CPI DA BHTRANS

CRTTs reforçam poder de mando das empresas do transporte coletivo

Integrantes das Comissões Regionais de Transporte e Trânsito relataram deficiências do sistema e descrença sobre mudanças

quarta-feira, 23 Junho, 2021 - 18:15

Foto: Abraão Bruck/CMBH

Ônibus lotados, veículos sujos e sem álcool em gel. Estas são algumas das principais reclamações listadas por integrantes das Comissões Regionais de Transporte e Trânsito (CRTTs), ouvidos na manhã desta quarta-feira (23/6) pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da BHTrans. Dezesseis representantes das Regionais Leste, Centro-sul, Barreiro, Pampulha e Oeste reconheceram a importância do espaço de participação popular, porém citaram falta de retorno da empresa municipal quanto a problemas do transporte coletivo, como mudanças de itinerários, quadro de horários das viagens e superlotação. Algumas CRTTs também se posicionaram descrentes quanto aos trabalhos da CPI, ao que os vereadores responderam pedindo resiliência, pois trata-se de um momento conjuntural diferente dos anteriores.

Muita demanda e pouco retorno

As demandas vêm de pontos diferentes da cidade, porém as reclamações são muito parecidas. Trazidos pelos integrantes das CRTTs, os relatos sobre o trabalho desenvolvido são de muitas queixas e pouco retorno por parte da empresa municipal. Criada na década de 1990, na gestão do então prefeito Patrus Ananias, a CRTT, que é um espaço de participação popular, está presente em todas as regionais da cidade e tem sofrido interferência política e descrédito por parte da população.

O presidente da Associação de Moradores do Bairro Buritis, Rômulo Belfort integra a CRTT Oeste há oito anos e conta que, embora haja trechos do bairro que não são atendidos pelo transporte público, não se consegue avanços nos pedidos feitos. “Fazemos a solicitação na BHTrans e quando conseguimos um teste operacional as próprias empresas decaem porque não é interessante para elas. Visam apenas o lucro”, contou.

Reginaldo Dória é membro da CRTT Pampulha e compartilha da mesma opinião. Segundo Dória, diversos são os pedidos da comunidade que chegam à comissão, mas que não ganham resolutividade. “Se você tiver de mudar o itinerário de uma linha em um metro você não consegue. Elas (as empresas) justificam que é o contrato e não fazem”, relatou.

Embora as demandas do transporte tenham maior dificuldade em serem atendidas, as solicitações em relação ao trânsito também parece ser alvo de queixas. O pedido para a instalação de um semáforo na Rua Turquesa, no Bairro Prado, foi negado à CRTT da Regional Oeste. Oswaldo Berutto, que é membro da comissão, conta que um laudo da BHTrans foi o que definiu a negativa. “Ela (BHTrans) disse que ali é trânsito local, porém o que ela não entende é que ali na verdade é um trânsito desviado do Contorno. Não conseguimos atravessar a rua, já tivemos até atropelamentos lá e a empresa não enxerga”, lamentou Berutto, que disse ainda já ter feito diversas reclamações em relação à fiscalização da superlotação dos ônibus, sem entretanto, obter retorno.

A superlotação dos veículos durante o período da pandemia também foi uma questão unanime trazida pelos integrantes das CRTTs, que se queixaram ainda das condições de higiene dos veículos e da ausência do álcool em gel. “Vejo a PBH fechar comércios, mas com as empresas nada é feito. Não ouvi nada sobre nenhum empresário respondendo pela superlotação dos ônibus, que acredito foram os grandes vetores desta doença. Uma ação criminosa”, afirmou Berutto, dizendo que a impressão é de que as empresas de ônibus compraram a cidade. 

A serviço das empresas e concessão por longos anos

E a impressão de Berutto é compartilhada por outros integrantes das CRTTs. Para Jânio de Sousa, da CRTT Oeste, a forma como as demandas são conduzidas deixa a impressão de que a BHTrans é que é subordinada às empresas do transporte coletivo e não o contrário. “Quando vamos lá eles (técnicos da BHTrans) nos atendem muito bem, são educados, mas não resolvem. Quem está à frente? Quem comanda o transporte público na cidade é a BHTrans ou as empresas? Parece que fazemos um favor em tomar ônibus lotados, sujos e sem álcool gel”, afirmou.

Ainda segundo Sousa, outro ponto que denota a soberania das empresas do transporte coletivo é a retirada dos cobradores, que foi duramente contestada pelo Município, mas aonde vem prevalecendo a vontade dos empresários. “Vemos os motoristas estressados e não é culpa deles. Tem que cuidar de passageiro, cobrar passagem, ajudar o cadeirante, deixar o volante para ir lá ajudar, um perigo. É muito triste o que vemos”, relatou.

Fábio Alves, da CRTT Centro-Sul, é morador do Aglomerado da Serra e vê avanços nos trabalhos da comissão, em especial em relação à substituição dos veículos suplementares, porém acredita que a falta de informações mais completas dificulta o trabalho dos integrantes. “Não temos acesso ao contrato (entre PBH e empresas de ônibus) e isso limita muito a nossa atuação. Ficamos muito reféns das situações”, avaliou.

O contrato entre as empresas que operam o transporte coletivo e o Município também foi o ponto levantado por Carla Magna, da CRTT Oeste. Segundo a integrante, que relata frustração ao enviar queixas sobre o transporte coletivo à BHTrans, a falta de retorno da empresa municipal estaria ligada ao tipo de concessão feita. “Espero que a BHTrans entenda que uma concessão dada por 20 anos não resolve. Que não seja repetido no futuro. Não podemos prestar concessões tão longas. Para mim este é o maior erro”, apontou.

Inclusão e Descrença

O atendimento das demandas das pessoas com deficiência em relação ao transporte coletivo também é um gargalo nas CRTTs. Liliane Arouca, da CRTT Oeste, é cadeirante e acumula pedidos não atendidos há quatro anos. Segundo ela, a plataforma elevatória de acesso dos ônibus não é segura e no suplementar não é possível utilizar, pois os veículos não comportam na parte de trás uma cadeira e um acompanhante. Arouca também citou a retirada dos cobradores como um desrespeito ao segmento e lamentou a falta de atuação do Município. “São as empresas que dão as cartas na cidade. Estão aí há anos passando suas riquezas para os seus filhos. E não tenho boas esperanças para a CPI porque são criadas para atender uma expectativa em ano eleitoral”, afirmou, destacando que o Plenário da CMBH era um dos únicos com acesso para pessoa com deficiência e mesmo isso foi tirado.

A todos os 16 integrantes dos CRTTs que foram ouvidos na qualidade de convidados da CPI o vereador Braulio Lara (Novo) fez uma pergunta sobre a expectativa em relação aos trabalhos da Comissão de Inquérito. Vários disseram esperar que a ‘caixa preta’ seja finalmente aberta; que a BHTrans comece a entregar o serviço para a qual foi realmente criada, e que o sistema comece a agir de modo a atender as necessidades do cidadão que utiliza o transporte público. Outros integrantes, entretanto, embora dispostos a seguirem colaborando, disseram-se descrentes em relação à CPI e também às mudanças que delam podem surgir. 

José Marcio Resende, do CRTT Barreiro, foi um dos que se manifestou neste sentido, e disse ser lamentável que muitas vezes as lutas sejam utilizadas em momentos eleitorais. “Muitas são efetivadas (lutas, pedidos da comunidade) após ofício dos gabinetes. Que isso seja observado e que não deixem de reconhecer as lutas da CRTT, pois todos temos o nosso papel. Às vezes sentimos que somos marionetes”, queixou-se.

Após as manifestações, os vereadores reconheceram a importância do trabalho das CRTTs e pedirem que haja mais confiança e credibilidade no trabalho. Segundo Bella Gonçalves (Psol), a retirada de cobradores já é objeto de inquérito no Ministério Público e a Câmara seguirá acompanhando. “A Câmara é hoje um lugar diferente, que devolve dinheiro aos cofres municipais, e a partir de novembro irá iniciar uma obra para trazer a acessibilidade de volta ao Plenário”, afirmou.

Também o presidente da CPI, Gabriel (sem partido), exaltou a atuação das CRTTs e disse ser mesmo um exercício de resiliência acreditar na política brasileira hoje. Entretanto, lembrou que desde 2017, quando ingressou na Casa, seu objetivo era este de abrir a CPI da BHTrans. "Esta é uma nova legislatura, temos um grupo muito empenhado aqui e tenho certeza que iremos deixar um bom legado para a cidade", ressaltou.

Além dos citados, participaram da reunião os vereadores Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB), Rubão (PP) e Wanderley Porto (Patri). 

Assista ao vídeo com a íntegra da reunião.

Superintendência de Comunicação Institucional

8ª Reunião - Comissão Parlamentar de Inquérito: BHTrans - Reunião com os representantes regionais da Comissão Regional de Transporte e Trânsito - CRTT