Dono do Shopping Oi afirma que não houve troca de favores com a PBH
Mário Valadares respondeu sobre doação de respiradores, no valor de R$ 300 mil, e suposto favorecimento na abertura do Oiapoque na pandemia
Foto: Cláudio Rabelo/CMBH
A doação de oito ventiladores pulmonares (conhecidos como respiradores) à PBH e uma possível relação dessa compra com a abertura temporária do Shopping Oiapoque (Oi) durante a pandemia (em maio de 2020) foram temas centrais na 9ª reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, realizada nesta quinta-feira (15/7), no Plenário Helvécio Arantes. A CPI ouviu o proprietário do estabelecimento, Mário Valadares, que respondeu a questionamentos sobre como foi feita a doação, qual sua relação com a PBH, por quais motivos seu estabelecimento teve permissão para abrir quando outros shoppings permaneceram fechados e quantos egressos do sistema prisional atuam no local. Também seria ouvido o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL BH, Marcelo Souza e Silva, que enviou e-mail justificando sua ausência. Segundo informado pelo presidente da CPI, Professor Juliano Lopes (Agir), o convidado tomou vacina contra covid-19 e teve algumas reações como febre, o que impossibilitou seu depoimento, que será remarcado. Os vereadores também ouviram representantes de empresa que fabrica sanitizantes de longa duração para desinfecção de ambientes, com eficácia comprovada contra o coronavírus.
A informação de que o Shopping Oiapoque doou uma série de equipamentos de saúde à PBH foi apresentada à CPI da Covid-19, pela vereadora Flávia Borja (Avante), em reunião, no último dia 24 de junho, quando estava sendo ouvido o secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado. A vereadora contou que foram doadas 25 unidades de peças para ventilador pulmonar adulto; 5 para ventilador pulmonar pediátrico; 15 para ventilador pulmonar, válvula expiratória; 15 para ventilador pulmonar, diafragma da válvula expiratória e 8 unidades de ventiladores pulmonares. O extrato do processo de doação 01.05.4662.20.43, foi publicado no Diário Oficial do Município no dia 1º de junho. Com esse dado, a CPI aprovou requerimento para ouvir o proprietário do shopping, Mário Valadares, o que ocorreu na manhã desta quinta.
O depoente é proprietário de sete shoppings, entre populares e outlets. Perguntado se a doação de respiradores feita à PBH era uma troca de favores para que seus estabelecimentos pudessem funcionar durante a pandemia e se a PBH havia pedido a doação, ele foi taxativo: “Não. Resolvi tomar esta atitude como iniciativa e também para induzir outros órgãos e empresários a fazer o mesmo. Doei para BH e para Contagem também, onde o CDL também doou. Minha inciativa foi seguida e deveria ter sido feita antes para não deixar gerar mais mortes. Fiz de uma forma clara com termo de doação para ficar mais claro ainda”, explicou, dizendo ainda que participou de algumas audiências onde estavam representantes da PBH e da Câmara de Dirigentes Lojistas, quando chegou a sugerir que essas doações fossem ser feitas.
Em seus questionamentos, o vereador Professor Juliano Lopes quis saber como ocorreu o processo de doação e como parte dela não era de conhecimento do secretário de Saúde. Segundo Valadares, o secretário sabia da doação dos oito ventiladores pulmonares, mas, para a compra dos acessórios para uso dos respiradores, a conversa teria sido com outros dois representantes da secretaria. “Comprei três respiradores por R$ 45 mil e outros cinco por R$ 30 mil. Tudo de pronta entrega. O secretário só sabia dos oito respiradores que têm o mínimo de acessórios necessários. A partir daí fiz contato com o subsecretário para saber quais acessórios comprar”, respondeu o empresário. De acordo com ele, as informações sobre o restante da compra foram tratadas com Guilherme Soares, da secretaria de Saúde, e Breno Motta, subsecretário de Administração e Logística da PBH. Os acessórios são necessários para adequar o equipamento ao uso no momento, como o caso de atendimento a crianças.
Sistema prisional
A oitiva abordou ainda a contratação de pessoas egressas do Sistema Prisional para trabalhar no Shopping Oi. De acordo com a vereadora Flávia Borja (Avante), o prefeito Alexandre Kalil (PSD), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, teria dito que autorizou a abertura do Shopping Oiapoque, em maio do ano passado, porque no estabelecimento tinha muitos trabalhadores que "utilizavam tornozeleira eletrônica", fazendo alusão aos egressos. Segundo Valadares, apesar de ter trabalhadores nessa condição, esse não foi o principal motivo da abertura naquele momento. “BH é a única metrópole do Brasil que não tem camelôs licenciados. Eles (funcionários do Shopping Oi) estavam voltando pra rua. Eles não têm opção. Deixar voltar seria um retrocesso. Esse foi o principal motivo”, respondeu, informando que a abertura, em maio de 2020, ocorreu junto com outros estabelecimentos e que durou somente um mês, quando a cidade voltou a ser fechada. O espaço foi aberto em 27/5/2020 e novamente fechado no dia 29/6, quando a PBH regrediu no processo de reabertura da cidade.
Conforme Flávia Borja, a questão de absorver trabalhadores egressos do Sistema Prisional não foi falado na época da abertura e não foi dada chance de outros comerciantes ponderarem sobre o assunto. “Não foi um tratamento igual. Se você tem trabalhadores nessa condição, outros também podem ter. O Município não tratou com isonomia”, disse a vereadora.
Privilégio
Sobre possível privilégio nessa abertura, o depoente negou novamente: “Não. O shopping popular é diferente (de outros shopping centers). Não solicitei a abertura, mas não há como pensar em isonomia porque são atividades diferentes. Acho que a iniciativa foi sábia pois eles estavam voltando para a rua e agora estaria lá na porta dos comerciantes”, respondeu o empresário. Ele explicou que quem trabalha no Shopping Oiapoque recebe por comissão e não tem salário fixo, estando mais sujeito aos problemas econômicos gerados pela pandemia, diferentemente de trabalhadores em outros estabelecimentos comerciais, que têm salário e, segundo ele, “continuaram recebendo até 80% dos seus rendimentos”.
Sobre o número de casos de covid-19 no shopping, Valadares disse que, durante o mês de maio de 2020, não houve registro de casos e que, após a reabertura do comércio na cidade, houve uma morte de lojista e alguns casos confirmados da doença. Atualmente, o Shopping Oiapoque tem 800 lojas onde trabalham 3 mil vendedores. Oito mil pessoas passam pelo local todos os dias.
Desinfecção
Também foram ouvidos Marcelo Ramos e Ronan Drumond, representantes de empresa que vende produto de desinfecção de ambientes que, conforme laudo técnico emitido pela UNICAMP, possui eficácia de 99,99% para inativação do coronavírus. O produto, segundo os representantes, já está sendo utilizado por 42 cidades da região Oeste de Minas Gerais, além de outros municípios brasileiros. Ainda de acordo com os representantes, o produto, que trabalha com nanotecnologia, tem autorização da Anvisa e pode reduzir o tempo de desinfecção de uma ambulância do SAMU, de 90 minutos para em torno de 10 minutos, além de proteger o local por até 90 dias.
Os representantes foram questionados se já apresentaram o produto à Secretaria Municipal de Saúde. Segundo eles, ao procurar a secretaria foram informados que não havia recursos para aquisição. “Nossa intenção na CPI, além de fazer a fiscalização, é tentar também trazer solução para a Prefeitura. Vou fazer um ofício pedindo informação para a Prefeitura sobre os gastos com higienização nas áreas de saúde e educação”, afirmou o relator da CPI, vereador Irlan Melo (PSD). O parlamentar foi o autor do requerimento que solicitou a presença dos representantes. De acordo com Marcelo Ramos, para desinfecção de 50 ambulâncias, o município gastaria em torno de R$ 30 mil por mês.
Participaram da reunião os vereadores Nikolas Ferreira (PRTB), José Ferreira (PP), Bruno Miranda (PDT), Jorge Santos (Republicanos), Flávia Borja, Irlan Melo e Professor Juliano Lopes.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional