Hospitais filantrópicos de BH atuam com déficits financeiros na casa dos milhões
Emendas parlamentares têm contribuído para o custeio e abatimento de dívidas. Unidades apresentaram balanço e sugeriram projetos
Foto: Rafael D'Souza/CMBH
Os principais hospitais filantrópicos que realizam atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em BH trabalham com déficits orçamentários na casa dos milhões de reais, segundo os gestores das unidades. Resumos dos balanços financeiro e de atendimentos da Santa Casa de Misericórdia, Hospital da Baleia, Hospital Risoleta Neves, Fundação São Francisco de Assis, Hospital Mário Penna, Hospital Sofia Feldman, Hospital Evangélico e Associação Paulo de Tarso foram apresentados nesta quinta-feira (26/10) à Comissão de Saúde e Saneamento, em audiência pública requerida por Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB) com o objetivo de apurar a real situação das instituições. Apesar dos desafios orçamentários, os participantes exibiram números robustos em relação ao atendimento de pacientes da capital e de outros municípios; apresentaram projetos de expansão que podem contribuir para ampliar a capacidade e falaram da importância dos recursos destinados pela Câmara atrvés de emendas parlamentares.
Revitalização Tecnológica e Requalificação da UTI Neonatal
Gerido pela Fundação Benjamim Guimarães, o Hospital da Baleia surgiu para tratar uma epidemia de tuberculose na cidade e completará em 2024 80 anos de fundação. Segundo Daniele Ferreira, diretora de Mobilização de Recursos da unidade, que no ano passado realizou 126 mil consultas, 16 mil internações e 15 mil cirurgias, enfrenta uma situação de subfinanciamento e somente em 2023 o prejuízo foi de R$ 12 milhões. A instituição, que tem um endividamento total de R$ 90 milhões, apresentou como opção para destinação de emendas um plano de revitalização tecnológica orçado em R$ 10 milhões, que, segundo a diretora, vai otimizar processos e melhorar a eficiência da gestão.
Questionada por Reinaldo Gomes se o Hospital já atende 100% SUS, Daniele Ferreira disse que atualmente há um estudo na Secretaria Municipal de Saúde para essa transição, mas, para que se concretize, será necessária uma recomposição da carteira. "Hoje atendemos 95% pelo SUS, mas é preciso que esses 5% sejam compensados, porque só eles sozinhos representam 30% da nossa receita”, explicou.
Na Santa Casa, onde só no ano passado foram realizadas cerca de 20 mil internações, a gestão financeira também é um desafio. Roberto Otto de Lima, provedor da instituição, indica a requalificação da UTI Neonatal como objeto de destinação de recursos por parlamentares. Segundo ele, dados mostram que 58% dos óbitos de crianças menores de 1 ano registrados em Minas Gerais entre Jan/2021 e Set/22 foram de bebês prematuros. Pelo projeto, orçado em R$ 11 milhões, a unidade que hoje possui 20 leitos de UTI e 15 UCI poderá ter, além da reforma estrutural, uma cobertura de seu décift operacional, que é de R$ 4.2 milhões/ano. “Este é um projeto não só para BH, mas para todo o estado de Minas Gerais, porque recebemos pacientes neonatais de todas as maternidades de BH e de outros municípios. Em 2022, foram 1.172 internações”, contou.
Custeio e expansão da capacidade
Tatiana Coelho, coordenadora do Sofia Feldman contou que as emendas têm sido fundamentais para a sobrevivência da instituição, que atende 100% pelo SUS. O hospital maternidade, que conta com 1361 trabalhadores, tem 110 leitos de CTI neonatal e, além de parturientes de BH, atende gestantes de outros 660 municípios do estado. Com duas unidades, uma no Bairro Tupi e outra no Carlos Prates, a unidade atua com um déficit de R$ 24 milhões/ano e, segundo a coordenadora, todo recurso de emenda vem sendo utilizado no custeio. “As emendas parlamentares é o que contribui, senão a situação estaria bem pior”, afirmou.
Já o Dr. Helder Yancus, superintedente da Fundação São Francisco de Assis, disse que as emendas parlamentares que vierem a ser destinadas podem ser revertidas na ampliação da capacidade da unidade do Bairro Concórdia. Fundado em 1936, só a partir de 2011 a entidade se tornou uma fundação para atender público 100% SUS e hoje disponibiliza 220 leitos, sendo 50 de CTI. Segundo Yancus, a proposta, orçada em cerca de R$ 6 milhões, possibilitaria a criação de 70 leitos de internação e quatro salas cirúrgicas. “Esperamos que os parlamentares possam nos ajudar. É uma maneira que vocês têm de nos ajudar nessa missão”, disse.
Risoleta Neves, Evangélico e Paulo de Tarso
Localizado em Venda Nova e atendendo como hospital geral, maternidade e pronto socorro 24 horas, o Hospital Risoleta Tolentino é dirigido pela Dra. Alzira de Olivera Jorge, que classifica a missão como o ‘maior desafio já vivido’. Com um déficit de R$ 2 milhões/mês, a diretora contou que as receitas extras vindas de emendas também têm sido aplicada na diminuição do prejuízo e que o restante é destinado a aquisições, já que ‘falta de tudo’, de macas a recursos para a reforma do bloco cirúrgico. “É muito triste ter que adiar a cirurgia de um paciente quatro, cinco vezes por falta de leito”, lamentou.
Já no Hospital Evangélico, o décift é da ordem de R$ 13 milhões/ano. O hospital, que tem 77 anos, possui oito unidades, sendo uma em Contagem e outra em Betim. Joyce Venâncio, diretora de Gestão e Relacionamento, contou que as destinações parlamentares são direcionadas ao custeio, que tem subido muito com o aumento no preço dos insumos, e também para um projeto de ampliação do CTI, que prevê a criação de 20 novos leitos.
Outra que atua no vermelho é o Hospital Paulo de Tarso, gerido pela fundção homônima. Certificada como hospital de transição - que oferta cuidados interdisciplinares para pacientes que precisam de reabilitação após uma doença ou lesão -, a unidade, localizada no Bairro São Francisco, tem uma situação ainda mais fragilizada, já que os pacientes são de longa internação e o repasse é diminuido ao longo do tempo. “Hoje recebemos R$ 410 por um paciente que nos custa cerca de R$ 600, um prejuizo diário de R$ 267 reais por cada paciente internado. Temos um décifit anual de mais de R$ 5.6 milhões", contou Nicole Oliveira, representante da instituição.
Reinaldo Gomes se declarou surpreso com o tamanho das dificudades enfrentadas pelos hospitais filantrópicos e, como encaminhamento, anunciou que promoverá novas audiências para o aprofundamento do debate e a busca de soluções junto ao poder público municicpal. Os vereadores Marcela Trópia (Novo); Bruno Pedralva (PT); Maninho Felix (PSD) e Helinho da Farmácia (PSD), que também participaram do encontro, consideraram importante a oportunidade de conhecer mais de perto a realidade das unidades de saúde.
Assista a íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional