Comissão ouve dirigentes de escolas particulares e pesquisador da UFMG
Encontro também aprovou audiência pública com donos de academias e reunião com representantes do governo do Estado e do 3º setor
Foto: William Delfino/CMBH
BH pode ganhar nas próximas semanas um importante aliado no controle da propagação do coronavírus na cidade: o sistema de testagem por grupo. O método, inspirado em esquema similar que testou soldados durante a II Guerra Mundial, vem sendo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e foi apresentado na manhã desta terça-feira, (2/6), durante a terceira reunião da Comissão Especial de Estudo – Enfretamento da Covid-19. No encontro, foram ouvidos também representantes de dirigentes de escolas particulares da cidade, que relatam fechamentos de diversas unidades de educação infantil, por falta de condições financeiras de se manterem. O relator da Comissão, vereador Fernando Borja (Avante), fez críticas ao Executivo em relação à sua demora na retomada das atividades comerciais na cidade, e denunciou a Prefeitura por superfaturamento na compra de máscaras de proteção. Foi aprovada ainda uma audiência pública com representantes de academias da cidade e reuniões com o subsecretário estadual de Governo, com o fundador da plataforma Colab e com a presidente da Câmara do Mercado Imobiliário CMI-Secovi/MG.
Seis testes para 100 pessoas
Convidado pelo vereador Gabriel (Patri), o professor Ricardo Takahshi, do Departamento de Matemática de Ciências Exatas (ICEx), apresentou o modelo que vem sendo desenvolvido pela Força-Tarefa de Modelagem da Covid-19, sediada na UFMG, que utiliza a estratégia de aplicação da testagem em grupo e que possibilita uma grande expansão da atual capacidade de exames laboratoriais. Segundo o professor Takahashi, o modelo foi utilizado em 1943, durante a II Guerra Mundial, onde os soldados foram acometidos por um surto de sífilis. Na época, como a quantidade de testes era limitada, optou-se por analisar amostras misturadas de grupos de 50 soldados, se o resultado final fosse negativo, todo o grupo estava saudável; porém, se o resultado desse positivo, cada um do grupo era testado individualmente. Segundo Takahashi, o modelo é mais eficiente quando a localidade tem baixa prevalência da doença, como é ainda o caso de BH frente à epidemia. “Poderíamos tomar grupos de 32 pessoas, se um deles desse positivo, aí então testaríamos cada uma delas; seriam seis testes para mais de 100 pessoas” esclareceu o professor, lembrando que isso já seria um grande avanço, pois hoje a cidade testa apenas pacientes internados e que apresentam quadro sintomático. Ainda segundo o pesquisador, os primeiros contatos para a implantação do sistema já foram iniciados com a Prefeitura, porém o Executivo teria informado sobre a falta de swabs, que são os cotonetes, para a coleta da secreção.
Perguntado sobre como a cidade poderia melhor se preparar para a retomada da atividade comercial, o professor sugeriu a viabilização, pelo poder público, de locais para quarentena, para pessoas que não tivessem condições de se isolar – na Espanha, por exemplo, isto foi feito utilizando quartéis militares; bem como a medição diária de temperatura, e encaminhamento para assistência médica em casos de febre, de funcionários/colaboradores das empresas que tiverem autorização para retorno das atividades.
Evasão e falências
Parte da reunião foi também para ouvir os relatos de dirigentes de escolas da educação infantil da rede particular da cidade. Henrique Lopes, da Escola em Movimento, entidade que reúne diversas unidades, contou que num prazo de 20 dias, a cidade deve perder cerca de 50 escolas, que serão fechadas por inadimplência ou evasão escolar, pois os pais tiraram os filhos da escola. Segundo Lopes, que afirma que a escola particular não pode acompanhar os critérios de reabertura do sistema público, pois eles são empresas, com contas e funcionários a pagar, a falência destas escolas é um problema para a cidade que hoje já sofre com déficit de vagas. “A rede pública vai conseguir absorver hoje 3 mil alunos? Não é uma questão de desigualdade, mas não podemos pensar que só quando voltar o público é que voltaremos com a privada”, questionou.
Academias, tecnologia colaborativa e Igam
Além de ouvir os convidados, o Colegiado aprovou diversos requerimentos que integravam a pauta. Dentre as proposições que receberam parecer favorável está a realização de uma audiência pública com os donos de academia da cidade, bem como a realização de quatro reuniões, tendo como convidados: 1º) o subsecretário de Vigilância em Saúde/MG, Dario Ramalho, para falar sobre a subnotificação dos casos de Covid-19 no Estado; 2º) o CEO e Fundador da Colab, Gustavo Maia, para debater sobre tecnologia com colaboração do cidadão e do governo no combate à Covid; 3º) a presidente da CMI Secovi/MG e coordenadora de Inovação da CBCSI/CNC, Cassia Ximenes, para debater as medidas de estímulo à economia municipal; e 4º) a diretora-geral do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (lgam), Marília Carvalho para falar sobre a possibilidade do vírus estar presente na rede de esgoto e quais as suas consequências.
As reuniões ficaram agendadas para o próximo encontro da Comissão, terça-feira, (9/6). Já a audiência pública com as academias ficou agendada para a terça-feira seguinte (16/9). Solicitado pelo vereador Professor Juliano Lopes (PTC), o encontro terá o objetivo de debater a reabertura das academias, centros de ginástica, quadras esportivas, escolas de artes marciais e similares, aplicadas, com o rigor necessário, todas as medidas de segurança a fim de prevenir a transmissão do coronavírus. Segundo o parlamentar, a situação do setor vem se agravando e um plano de reabertura precisa ser pensado conjuntamente. “A cidade tem mais de mil academias, que atendem a mais de 40 mil pessoas. O isolamento traz impacto físico e emocional e estes lugares são essenciais para curas de doenças como a depressão”, justificou o vereador, lembrando que mais de 70% das unidades funcionam em imóveis alugados.
Pedidos de informação e superfaturamento
Foram também aprovados pelos vereadores pedidos de informações destinados a diferentes órgãos. Assinados pelo vereador Gabriel, foram encaminhados ao Gabinete do prefeito pedidos de esclarecimentos sobre as declarações dadas no dia 29 de maio sobre o cronograma de flexibilização das atividades econômicas, bem como sobre o retorno das atividades escolares na cidade. Já o vereador Professor Juliano Lopes enviou pedido de informações à secretária municipal de Política Urbana, Maria Caldas, e ao Gabinete do prefeito acerca dos novos procedimentos para emissão de baixa de construção (habite-se). Segundo o parlamentar, o documento que antes era emitido a partir da vistoria de um engenheiro da Prefeitura, agora é feito por uma empresa privada, por meio de um drone, ao custo de R$ 15 mil para o contribuinte.
Também pedindo informações ao Executivo, requerimento do vereador Fernando Borja, pede explicações detalhadas sobre os processos de dispensa de licitação de compras de máscaras descartáveis e de tecido para a distribuição na rede de saúde municipal e na cidade. Segundo Borja, haveria evidências de superfaturamento da compra dos itens. “Como uma máscara pode custar de 120 a 150% a mais [os valores teriam passado de R$ 1,98 para R$ 3,85]. Tem alguém ganhando. Que venha a Polícia Federal fazer uma investigação. Já entramos com o pedido de impedimento do prefeito e que ele seja julgado pela população”, declarou.
Participaram da reunião os vereadores Bella Gonçalves (Psol), Dr. Bernardo Ramos (Novo), Fernando Borja, Gabriel, Jair Di Gregório (PSD), Professor Juliano Lopes, Wesley Autoescola (Pros) e a presidente da Câmara de BH, Nely Aquino (Pode).
Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional