CATETER HIDROFÍLICO

Pacientes com disfunção na bexiga reivindicam substituição de sonda convencional

Foram apontadas vantagens em relação ao cateter de plástico, como conforto, lubrificação e praticidade

quinta-feira, 23 Setembro, 2021 - 14:30
Usuários, profissionais de outros estados e representantes da PBH, em audiência pública que discutiu, nesta quarta (22/9), a disponibilização do cateter hidrofílico pelo SUS na capital

Foto: Cláudio Rabelo / CMBH

Visando debater a utilização do cateter hidrofílico para o manejo da bexiga neurogênica (disfunções da bexiga, como incontinência e retenção, causadas por lesão neurológica) na rede pública de saúde gerenciada pela Prefeitura, a Comissão de Saúde e Saneamento realizou audiência pública na quarta-feira (22/9). Segundo usuários, o equipamento apresenta vantagens em relação ao cateter convencional, como lubrificação, conforto, facilidade de manuseio e higiene, possibilitando uma melhor qualidade de vida e reduzindo o número de infecções urinárias. Reconhecendo os benefícios apontados, a PBH mencionou, contudo, a falta de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), afirmando que não basta adquirir o insumo, mas é necessária a realização de um diagnóstico para a elaboração de protocolos específicos. 

“Ao contrário da sonda convencional, introduzida por meio de cirurgia e que causa infecções frequentes, o cateter hidrofílico oferece maior higiene, é lubrificado e reduz, além de infecções, hemodiálises, filas de transplante de rins e risco de vida”, afirmou Bruna Bruzette Borges, usuária de cateterismo, que pediu que o governo coloque à disposição o cateter para todos que precisam. João Kerson Pereira, que também utiliza o cateter hidrofílico, reforçou que este leva à melhoria da saúde, destacando, em contrapartida, a má qualidade, difícil manuseio e falta de praticidade da sonda convencional. Também relatou que o cateter de PVC oferece riscos de contaminação, infecções e internações, provocando, ainda, o aumento do uso de antibióticos por pacientes. O usuário contou, por fim, que a cada três meses, o município fornece a ele o equipamento, adquirido por meio de ação na justiça.

Conforme destacou o vereador Irlan Melo (PSD), que requereu a audiência, o cateter hidrofílico é recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), considerando que o mesmo possui uma camada pré-lubrificante que retém água, diferentemente do de PVC, que não é revestido e que é lubrificado manualmente. 

Cateterismo intermitente

O chefe do Setor de Urologia da Fleury Medicina e Saúde, em São Paulo, José Carlos Truzzi, informou que lesões raquimedulares demandam o cateterismo intermitente, explicando que devido ao mal funcionamento da bexiga, a qual não esvazia, é preciso realizar o procedimento, com a passagem de uma sonda. Segundo ele, existem subnotificações de casos e no Brasil houve um aumento de 20% de pessoas que faleceram em dez anos devido a infecções urinárias, com idade entre 20 a 40 anos. 

O médico disse, ainda, que o cateter convencional provoca infecções urinárias, estreitamento e trauma da uretra; e que não há antibióticos satisfatórios disponíveis para essas pessoas. Ele afirmou que o cateter hidrofílico reduz em 20% a ocorrência de infecções urinárias; e apontou a presença de bactérias nos cateteres quando estes são reutilizados. O gestor informou que, no Brasil, em 2018, casos de insuficiência renal mostraram que o custo efetivo do cateter hidrofílico era de R$ 150 mil, explicando que o custo efetivo do equipamento não inclui somente o preço do cateter, mas os benefícios ofertados. O especialista reforçou que o cateter hidrofílico oferece aderência, qualidade de vida, conforto e melhor esvaziamento da bexiga; e que reduz o risco de infecções, hospitalizações e uso de antibióticos. Ele afirmou que o preço individual do cateter de PVC é de R$ 0,50, e do hidrofílico R$ 8, mas que é preciso se ter uma visão de longo prazo para a sua disponibilização no município.

Disfunção da bexiga

Enfermeira da equipe de Estomaterapia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná e Fundadora do Instituto Fluir, Gisela Maria Assis, explicou que a bexiga e o assoalho pélvico ora contraem, ora relaxam para o armazenamento e eliminação da urina; e que a comunicação do cérebro para esses comandos é feita pela coluna espinhal. Assim, com a ocorrência de lesões medulares, a bexiga perde a função, impedindo a eliminação da urina e causando infecção e incontinência urinária. A urina vai, então, para os rins, ocasionando a perda da função renal. Segundo a enfermeira, o cateterismo intermitente soluciona o problema, com a introdução do cateter na uretra, para eliminação da urina; mas num universo de dois mil usuários no município, mais de 50% pararam de utilizar o cateter em menos de cinco anos, principalmente devido a infecções urinárias e lesão da uretra, com sangramentos. 

A enfermeira reforçou que o cateter convencional necessita de lubrificação externa para sua introdução, diferentemente do cateter hidrofílico, cujo revestimento expande em contato com a água, tornando-se deslizante. Salientou, por fim, que em Curitiba os pacientes são analisados por enfermeiros, que avaliam a necessidade específica de cada um.

Mudança de protocolo

A especialista em Estomaterapia pela UNB e enfermeira do ambulatório de Proctologia e Estomaterapia do Hospital Base de Brasília, Alexandra Isabel de Amorim Lino, contou que em 2018, em Brasília, foi feito um levantamento das pessoas que precisavam de atendimento especializado. Na oportunidade, foi alterado protocolo, passando-se a não mais reutilizar o cateter convencional. Entre 2018 e 2019, ocorreu o processo de padronização, com a adoção do cateter hidrofílico em tamanhos para criança e adulto, visando a eliminação de complicações relativas a traumas uretrais. Ela contou que existem, hoje, sete ambulatórios que atendem o segmento, onde o paciente é cadastrado e orientado sobre suas necessidades. Segundo a especialista, existem, hoje, 1,6 mil pacientes com incontinência urinária na cidade, que necessitam de cateter. Também falou sobre critérios para a priorização de usuários que necessitam do cateter hidrofílico, que são os pacientes tetraplégicos; e que o novo equipamento proporciona a eles maior autonomia. 

A coordenadora do Centro de Saúde do Idoso da Secretaria Municipal de Saúde, Simone de Morais, disse compreender a necessidade de mudança de procedimentos no Município; e que levará a demanda aos gestores. Na oportunidade, ela lembrou que essa discussão foi iniciada em 2019, mas foi interrompida na pandemia. Destacando a importância da análise das condições clínicas e sociais dos usuários, para que não seja reutilizado o cateter, informou que a PBH fornece gel lubrificante aos pacientes. A médica geriatra da Secretaria Municipal de Saúde, Carla Jacomini, reafirmou a relevância da demanda, apontando que os traumas raquimedulares são, em sua maioria, causados pela violência urbana e pelo tráfego na cidade. Ela salientou que, para a incorporação da tecnologia ao SUS, devem ser considerados benefícios e recursos disponíveis. 

O gerente de Integração do Cuidado à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Edmundo Gustavo C. de Araújo, reforçou os benefícios do cateter hidrofílico para o aumento da qualidade de vida dos pacientes, dizendo que essa discussão já foi iniciada, não havendo, contudo, nenhuma publicação de documentação para incorporação de procedimentos. Ele falou da importância de se avaliar o cenário quantitativo de usuários e a possibilidade de incorporação do equipamento na prática, pensando na continuidade de ações, que incluem aquisição de insumos, treinamento e orientação do usuário. O gestor ressaltou que a adoção do procedimento demanda a realização de um diagnóstico para a elaboração de um protocolo e o estabelecimento de critérios específicos, de acordo com as necessidades dos usuários. 

O vereador Irlan Melo questionou a Prefeitura quanto ao custo agregado ao SUS no Município e no Estado; e quanto ao custo de decisões judiciais referentes a demandas de usuários. Ele solicitou à enfermeira Gisela Maria Assis cópia de protocolo utilizado na cidade de Curitiba, ressaltando a importância de oferecer ao usuário da capital qualidade de vida e dignidade.

Participaram da audiência os vereadores José Ferreira (PP), Cláudio do Mundo Novo (PSD), Bim da Ambulância (PSD), Léo (PSL) e Irlan Melo.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública - Finalidade: Debater a utilização do cateter hidrofílico para o manejo da bexiga neurogênica na rede de saúde da Prefeitura de Belo Horizonte - 33ª Reunião Ordinária - Comissão de Saúde e Saneamento