Estado e Município apresentam ações para prevenir ataques em escolas
Órgãos dos setores de segurança, educação e sociedade civil participaram de debate e demonstraram preocupação
Foto: Bernardo Dias/CMBH
O temor de que haja novos ataques a escolas no Brasil tem mobilizado diferentes atores da sociedade. Debates estão ocorrendo e há toda uma união em busca de soluções efetivas que promovam maior segurança para estudantes e profissionais de educação. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Belo Horizonte abriu as portas, nesta quarta-feira (19/4), para um encontro que contou com a participação de representantes da segurança pública do Município e do Estado, da educação e de vários outros setores envolvidos no tema. Foram três horas de esclarecimentos e debate acerca da necessidade de implementação de medidas que deixem as escolas mais seguras. “Há um clima de medo nas escolas”, disse Marcela Trópia (Novo), presidente da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, responsável pela audiência pública. De acordo com ela, o Legislativo Municipal está atento à situação e a reunião é um momento para trazer “o olhar de especialistas”.
Uma onda de medo e insegurança tomou conta das escolas no Brasil após ataques ocorridos no último mês, quando uma professora foi morta em escola na Zona Oeste de São Paulo e outras quatro crianças foram assassinadas em um atentado a uma creche em Blumenau (SC). Informações dando conta de que novos ataques ocorreriam no dia 20 de abril começaram a surgir nas redes sociais, deixando em pânico pais e estudantes. A data faz referência ao Massacre de Columbine, promovido em uma escola nos Estados Unidos, onde 15 pessoas foram assassinadas. Muitos também fazem ligação da data com o aniversário de Adolf Hitler, líder alemão nazista morto na Segunda Guerra Mundial e responsável pelo Holocausto, onde foram assassinatos milhões de judeus em campos de concentração.
Secretário municipal de Educação há pouco mais de dez dias, Charles Martins Diniz disse que a Prefeitura tem muita preocupação com o que está acontecendo e que graças ao trabalho da Guarda Municipal e das Polícias Militar e Civil a cidade está segura. “Podem ter certeza de que servidores e crianças estão bem cuidados. Vamos abrir todas as escolas amanhã (20/4)”, disse o secretário, afirmando que há protocolos de segurança desde 2019 e que a maioria dos casos de violência em escolas ocorridos no Brasil tem a ver com saúde mental. Charles também pediu para a população não compartilhar notícias falsas sobre ataques e afirmou que a contratação de psicólogos para fazerem parte do corpo de funcionários nos equipamentos municipais de educação é uma prioridade de sua gestão à frente da pasta.
“A raiz disso tudo está no adoecimento mental de alunos e professores. O trauma entrou nas escolas”, disse Carolina Campos, fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação. Segundo ela é preciso agir em três linhas: prevenção, ação e pósvenção. “É preciso olhar para esses três momentos e ver que racismo, xenofobia e bullying também formam esse caldeirão. Estou ciente de que futuramente ainda vamos debater o trauma e o engajamento parental. Vai acontecer de novo, a gente só não sabe quando e onde”, disse Carolina, se referindo a ataques em escolas. “É preciso amar as escolas. Vivemos uma situação mais ou menos controlada em BH, mas precisamos ouvir os profissionais das escolas, alunos e familiares. O momento nacional é tenso, mas não podemos apostar no pânico”, disse Cida Falabella (Psol).
BH segura
“Durante toda a construção da nossa democracia trabalhamos com a ideia de que escolas não são lugar para polícia ocupar. Agora quase imploram para que ocupem”. A fala é do secretário municipal de Segurança e Prevenção, Genilson Zeferino, que defendeu uma ação conjunta de todos os envolvidos e apresentou números do trabalho da Guarda Municipal de BH. “Vamos cuidar das escolas municipais. A gente precisa reagir e somente colocar a polícia (na escola) não resolve. Não há indicativo de que haja algo amanhã. Estamos sofrendo com o imaginário. Não estamos desatentos e sabemos que estamos tratando de algo muito novo”, explicou Genilson. Nesta quinta-feira, todos os integrantes da Guarda Municipal estarão trabalhando em ações no chamado “ambiente escolar”.
Segundo os dados apresentados pela Guarda Municipal, foram feitas mais de 8 mil rondas de patrulhamento nas escolas de BH somente este ano. São cerca de 6,4 visitas e patrulhamentos preventivos em cada uma das escolas da rede municipal de ensino. Além das visitas, que tiveram um aumento de quase 100% se comparado ao mesmo período do ano passado, a Guarda promove ainda treinamento com os porteiros. “Estamos atentos e não seremos negligentes, mas esse tipo de ameaça nunca será suficiente para interromper as atividades”, afirmou o secretário-adjunto de Segurança e Prevenção, Rodrigo Prates, lembrando que há uma ação ligada ao que chamou de cibercrime, onde pessoas disseminam o pânico em redes sociais e ambientes virtuais. “Sabemos a força de um boato e como ele é prejudicial. Temos que ter cuidado e filtrar o que nos chega”, explicou Marcos Crispim (PP). “Recebemos pedidos de socorro de pais desesperados. Precisamos tranquiliza-los. Temos que repercutir essas informações e boas ações”, explicou a vereadora Flávia Borja (PP), autora da audiência. Para Professora Marli (PP), é preciso também o apoio da família. “Estamos bem apoiados por todos os órgãos municipais e do estado, mas falta o apoio da família. Temos um papel fundamental na criação de nossos filhos”, disse a parlamentar.
Inteligência contra o crime
O superintendente de Inteligência e Integração da Informação da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública, Murillo Ribeiro de Lima, disse que o compartilhamento de informações e o trabalho conjunto entre diversos órgãos municipais e estaduais têm sido muito eficiente na prevenção de crimes em ambientes escolares. “Problemas complexos exigem soluções complexas. Várias ações de monitoramento já são realizadas, mas adotamos protocolos especiais (nesse momento). Há um grupo de trabalho específico de inteligência para este caso onde dividimos informações sem vaidades. Os protocolos são rígidos, mas fluidos”, disse Murillo, dando exemplo de ações e serviços como o Disque-Denúncia Unificado (181), que, segundo o superintendente, gera “ações na ponta”. “Estamos acompanhando os sinais obscuros. Quem está na deep web ou dark web não está se movimentando no escuro”, afirmou Murillo. Deep web ou Dark web é o nome dado para uma zona da internet que não pode ser detectada facilmente, garantindo privacidade e anonimato. O ambiente é muito utilizado por grupos extremistas e pessoas que se organizam para cometerem crimes.
Vigilantes, psicólogos e assistentes sociais em escolas
Uma das sugestões dadas por vários participantes é que as escolas da cidade possam contar com a presença de psicólogos, assistentes sociais e vigilantes. “Vigilantes treinados devem estar nas escolas dando suporte para a Guarda e a PM”, disse o vereador Rubão (PP). “É preciso investir mais em psicólogos e assistentes sociais”, destacou Reinaldo Gomes Preto Sacolão (MDB). Segundo ele, só assim será possível investir realmente em prevenção. “Chega de administrar o caos. Temos que trabalhar para que não haja caos”, afirmou. Representantes de profissionais das três áreas também participaram dos debates e fizeram coro à proposta de inclusão deles no grupo de trabalhadores das escolas públicas.
Também participaram dos debates representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sindi-Rede), do Conselho Regional de Psicologia, do Conselho Tutelar de BH e do Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais.
Assista aqui a íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional