Empreendimento que pode gerar mais de 3 mil empregos deve levar à supressão de quase 6 mil árvores
Supressão da vegetação em terreno da Vallourec foi tema de audiência pública. Vereadores analisam situação
Foto: Pixabay e Karoline Barreto/CMBH
Notícia veiculada pela imprensa, no mês de agosto, de que cerca de nove mil árvores seriam suprimidas na Região do Barreiro em área de propriedade da Vallourec foi o mote para a audiência pública realizada nesta terça-feira (16/11) pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana. Na ocasião, representantes das empresas Log Commercial Properties e Grupo EPO, responsáveis pelo empreendimento que levará à supressão de diversas espécies arbóreas, explicaram que a intenção é implantar um complexo logístico que atenderá empresas de e-commerce, farmacêuticas, entre outras, bem como um power center, que oferecerá produtos no atacado e no varejo. A expectativa é que, ao todo, sejam investidos R$ 180 milhões e criados 3.300 empregos. As preocupações com a implantação do empreendimento de grande porte dizem respeito à supressão de milhares de árvores. De acordo com o representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, contudo, o número total de árvores a serem suprimidas não deve chegar a nove mil. Os responsáveis pelo empreendimento afirmam que houve solicitação de supressão de cerca de 5.800 árvores. Além disso, segundo a PBH, nem todas as árvores são nativas; havendo, entre elas, a leucena, espécie que traz prejuízos à vegetação nativa.
Um dos signatários do requerimento para realização da audiência pública, Wanderley Porto (Patri), afirmou que o empreendimento deve causar grande impacto ambiental no Barreiro e, por isso, todo o processo deverá ser acompanhado de perto pela Comissão de Meio Ambiente, da qual faz parte. O parlamentar informou que irá solicitar a relação completa de compensações exigidas das empresas pelo poder público. “Ninguém aqui é contra progresso, geração de empregos, mas a gente tem que pensar em um crescimento sustentável”, afirmou o parlamentar, que salientou a importância de que a compensação pela supressão de milhares de árvores se dê com o plantio de espécies arbóreas na própria Região do Barreiro.
Duda Salabert (PDT), que também assinou o requerimento para realização da audiência, disse que sua luta é pela ampliação de áreas verdes, que, conforme salientou a vereadora, realizam um importante trabalho no combate a inundações. Ela afirmou que irá conhecer a área prevista para abrigar o empreendimento na Região do Barreiro e acompanhará todo o processo que envolve a implantação do complexo logístico, uma vez que “algumas destruições ambientais não têm como serem compensadas”. Iza Lourença (Psol), que também é uma das requerentes da audiência, concordou com Duda ao afirmar que é necessário verificar se há compensação possível para que se permita a supressão de milhares de árvores. De acordo com a parlamentar, quem mora no Barreiro sabe da importância da Vallourec para a comunidade, bem como da necessidade de preservação das áreas verdes.
Outro dos signatários do requerimento, Professor Claudiney Dulim (Avante), argumentou que a intenção não é demonizar ações que possam gerar empregos e crescimento econômico, mas, sim, esclarecer as questões envolvidas no projeto e assegurar proteção ao meio ambiente. Também requerente da audiência pública, Professor Juliano Lopes (Agir) cobrou esclarecimentos sobre a compensação ambiental que as empresas Log Commercial Properties e Grupo EPO terão que executar por conta do empreendimento de grande porte que levará à supressão de árvores no Barreiro.
Novas oportunidades e contrapartidas
Representantes das empresas Log Commercial Properties e Grupo EPO explicaram que a implantação do complexo logístico e do power center em parte da área de propriedade da Vallourec no Barreiro começou a ser discutida em 2015. Os representantes explicam que, desde então, cada passo do empreendimento tem sido tratado com o Município. A área verde que deve ser extirpada pelas empresas fica nas proximidades da Via do Minério e da Avenida Olinto Meirelles. De acordo com eles, os condomínios de logística a serem implantados no local atenderão empresas de e-commerce, farmacêuticas, entre outras, permitindo a Belo Horizonte receber novos investimentos e arrecadar mais tributos.
Inicialmente, estão previstos, de acordo com a Log Commercial Properties e o Grupo EPO, investimentos de R$ 25 milhões, que deverão acarretar na criação de 346 empregos. Para que todo o projeto esteja implantado e em operação na Região do Barreiro, a previsão é que sejam investidos R$ 180 milhões. A expectativa é que a implantação de todo o projeto leve à criação de 3.300 empregos.
Para que a Log Commercial Properties e o Grupo EPO possam executar seu projeto empresarial já estão previstas 22 contrapartidas. Entre elas, a implantação de um parque ecológico com acesso aberto à comunidade no terreno da Vallourec em área verde hoje fechada ao público. O parque deverá oferecer pista para caminhada e equipamentos públicos de recreação. Também estão previstas a execução de 14 km de projetos viários na área de abrangência do novo empreendimento e a implantação de 7 km de ciclovias. Na área de transporte público, estão previstos dez novos abrigos para passageiros junto a pontos de embarque e desembarque de ônibus. As calçadas do entorno do empreendimento também deverão ser requalificadas pelas empresas.
De acordo com Wanderley Porto, as compensações previstas devem ser objeto de análise mais aprofundada. “Eu confesso que achei um pouco tímidos alguns pontos (das compensações), mas quero analisar o todo, até porque a empresa apresentou apenas alguns pontos. De 22 ações (compensatórias), apresentaram aqui poucas”, afirmou o parlamentar, que irá requerer a íntegra das contrapartidas.
O gerente corporativo de meio ambiente do Grupo Vallourec, Leonardo Maldonado, explicou que, apesar de a empresa que representa ser a dona do terreno no qual se pretende construir o novo empreendimento, a supressão de árvores não foi por ela solicitada, mas, sim, pela Log Commercial Properties e pelo Grupo EPO, sendo estas duas as responsáveis pelo empreendimento. O gerente também afirmou que o Grupo Vallourec está de acordo com a execução do empreendimento e trabalha em parceria com a LOG e a EPO. Leonardo Maldonado destacou, ainda, que as áreas escolhidas para receber o complexo logístico são aquelas que, de acordo com estudos prévios, deverão causar menor impacto ambiental.
Espécies a serem suprimidas
O representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Eduardo Tavares, explicou que o projeto a ser implantado no Barreiro foi aprovado pelo Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), que é a instância de discussão e deliberação de políticas de planejamento urbano e gestão do território. De acordo com ele, neste processo, o Compur apresentou condicionantes e modificações à proposta inicial das empresas.
Em relação à supressão das árvores, Eduardo Tavares disse que as empresas responsáveis pelo empreendimento deverão apresentar projeto de reconstituição da flora, apontando as espécies que serão replantadas e em que local. Ele destacou, contudo, que nem todas as árvores a serem suprimidas com o empreendimento são passíveis de compensação ambiental ou pecuniária, como, por exemplo, a leucena, que atrapalha o crescimento da vegetação local, impedindo a diversidade da flora e da fauna. Além da leucena, há ainda a presença de eucalipto, espécie original da Austrália e difundida no Brasil. De acordo com Eduardo Tavares, leucenas e eucaliptos predominam na vegetação a ser eliminada. Entre as espécies nativas que também precisarão ser suprimidas para dar lugar ao complexo logístico e que compõem a menor parte da vegetação, encontra-se o ipê.
Uma das possibilidades em análise é que parte da compensação ambiental aconteça na área de preservação ambiental da própria Vallourec, no Barreiro, a qual será transformada em parque aberto ao público. Ainda de acordo com o representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, as legislações municipal, estadual e federal estão sendo cumpridas no que tange à implantação do complexo logístico e à necessária proteção ambiental.
São requerentes da audiência Wanderley Porto, Duda Salabert, Helinho da Farmácia (PSD), Henrique Braga (PSDB), Iza Lourença, Professor Claudiney Dulim, Professor Juliano Lopes e Wesley (Pros).
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
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