CARNAVAL BH 2024

Números da folia bateram recordes, mas apropriação da festa foi criticada

BH recebeu 260 mil turistas e gasto médio/dia foi de R$ 397. Festa deve se tornar política pública ou expressão popular?

quarta-feira, 27 Março, 2024 - 16:00

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Cinco milhões e quinhentas mil pessoas participaram do Carnaval de BH em 2024. Destas cerca de 262 mil (16.7%), foram turistas vindo do interior, de outras partes do Brasil e até de outros países. A média de ocupação da rede hoteleira foi de 71% e o e gasto médio/diário foi de R$ 397. Os dados foram apresentados na manhã desta quarta-feira (27/3), em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo. Integrantes de blocos afro e alternativos queixaram-se da ocorrências de racismo e da institucionalização da festa por parte da Prefeitura e do governo do Estado, especialmente multas de R$ 30 mil aplicadas aos blocos espontâneos. Cida Falabella (Psol), uma das autoras do pedido de debate, contou que um dos objetivos do Grupo de Trabalho (GT) do Carnaval mantido pela Câmara Municipal é buscar tornar a Festa de Momo uma política pública.

Vontade do povo de estar na rua

A retomada do Carnaval de BH a partir na última década está sendo contada pelo jornalista Artênius Daniel, no seu livro BH 110 anos.  Na obra, o escritor lembra que antes da fundação da nova Capital de Minas Gerais, a então Curral Del Rey já convivia com expressões culturais, e que comunidades como a Pedreira padro Lopes, fruto de um processo de higienização do ‘que não cabia dentro do Contorno’, foi o berço do samba na cidade. “Em 2010, foi criado o Praia da Estação. O questionamento era sobre o que era evento e o que era expressão da cultura. Então, o carnaval de BH não é um evento isolado, mas vem da vontade do povo de estar na rua, de existir e de se manifestar, onde o dinheiro não pode ser o mais importante”, contou.

Mas a festa cresceu e o dinheiro veio junto. Dados da Belotur mostram que o gasto médio/diário do turista em BH nos dias de folia foi de R$ 397. Na festa por onde circularam cerca de 5,5 milhões de pessoas, 260 mil vieram de outras partes do estado, do país e do mundo. Segundo Natália Reis, diretora de Eventos da Belotur, cerca de 80 mil chegaram por meio das rodovias e outras 80 mil por meio de aeroportos. A melhoria na segurança foi percebida por 67% do público e 84.8% pretendem voltar à cidade.

Já os blocos de rua receberam uma subvenção de R$ 1.6 milhões e, ao todo, 418 desfiles foram realizados. Treze mil cabines de banheiros químicos foram disponibilizadas, sendo 282 acessíveis para a pessoa com deficiência. Para Natália Reis, o Carnaval de BH é prioridade para a Belotur e a ideia, segundo a diretora, é deixar tudo bem estruturado para a festa em 2025. “Para além da cultura, acreditamos também no potencial turístico da festa para a cidade”, afirmou.

Carnaval como política pública

A Diretoria de Promoção das Artes da Fundação de Cultura trouxe números de eventos realizados nos centros de cultura, que no pré-carnaval receberam cerca de 10 mil participantes em 70 atividades realizadas e construídas com a participação da comunidade local. Segundo Paula Senna, que dirige a pasta, durante todo o ano os centros de cultura ainda receberam ensaios de blocos, e teatros também foram abertos para estes eventos. “Entendemos que este esforço da deputada Bella Gonçalves é muito importante, porque mesmo com 17 centros não conseguimos atender toda a demanda dos blocos da cidade”, explicou.

O esforço citado pela diretora da Fundação de Cultura é um diálogo que a deputada Estadual Bella Gonçalves disse que espera fomentar junto ao Município para a utilização de espaços públicos como galpões e barracões para as agremiações carnavalescas. Segundo a deputada, que também esteve na audiência, essa é uma das premissas para que o carnaval se torne uma política pública perene na cidade. “A expectativa é construir uma lei de modo que o carnaval seja uma política pública para todo o ano. Ele acontece o ano inteiro na produção cultural, organização comunitária, na produção de carros alegóricos e fantasias. Eles precisam de espaços próprios e ações junto à comunidade o ano inteiro”, afirmou.

Apropriação e multa

Já Karen Abreu, que integra blocos tradicionais como Toca Raul e Mama na Vaca, que nasceram lá do movimento Praia da Estação, disse que o poder público está fazendo é uma apropriação do carnaval da cidade e classificou a atitude como vergonhosa. A musicista, que defende a festa como uma manifestação espontânea da população, também queixou-se de multa aplicada pela Prefeitura aos blocos não cadastrados. “Blocos espontâneos recebram multa da PBH de R$ 30 mil. Isso é inadmissível. Esse é um movimento que está acontecendo no mundo inteiro, de ocupação do espaço urbano. E é isso que o carnaval faz. É um absurdo que venha uma fiscalização dizendo que a gente não pode estar lá. O direito à manifestação é constitucional e essa institucionalização do carnaval é uma vergonha”, declarou.

Dizendo também dos problemas da festa, Pai Ricardo, do Bloco Afro Orisamba, denunciou episódios de racismo durante a festa. Para o carnavalesco, a festa está maior, mas os problemas também. Quando a festa termina, entretanto, não há a quem recorrer. "Não temos resoluções dos problemas. Você tem um problema e leva na Belotur e ela fala: 'mas o carnaval já acabou'. Temos um monte de coisa para resolver no pós-carnaval, mas agora não temos nenhum órgão que cuida disso”, criticou.

Recomendações do GT

A vereadora Cida Falabella lembrou diversas ações que o GT do Carnaval manteve nos anos de 2022 e 2023, e disse que entre as recomendações feitas pelo grupo estão a criação de uma política pública que possibilite que o carnaval exista durante o ano todo; a maior interlocução entre Prefeitura de BH e Governo do Estado de Minas Gerais; o aumento nos auxílios financeiros dados às agremiações; a antecipação das datas destes repasses; uma linha de fomento para blocos de médio e grande porte; o financiamento próprio para os blocos afro; a criação de sedes, quadras e barracões para as escolas de samba; a ampliação do diálogo com a segurança pública, em especial para os momentos de dispersão; e a simplificação dos processos de licitação.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater a realização do Carnaval 2024 - 7ª Reunião - Ordinária - Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo