Gabriel recebeu Arutana Cobério, que presidiu a CMBH em 1989 e 1990
Ouvir a todos, se despir do poder e ser digno e honesto foram algumas das orientações passadas pelo veterano em conversa com o atual presidente
Foto: Cláudio Rabelo /CMBH
O presidente da Câmara Municipal de BH, Gabriel (sem partido), recebeu, nesta segunda-feira (6/2), Arutana Cobério Terena, que presidiu a Casa nos anos de 1989 e 1990. No encontro, os dois trocaram experiências sobre o trabalho desenvolvido na presidência e conversaram sobre temas relevantes para o desenvolvimento da cidade. Arutana, eleito por dois mandatos (1983/1988 e 1989/1992) , foi o presidente que esteve à frente do Legislativo durante as discussões sobre a Lei Orgânica do Município. “Você tem que fazer com que os debates não sejam somente ideológicos, mas também pragmáticos. Tem que se despir do poder e ir ao encontro do outro. E tem que ser digno e honesto”, disse Arutana, em resposta a pedido de orientação feito por Gabriel, que agradeceu pelo conselho e disse que esses encontros são exatamente “para beber na experiência” dos ex-presidentes. As reuniões fazem parte de uma série de encontros informais que o atual presidente está promovendo com ex-chefes do Legislativo Municipal. Em janeiro, Gabriel recebeu Amilcar Martins e nos próximos dias deve se encontrar com Luzia Ferreira, que presidiu a casa nos anos de 2009 e 2010.
De preso político a presidente do Legislativo
As eleições para a Câmara de BH em 1988 foram marcadas pelo aumento de 33 para 37 parlamentares e por uma renovação próxima a 70%. Foram as primeiras eleições após a promulgação da chamada Constituição Cidadã. Com a ampliação do número de vereadores e os novos ares que tomaram conta do Brasil após a redemocratização, a CMBH se viu representada por diversas bancadas. Arutana Cobério fazia parte desse grupo e era o único representante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tendo exercido o seu primeiro mandato (1983/1988) pelo MDB. Ao final de novembro daquele ano, lançou oficialmente a sua candidatura à presidente da Câmara, respaldado no apoio das oposições e em sua votação expressiva, que com oito mil votos deu a ele o segundo lugar no ranking da vereança. “O outro candidato era o Roberto Carvalho, do PT. Ele falou comigo que iria pra praia e eu então visitei cada um dos vereadores na casa deles”, contou o ex-presidente, mostrando sua capacidade de articulação.
Ao lançar sua candidatura, fez questão de divulgar sua declaração de bens para a imprensa, se comprometeu a resguardar a independência da Casa, mantendo equilíbrio e imparcialidade. Venceu a disputa com 26 votos a favor contra 11 de seu oponente. Ao assumir, solicitou de imediato a retirada dos quadros do presidente da república e do governador do estado das paredes da sala presidencial. Segundo ele, não havia motivos para serem expostos em um Legislativo soberano. O ponto alto de sua gestão foi a promulgação da Lei Orgânica do Município. Foi dele também a ideia de colocar uma escultura em homenagem à Lei, que é considerada a “Constituição do Município”, nos jardins da Praça da Constituição, localizada em frente à sede da Câmara. “Pedi ao Niemeyer (arquiteto Oscar Niemeyer), que era do meu partido, para fazer. Disse pra ele que estávamos inaugurando a primeira Lei Orgânica do Município. É um presente do Niemeyer para Belo Horizonte”, contou Arutana. O local onde está a escultura foi reaberto ao público e será reformado. “Vamos unir outros espaços à praça para que o povo possa transitar melhor”, disse Gabriel ao ex-presidente, explicando como o local vai ficar após as obras de reforma e requalificação.
Nascido em Belo Horizonte, em 21 de janeiro de 1941, Arutana Cobério formou-se como bacharel em Direito pela UFMG. Foi perseguido pela Ditadura Militar e exilou-se no Chile em 1971. Com o golpe militar de 1973, que derrubou o presidente chileno Salvador Allende, mudou-se para a Suécia como refugiado político. De volta ao Brasil em 1980, após a aprovação da anistia, se filiou ao MDB e foi eleito vereador por BH em 1982, quando foi líder do então prefeito Hélio Garcia, em uma articulação política feita pelo ex-presidente da República, Tancredo Neves. “Eu relutei em aceitar, mas o Tancredo me disse que a política estava cheia de coisas ruins, mas também de diamantes. Ele me pediu para ajudar a salvar alguns diamantes”, disse o ex-presidente da Câmara. Arutana foi vereador até 30 de abril de 1992, quando renunciou ao mandato para tomar posse como Juiz de Direito.
Conciliação, respeito e honestidade
Entre histórias da política brasileira e memórias dos debates que se deram no Legislativo Municipal, Gabriel e Arutana Cobério trocaram ideias de como fazer um mandato eficiente na Câmara. Ao ser questionado por Gabriel sobre o que é preciso para ser um bom presidente da CMBH, Arutana afirmou que é preciso fortalecer o diálogo e ter honestidade. “É importante que as discussões não sejam só ideológicas, mas principalmente pragmáticas, sempre com respeito ao outro. Também é necessário se despir do poder, pois ele é passageiro, e visitar os vereadores em seus gabinetes e os servidores em seus departamentos. Além disso, tem que ser digno, honesto e mostrar que é digno e honesto”, disse. “Esses encontros são pra beber dessa experiência de vocês”, falou Gabriel despedindo-se do ex-presidente e agradecendo pela visita.
Outros encontros
Além de Luzia Ferreira, que será a próxima a se reunir com Gabriel, os ex-presidentes Silvinho Rezende (2007-2008), Betinho Duarte (2003-2004), César Masci (1999-2000), Luiz Sávio Souza Cruz (1997-1998), João Paulo Gomes (1995-1996), Sérgio Coutinho (1991-1992), Roberto Vital Ferreira (1985-1986), Luiz Otávio Valadares (1977) e Obregon Gonçalves (1976) serão convidados em datas posteriores. Os últimos quatro ocupantes do cargo - Léo (União), Wellington Magalhães, Henrique Braga (PSDB) e Nely Aquino (Pode), contemporâneos de Gabriel em seus dois mandatos como vereador (2017 até o momento), não foram incluídos na lista.
Superintendência de Comunicação Institucional