Legislação proibitiva prejudica divulgação de informações, critica desembargador
Especialista em marketing político afirma que utilização estratégica de redes sociais está entre as condutas de um bom candidato

Críticas às muitas proibições e à constante mudança da legislação a cada nova eleição foram apresentadas no seminário realizado nesta quarta-feira (11/7), na Câmara de BH, pela Comissão de Legislação e Justiça. O evento, que contou com a participação do desembargador Doorgal Gustavo Borges de Andrada e do professor e especialista em marketing político Daniel Machado abordou também estratégias comunicacionais de sucesso utilizadas por candidatos em suas campanhas.
Na abertura do evento, o vereador Irlan Melo (PR), autor do requerimento que deu origem ao seminário, afirmou a importância de quem exerce ou disputa um cargo político manter-se informado sobre normas e vedações da legislação eleitoral, que tem passado por constantes e recentes mudanças no país. “Mesmo não sendo pré-candidato nas próximas eleições, acho essencial trazer esse debate para esta Casa, sobretudo porque a democratização da informação é condição para que os postulantes ao mandato eletivo entendam as regras do jogo”, declarou.
Doorgal iniciou sua fala destacando a mudança de sentimentos relacionados ao momento eleitoral. Para ele, o processo, que deveria ser de alegria e de festa, de disputa e de chuva de informações, encontra-se dominado pelo medo, diante de tantas restrições. Não impostas pelo Judiciário, mas colocadas pelo próprio legislador, elas dificultam a divulgação de informações ao eleitor. “Quanto mais informação e mais transparência, melhor; as coisas não ficam escondidas. A política deve ser mostrada, divulgada, até com briga e bate-boca”.
Segundo o desembargador, o cerceamento da divulgação das ideias prejudica o processo eleitoral, dando mais chances aos candidatos mais conhecidos, que já estão na mídia. Além disso, ele afirma que a política brasileira tem ficado dentro da justiça e que isso não é saudável para a democracia. “A solução do mundo passa pelo diálogo, pela conversa e não pela justiça. A presença massiva do Judiciário na mídia é um péssimo sinal”.
Outra questão levantada no seminário foi a forte presença e influência das redes sociais no processo eleitoral. Atualmente, de acordo com Doorgal, para um candidato ganhar as eleições, não basta ter competência, mas boas assessorias jurídica e de marketing, principalmente, voltadas para a correta utilização das novas tecnologias e mídias. O desembargador também criticou a proibição de contribuição financeira de pessoas jurídicas, dizendo que o ideal seria a definição de um valor fixo.
Nova legislação
Dentre as mudanças da lei eleitoral destacadas por Doorgal estão: a possibilidade de parcelar a multa recebida, no caso de descumprimento de algum item da legislação, em até 60 vezes, e o afastamento de muitos partidos políticos do processo, uma vez que só receberão benefícios, como verbas e tempo de televisão, partidos com mínimo de 1,5% de votação nacional. De acordo com ele, se essa lei estivesse vigorando há quatro anos, 15 partidos não funcionariam atualmente. “A cláusula de barreiras é necessária, pois é difícil governar com tantos partidos, provoca uma insegurança”.
Além disso, a lei proíbe a utilização de carro de som, a menos que esteja acompanhado pelo candidato e não seja o dia da eleição, e o uso de imagens com montagens, como animações e legendas.
Estratégias políticas
Para o professor e especialista em marketing político Daniel Machado, o desafio é buscar o eleitor e não o voto. “O voto está na mão do eleitor e tem tempo de validade muito curto”, afirma. Nesse sentido, o marketing político deve ser permanente, principalmente, nesse período de crise, em que as pessoas estão mais distantes, com vergonha e insatisfeitas com os políticos, e que há escassez de recursos.
De acordo com Daniel, o foco do projeto político do candidato deve ser aproximar-se do seu eleitor. Para isso, indica cinco eixos para serem seguidos: a articulação social e política planejada; a pesquisa e o uso adequado das informações extraídas dela; o discurso, não só o falado, mas o apresentado implicitamente pela postura e pelas imagens; a comunicação, que tem o papel de criar escuta e interação; e a mobilização das massas.
Segundo o especialista, hoje há canais para a militância digital, sendo possível trabalhar nas ruas e nas redes de maneira igual. “Somos impedidos de algumas ações, como o velho carro de som, mas temos um mundo digital à nossa frente. Apesar das mídias sociais estarem sendo utilizadas para a desinformação, por meio das Fake News, é um importante instrumento de comunicação”.
Superintendência de Comunicação Institucional