de sobrecarga aumentou para 57% da amostra (dessa vez composta por 80% de mulheres); mais da metade (53%) também alegou estarem se sentindo “cansadas”.
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