Plenário

Financiamento público e uso político da Parada LGBTQIA+ são debatidos

Bancada Cristã questionou apoio da PBH e denunciou intolerância religiosa. Pregação que teria incitado violência dividiu parlamentares

segunda-feira, 10 Julho, 2023 - 19:15
Flávia Borja (PP) fala em sessão plenária, diante dos colegas parlamentares

Foto: Karoline Barreto/CMBH

A Parada do Orgulho LGBTQIA+, ocorrida no último domingo (9/7), partindo da Praça da Estação, foi tema de debate em reunião do Plenário ocorrida nesta segunda-feira (10/7). Parlamentares integrantes da Bancada Cristã questionaram o apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH) ao evento, além da organização, feita pelo Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos -MG), sem licitação, e acusaram participantes do movimento de intolerância religiosa. Ressaltando que devem ser devidamente esclarecidos os procedimentos de contratação e organização do evento, vereadores defensores da manifestação denunciaram que a pregação do pastor André Valadão, também feita no domingo, pode ter incitado os ouvintes à violência e à homofobia. 
 
Flávia Borja (PP) questionou por que o Cellos-MG promoveu a Parada LGBTQIA+, evento com apoio financeiro de mais de R$ 350 mil, com dispensa de licitação, segundo ela. Citando matéria divulgada na imprensa em que o representante do Cellos afirmou que “Parada LGBTQIA+ ‘não é carnaval fora de época, é um evento político’ ”, Borja perguntou por que o evento é bancado com dinheiro dos contribuintes se não é uma celebração para promover direitos, e sim um evento político. A vereadora acrescentou ter havido intolerância religiosa na celebração, uma vez que os religiosos foram “achincalhados” na figura de um pastor. “Fomos chamados de ‘fascistas religiosos não passarão’, estou indignada. Nosso prefeito deveria pedir de volta o dinheiro que foi investido para que a intolerância religiosa fosse proclamada sob os céus da nossa cidade. Estou com uma moção para ser assinada pela Frente Parlamentar dessa Casa exigindo esse dinheiro de volta e um pedido de desculpas do nosso prefeito”, declarou. 
 
Pedro Patrus (PT) disse ser legítimo que a Câmara faça questionamentos sobre o evento, acrescentando que a Parada LGBTQIA+ é um evento que movimenta o turismo e os bares e restaurantes da cidade. Ele explicou que a afirmação do Cellos de que a parada seja um evento político não significa que se trate de um evento partidário, e sim de um evento “político com “P” maiúsculo, na defesa de uma população que é atacada diariamente”.  Ele afirmou estar havendo uma inversão, pois o pastor “Valadão, que está sendo processado pelo Ministério Público Federal, veio a público e incentivou que os fiéis batessem e matassem a população LGBTQIA+ nesse país”, acrescentando que Jesus não é a favor da violência. “O que foi feito na parada foi uma resposta a um ataque feito pelo pastor”, disse . 
 
Cida Falabella (Psol)  e Bruno Pedralva (PT) corroborraram a posição de Patrus. “Questionamentos são bem-vindos, mas não podemos inverter as coisas. Quando um pastor foi respondido durante o evento é porque ele atacou veementemente e vem fazendo isso seguidamente, com um discurso de morte a quem é diferente do que ele pensa. E não foi isso que Jesus pregou, eu tenho certeza. Eu também tenho minha fé, minha Nossa Senhora está aqui no peito. Viva a luta LGBT”, afirmou Falabella. 
 
Pedralva reforçou que o evento, que reuniu mais de 250 mil pessoas, é apartidário e luta pela justiça, democracia e direitos humanos, mencionando a presença histórica do presidente da Câmara Municipal, Gabriel (sem partido), no local. O vereador citou trechos da pregação de Valadão mencionados pela Revista Istoé, questionando se a fala não merece uma explicação na Justiça e no Ministério Público Federal: “Pode parar, reseta! Mas Deus fala que não pode mais. Ele diz, ‘já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse, matava tudo e começava de novo. Mas prometi que não posso’, agora está com vocês. (...) Deus deixou o trabalho sujo para nós.” Pedralva concluiu que “mandar matar as pessoas é crime, ainda mais de uma liderança religiosa”, desejando que a Justiça obrigue o pastor a prestar contas diante do que disse.  
 
Wesley Moreira (PP) explicou que o pastor fez uma referência à passagem bíblica sobre a Arca de Noé, onde, após os 40 dias do dilúvio, apareceu o arco-íris, simbolizando a aliança de Deus com o homem e o fim da destruição, e afirmou que o art. 5º da Constituição assegura liberdade de pregação. José Ferreira (PP) comemorou os R$ 350 mil utilizados no evento, e disse esperar que a secretária de Assistência Social esteja se organizando para fazer um investimento de mesmo montante na Semana Pascal, em 2024, reunindo todos os cristãos. 
 
Flávia Borja disse que se a mesma empresa sempre organizou a Parada LGBTQIA+ em BH, o fato precisa ser investigado, e solicitou às bancadas do Psol e do PT que expliquem o que quer dizer “religiosos fascistas não passarão”. “Não diz respeito a só um pastor, e se fosse isso já seria um absurdo, mas estão dizendo de um modo geral sobre os religiosos da nossa cidade”, afirmou a vereadora, acrescentando que quase seis mil cristãos foram perseguidos e mortos ano passado devido a sua religião. Irlan Mello (Patri) reforçou ser necessário saber interpretar o texto ou o vídeo. “Vamos apurar essa questão de uso do dinheiro público e repito: não cabe aqui fazer qualquer tipo de análise equivocada e dizer que o pastor André Valadão de fato estava agredindo alguém, não estava. Não propagamos o ódio, mas não abrimos mão da nossa convicção religiosa”, concluiu.  
 
Pedro Patrus mencionou a frase “religiosos fascistas não passarão”, em que se baseia a acusação de intolerância religiosa. Ele afirmou que “religiosos do bem, como a Professora Marli e vários outros aqui, de bom coração, que não mandam matar os outros,  esses passarão”. E concluiu: “religiosos fascistas não passarão mesmo. Nenhum fascista passará”. Patrus também defendeu a Parada do Orgulho LGBTQIA+, afirmando que ela é uma festa e um dia de luta por respeito. “A interpretação de texto é fundamental. Não dá é para um líder religioso mandar matar o outro. A população existe e quer lutar por respeito, a questão não se inverte. E viva o arco-íris”, afirmou. 
 
Professora Marli (PP) disse que no último domingo foi para a missa na Igreja Católica, onde participou como ministra da Eucaristia com muita alegria. E citou o Salmo 3:  “Quando com minha voz eu invoquei o Senhor, ele me respondeu do seu santo nome: Eis que me deito e durmo. E acordo. Pois o Senhor me sustenta”. A parlamentar sugeriu que cada um seguisse o próprio caminho, "sem briga, sem agressão, acreditando no que o coração da gente está cheio”.  
 
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56ª Reunião Ordinária: Plenário