Audiência faz balanço do Carnaval 2025 em Belo Horizonte
Blocos de rua pediram mudanças na dispersão dos foliões; escolas de samba e blocos caricatos relataram falta de apoio da PBH

Foto: Rafaella Ribeiro/CMBH
Com a participação de representantes de escolas de samba, blocos caricatos e blocos de rua, além de instâncias da Prefeitura, a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo realizou uma audiência pública nesta quarta-feira (19/3) para discutir os resultados do último Carnaval belo-horizontino. Cida Falabella (Psol), que presidiu a reunião, defendeu que o Carnaval não seja encarado como um evento apenas, devendo, de acordo com ela, ser entendido a partir de sua importância cultural e econômica, a qual permanece ao longo do ano. Ela salientou que muitas pessoas se mobilizam durante todo o ano para que o Carnaval de BH aconteça com seus milhares de foliões. A parlamentar ressaltou que deseja que a celebração cresça e atraia mais foliões, mas sem perder sua identidade única. A Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur) apresentou dados sobre a festividade, como perfil dos foliões, movimentação econômica e a opinião do público. Convidados representando o carnaval de rua e de passarela sugeriram que a Belotur divida a organização com a Secretaria de Cultura e defenderam a diminuição da burocracia para participação de editais, mais agilidade no repasse de verbas de fomento e mudança no protocolo de dispersão de blocos. Além disso, devido à ausência de representantes do Estado, foi feita articulação para uma nova audiência com o mesmo tema na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que já está marcada para o próximo dia 27.
Identidade única
Uma das características mais mencionadas durante a audiência foi a autenticidade do Carnaval de Belo Horizonte. A diretora-presidente da Belotur, Barbara Mundim Menucci, afirmou que a festa encanta as pessoas porque cria uma conexão de pertencimento da população com a cidade. “E embora esteja crescendo em número de foliões, a gente precisa destacar que há preservação da identidade acolhedora, segura e diversa do Carnaval”, declarou.
A presidente da Belotur apresentou dados que, segundo ela, “ajudam a evidenciar porque esse carnaval é tão único”. Foram 460 blocos de rua, 99 desfilando pela primeira vez. Houve um aumento de 70% na participação de blocos no edital de subvenção da Belotur, que registrou 105 participantes. Em relação aos blocos caricatos, através de lei aprovada na Câmara, foi possível aumentar em 40% o fomento. Ela lembrou também que é a primeira vez, na cidade, que o Carnaval acontece com uma mulher à frente da Belotur.
A estimativa é que a cidade tenha contado com 6,05 milhões de foliões, 82% moradores e 18% turistas vindos principalmente do interior de Minas, São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Paraná. Ainda segundo a Belotur, as festas aqueceram o setor hoteleiro e gastronômico, e calcula-se que a movimentação financeira tenha sido de cerca de R$1,2 bilhão, com base nos gastos no evento. Foram feitas pesquisas de satisfação com o público, e o resultado foi que 70,4% dos foliões consideram que o carnaval de Belo Horizonte melhorou, e as expectativas foram plenamente atendidas ou superadas para 90% dos turistas e 82,4% dos moradores.
Outro assunto abordado foi uma declaração do prefeito em exercício, Álvaro Damião (União), a respeito de sua intenção de ter grandes atrações no Carnaval, e como isso impactaria os blocos mais tradicionais. “A gente não pode esquecer que o Carnaval de BH é muito autoral, e a gente luta muito por isso”, afirmou a presidente do bloco Então Brilha, Mariana Fonseca. Ela relatou que o grupo fez um concurso de músicas autorais que foi “um sucesso”. Ela esclareceu que não é contra os grandes shows, mas deseja que o investimento seja equilibrado, com o mesmo valor para os blocos locais.
Carnaval de Passarela
Representantes de escolas de samba e dos blocos caricatos chamaram atenção para a falta de visibilidade do chamado “carnaval de passarela”. Em nome do Fórum das Escolas de Samba do Conselho Municipal de Política Cultural (Comuc), Mário César de Almeida enfatizou que as escolas de samba lutam desde 1937, com desfiles ininterruptos desde 2003, porém, não vê avanços significativos nos incentivos e estrutura. Ele lembrou que em 22 anos já tiveram três lugares diferentes de desfile, “nem nosso palco é tradicional”. O convidado completou dizendo que as escolas não têm espaço nem para reuniões, nem para os carros alegóricos e cobrou mais incentivo do poder público.
Presidente da Escola de Samba Triunfo Barroco, Alvimar Neri disse que percebe um “esforço estratégico” de apagamento do Carnaval de passarela. Ele relatou, ainda, conversas com a Belotur sobre a necessidade de mais divulgação, contudo, segundo ele, a solicitação não foi atendida como esperado. Neri também pontuou que as escolas precisam de uma sede para realizar ações continuadas e gerar pertencimento, sendo essa uma questão importante para as agremiações. Por fim, ele pediu para que a gestão da festa passe para a pasta municipal de Cultura e demandou que os desfiles das escolas ocorram em três dias, em vez de dois, já que nesse ano houve desfiles de escolas na parte da manhã. “Fizemos mais um Carnaval na resistência, fico perguntando até quando vamos ficar resistindo”, acrescentou.
Em relação à demanda para que a Secretaria de Cultura assuma o carnaval, a secretária municipal, Eliane Parreiras, destacou que tem buscado aprofundar cada vez mais essa relação com a Belotur. “Eles têm conhecimento especializado para a operação nesse período do Carnaval, mas a gente tem plena consciência que a cultura do Carnaval é o ano inteiro”, disse a secretária. Ela concordou que as instâncias precisam estar em diálogo para a construção do Carnaval e sugeriu que a Cultura trabalhe junto a Belotur no edital, discutindo sobre a implementação de aperfeiçoamentos com blocos e escolas.
Diversidade e função social
A capacidade de reunir diferentes grupos dentro das comemorações foi um dos destaques abordados durante a reunião. Juhlia Santos (Psol) acentuou que o carnaval é o momento em que as pessoas se organizam para manutenção e discussão de seus direitos, e que a festa comporta todo mundo, com blocos para adultos, crianças e idosos de todos os gostos. Iza Lourença (Psol) reiterou o aspecto da diversidade, defendendo que isso precisa ser valorizado para que Belo Horizonte possa, de fato, afirmar que tem o melhor carnaval do Brasil.
O representante do Fórum das Escolas de Samba reforçou ainda a função social dessas instituições, que seriam uma “síntese da sociedade”, abrigando todo tipo de perfil de indivíduos. Ele declarou que as escolas podem contribuir muito mais com a cidade, mas para isso precisam de ajuda para sobreviver e crescer. “Toda favela de Belo Horizonte precisa de uma escola de samba, ela é esse braço social e educativo que o governo não alcança”, continuou Mário César que, emocionado, acrescentou: “quero ser sambista sem deixar de ser favelado, sem deixar de ser negro”.
Representante dos blocos afro, Gabriel Moura afirmou que o carnaval no município tem semeado bons frutos e que a cultura tem um papel fundamental, que passa pela educação, saúde e segurança, mostrando que a integração dessas áreas tem resultados positivos. Ele ressaltou que o carnaval também é um lugar de formação, que cria oportunidades de trabalho e movimenta a cidade com o turismo, bem como atrai pessoas em outros momentos do ano, que retornam após a experiência positiva.
Segurança e logística
De acordo com informações da Belotur apresentadas pelo diretor geral de Operações da Guarda Municipal, Adriano Morais, o número de ocorrências registradas diminuiu de 115 em 2024 para 23 em 2025 (considerando somente flagrante delito). Também foi observada diminuição nas ocorrências de dispersão dos blocos. A segurança nas festividades foi feita com o apoio de mais de 50 drones e com o aumento no número de câmeras de monitoramento. No entanto, tanto vereadoras como representantes de blocos relataram ações da Polícia Militar as quais classificaram como truculentas. Tais ações estariam se repetindo nos mesmos locais e, diante disso, foi solicitado que o protocolo de dispersão seja revisto.
Em relação à logística, a Belotur informou que a mudança dos desfiles dos blocos caricatos e escolas da Avenida Afonso Pena para a Avenida dos Andradas foi positiva, com melhor iluminação e sonorização. Porém, o representante da Associação dos Blocos Caricatos de BH, Jairo Moreira, discordou em certos aspectos. Segundo ele, a passarela não foi pensada por quem faz o carnaval, e sim imposta pela Belotur. Além disso, ele aponta que mesmo tendo sido chamados para participar de reuniões sobre a organização, não foram realmente ouvidos. Ele também reclamou sobre a dificuldade em contatar a Belotur, e afirmou que foi chamado para conversar muito tarde, quando já não havia tempo hábil para mudanças. Uma das principais insatisfações apresentadas diz respeito ao ponto designado para a concentração das escolas, que, segundo ele, gerou problemas, inclusive, um “quase atropelamento”.
A Belotur se comprometeu a fazer workshops durante o período de pós-Carnaval com o objetivo de promover um balanço de tudo o que envolveu a folia em BH neste ano de 2025 e ouvir os envolvidos. Além disso, o tema será debatido em audiência na ALMG no dia 27 de março.
Assista à reunião completa.
Superintendência de Comunicação Institucional