Médicos e especialistas sugerem ampla divulgação dos benefícios da Pet Terapia
Profissionais de saúde, cuidadores e pessoas beneficiadas relataram resultados positivos da interação com os animais
Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH
Fisioterapeuta, psicóloga, pediatra, oncologista, cuidadora de idosos, treinadores de cães e pessoas comuns que testemunharam os efeitos positivos da interação com animais sobre a saúde física, psíquica e emocional de pacientes em processo de tratamento e reabilitação defenderam e recomendaram a Terapia Assistida por Animais, ou Pet Terapia, em audiência pública realizada nesta quinta (20/6) na Comissão de Saúde e Saneamento. Requerente do debate, Wilsinho da Tabu (Pode) solicitou a colaboração de todos para a construção de normas e diretrizes que favoreçam a expansão dessa prática; os participantes sugeriram maior divulgação da lei que autoriza a entrada de pets nas instituições de saúde, conscientização de gestores e da população em geral sobre os benefícios da cinoterapia ou da simples visita de animais, vencendo preconceitos e receios que ainda persistam.
Wilsinho da Tabu resumiu levantamento da consultoria da Câmara sobre o tema. O relatório informa que, no Brasil, os primeiros registros da Terapia Assistida por Animais (TAA) datam dos anos 50, quando a psiquiatra Nise da Silveira incluiu animais no tratamento de pacientes do Centro Psiquiátrico D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Em geral, os cães são os escolhidos para aplicação da prática que, através da relação humano-animal, promove a saúde física, social e emocional e melhoria das funções cognitivas, contribuindo efetivamente no tratamento e na recuperação do paciente. A TAA, no entanto, ainda não consta entre as Práticas Integrativas e Complementares (PICs) oferecidas no Sistema Único de Saúde (SUS). Quando foram introduzidas, em 2006, eram apenas cinco; a incorporação de 24 novas modalidades ao longo do tempo sinaliza a possibilidade de incluir a TAA, cada dia mais reconhecida em todo o mundo. Em resposta a indicação da comissão, há pouco mais de um ano, a Secretaria Municipal de Saúde alegou não dispor dos recursos financeiros, humanos e logísticos necessários para implantação e manutenção da TAA nos serviços da rede (convidada para a audiência, a pasta não enviou representante).
Mencionando a Lei 11.694, de 24 de maio de 2024, que dispõe sobre a visita de animais de pequeno porte a pacientes internados, Wilsinho considerou que a autorização expressa da legislação para a entrada dos pets em hospitais, condicionada a normas e requisitos de higiene e segurança, pode aumentar a frequência e naturalizar a presença deles nesses ambientes, favorecendo a aceitação e o uso da TAA por pacientes, familiares e comunidade hospitalar. Autor da lei e militante da causa animal, Wanderley Porto (PRD) disse que já acompanhou diversas visitas de pets e presenciou a transformação do ambiente e a reação dos pacientes. Para ilustrar, o parlamentar exibiu um vídeo em que um idoso acamado, que não respondia a estímiulos, esboçou reação positiva ao acariciar sua cadela de estimação, emocionando a família e os médicos; poucos dias depois, teve alta. Membros da Comissão de Saúde, Reinaldo Preto Sacolão (DC) e Helinho da Farmácia (PSD) relataram histórias de pessoas próximas em que o convívio com um cão fez a diferença e se dispuseram a colaborar no que estiver a seu alcance.
“Leveza e alegria”
A “cãoterapeuta” e cuidadora de idosos Cláudia Martins, da Homecare Anjos do Bem, testemunhou os resultados impressionantes do contato e interação dos pacientes com os cães e agradeceu a Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, que abriu as portas para a TAA, inicialmente para idosos internados e depois para outros setores e públicos. A cuidadora ressaltou que, para garantir o sucesso da prática, o animal deve ser devidamente adestrado, castrado, vacinado e acompanhado regularmente por um veterinário. “As pessoas mudam completamente quando ele chega”, relatou, referindo-se ao cão Dexter, que a acompanha nas visitas. Profissionais que convivem com a prática confirmaram os benefícios, que superam amplamente os riscos se cumpridos os pré-requisitos e tomados os devidos cuidados.
Lorena Costa, que representou o provedor da Santa Casa, Roberto Otto, a oncologista pediátrica Fernanda Tibúrcio e a psicóloga Juliana Amorim, que integram a equipe da instituição, reforçaram que a leveza e a alegria proporcionadas pela presença dos cães quebra a rotina, ameniza tensões e sofrimentos e favorece o bem-estar e a resiliência das crianças, dos familiares e até dos profissionais da saúde, que enfrentam tratamentos agressivos e um cotidiano desgastante.
Também pioneiro na TAA, o Hospital Paulo de Tarso foi representado pela gestora Elaine Ribeiro e pelo coordenador de Reabilitação, Igor Vieira, que defendem o crescimento e a difusão dessa prática em todo o sistema de saúde da cidade. A executiva informou que a instituição mantém parcerias para receber visitas de pets, que pode ser o do próprio paciente, e aplicação da cinoterapia, em que o cão atua no tratamento. O fisioterapeuta explicou que, além dos efeitos emocionais positivos da interação e troca de carinho com o animal, a cinoterapia trabalha a mobilidade dos reabilitandos, minimizando sequelas e acelerando a recuperação. “É nítido, a fisionomia muda de imediato”, observou.
Conforto e segurança
Parceira das instituições, a Polícia Civil realiza um elogiado trabalho de treinamento e condução de cães terapeutas. Segundo os investigadores Mateus Costa e Lídia Mary, que atuam na atividade, é provado cientificamente que a simples presença e contato visual ou físico com o animal libera uma cascata de neurotransmissores e hormônios do bem estar, funcionando como antidepressivo natural. Além disso, a participação dos cães aumenta a motivação e o ânimo para prática de exercícios na fisioterapia. Os policiais reiteraram que a mudança de semblante de pacientes, médicos e funcionários é perceptível. “O cão arranca sorrisos e até lágrimas de felicidade”, brincou Mary, recomendando que todos os hospitais e médicos tenham a mente e as portas abertas para a TAA.
Os profissionais ressaltaram que, para prevenir contaminações e garantir a segurança e o conforto do paciente e do pet, existe todo um trabalho de preparação do animal, que passa pela análise psicológica do perfil e aptidões, adestramento, cadastramento, avaliação das condições de saúde e higiene, vacinação. A adaptação do ambiente e a aceitação da comunidade hospitalar (“alguns pacientes e familiares não gostam, outros querem ficar mais tempo com eles”) também tem evoluído, e a tendência é ampliar e melhorar esse contexto. Não se deve desconsiderar, no entanto, a importância da adoção de protocolos, já que os pacientes podem apresentar imunodeficiências, alergias, fobias ou outras condições que restringem o contato com animais.
Entre os relatos de experiências e exemplos de histórias bem sucedidas, tutores e “mães” de pet testemunharam a própria evolução, melhoria das condições de saúde física e mental e a “verdadeira mudança de vida” trazida por seus cães.
Papel do Legislativo
Wilsinho da Tabu admitiu que ele mesmo não via com bons olhos a presença de animais em hospitais, mas ao tomar conhecimento de diversos casos de sucesso, alguns até surpreendentes, mudou de ideia a respeito e decidiu se empenhar na difusão e fortalecimento da TAA em BH. Segundo ele, a causa ganhou muito nesta legislatura com a chegada de vereadores militantes na defesa dos animais, e certamente vai avançar ainda mais. Wilsinho destacou ainda a ampliação dos debates sobre a questão na Casa e o instrumento das emendas impositivas, criado nesta legislatura, que possibilita a destinação de recursos a instituições e ações específicas pelos parlamentares, especialmente na área da saúde.
Para incentivar a adoção da prática de forma consciente, responsável e eficaz, solicitou aos participantes que, baseados em seu conhecimento e experiência, apresentem sugestões para subsidiar a proposição de ações e leis que, contribuindo para a regulamentação e implantação segura da modalidade, incentive sua aplicação na rede municipal. Além da destinação de recursos e ampla divulgação da Lei 11.694, informando a população sobre essa possibilidade, foi sugerida a realização de oficinas educativas para acompanhantes, explicando como funciona, o que deve ou não ser feito, e conscientização da sociedade para superar barreiras culturais para que a TAA seja levada a sério e cada vez mais requerida por médicos e pacientes.
Superintendência de Comunicação Institucional