“Com o isolamento já evitamos mais de 70 mortes”, diz secretário aos vereadores
Afirmação foi feita na primeira reunião especial da Câmara que tratou de questões ligadas à pandemia do coronavírus
Foto: Bernardo Dias/CMBH
“Quem não está com medo não está avaliando corretamente a situação. Sem o isolamento social teríamos pelo menos mais setenta mortes em Belo Horizonte”. Com esta informação, o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, deu início à sua intervenção na primeira Reunião Especial feita pela Câmara de BH que tratou de questões relacionadas à pandemia do novo coronavírus. A reunião foi promovida pela Mesa Diretora e pela Comissão de Saúde e Saneamento, por solicitação do vereador Fernando Borja (Avante), na manhã desta quinta-feira (9/4), no Plenário Amynthas de Barros. Até esta data, a cidade contabiliza 274 casos confirmados da doença com cinco mortes. Há ainda mais de 17.700 casos suspeitos. Segundo o secretário, que participou por videoconferência, apesar dos números, a Prefeitura trabalha com a perspectiva de que haja muito mais casos do que os já confirmados. “Nós temos consciência que estamos trabalhando com um número muito menor de suspeitos do que a realidade mostra. Mas nós sempre trabalhamos nosso planejamento pensando no pior cenário. Então, para os 274 casos confirmado hoje, a nossa estimativa é que tenhamos próximo de 20 mil pessoas já contaminadas na cidade”, declarou.
A reunião, que teve a presença de vários vereadores e durou aproximadamente duas horas, foi coordenada pelo presidente da Comissão de Saúde e Saneamento, Fernando Borja. Segundo ele, a Comissão recebeu um grande número de perguntas que foram separadas e enviadas antecipadamente para o secretário Jackson. “Precisamos saber em que fase Belo Horizonte está e quais iniciativas foram tomadas. Nós condensamos as mais de 40 perguntas que nos foram enviadas pela comunidade para que o secretário possa responder. Queremos esclarecer tudo e também combater o pânico e fazer com que Câmara reverbere informações corretas sobre o plano de ação e o planejamento do Executivo para voltar à vida normal. O Executivo e o Legislativo estão de mãos dadas contra o vírus”, explicou Borja. “Triste fazer uma reunião sem a presença do povo, principalmente quando tratamos sobre um assunto desta gravidade e sobre um problema tão sério que estamos enfrentando”, afirmou o vereador Reinaldo Gomes (MDB) diante de um plenário vazio.
Vários temas foram apresentados e debatidos com o secretário. Questões como a atual situação dos casos em BH, a reabertura do comércio e o atendimento aos doentes dominaram o encontro. Cada um dos pontos levantados foi respondido pelo médico e gestor, que comanda o Comitê de Enfrentamento do Coronavírus, criado pelo prefeito Alexandre Kalil.
Situação e estrutura
Belo Horizonte registrou seu primeiro caso de Covid 19 em 16 de março e teve sua primeira morte duas semanas depois, no dia 30. Atualmente existem na Capital 132 solicitações de internação por Covid-19, sendo 21 solicitações para Unidades de Tratamento Intensivo. “Desde janeiro estamos nos preparando para a pandemia. O nosso plano de contingência foi montado também em janeiro”, disse o secretário, informando ainda que foram criados dois Centros Especializados em Covid-19 (Cecovid) em BH, sendo um na Rua Domingos Vieira, 488, Bairro Santa Efigênia, com funcionamento 24 horas, e outro na Rua Padre Pedro Pinto, 175, em Venda Nova, que funciona todos os dias de 7h às 19h. Mais de 2000 pessoas já foram atendidas nos dois centros. Segundo Jackson, apesar dos casos confirmados, BH ainda não sofre pressão para internação pela doença. “Estamos conversando com a Rede SUS-BH para montar mais 1000 leitos em hospitais”, afirmou o secretário. Ainda segundo Jackson, existem em Belo Horizonte 10.546 leitos hospitalares, sendo 6.052 no SUS. Destes, 1070 são em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), com o SUS sendo responsável por 600 destas estruturas.
Para melhor atender aos casos do novo coronavírus, a Prefeitura reduziu em 20% o total de cirurgias eletivas, colocou 16 ambulâncias para transporte específico de pessoas com problemas respiratórios e, em parceria com a Unimed, montou plataforma de atendimento online que está funcionando desde o dia 6 de abril. O atendimento é feito por médicos e pode ser acessado pela população no site da PBH.
Equipamentos de segurança
Outro assunto levantado pelos vereadores e debatido durante a reunião diz respeito à segurança dos profissionais de saúde. Os parlamentares apresentaram ao secretário reclamações de servidores da saúde que questionam sobre a falta de equipamentos básicos de segurança como máscaras e luvas. Segundo Jackson Machado, o Município está investindo R$ 13,7 milhões na compra de EPI’s que devem ser entregues até o próximo dia 24 de abril. Foram compradas 94 mil máscaras N95, próprias para uso mais prolongado por profissionais da saúde, 900 mil máscaras cirúrgicas, 408 mil aventais e 73 mil caixas de luvas. “Chegam até nós algumas reclamações de faltas pontuais mas estamos resolvendo rapidamente. Tivemos que fazer o pagamento de 70% deste material comprado antecipadamente. Lembrando que até o momento só tivemos ajuda de R$ 7 milhões do Governo Federal”, explicou o secretário, dizendo ainda que o uso de EPI’s está sendo estendido a outros profissionais. “Os Agentes Comunitários de Endemias estão recebendo os equipamentos de segurança e estamos vendo a possibilidade dar férias para os Agentes Comunitários de Saúde”, afirmou.
Ao ser questionado sobre o uso de máscaras pela população, o secretário foi direto: “É aconselhável que a população utilize máscaras, mas não a N95 ou a cirúrgica, pois isso dificulta a oferta deste material para os profissionais de saúde. Estamos produzindo 95 mil máscaras de pano com doação de uma fábrica de tecidos e fabricação em parceria com unidades prisionais. Estamos tentando ainda uma parceria com confecções do Barro Preto, mas há o problema do custo. O valor é 600% mais caro. As 95 mil máscaras serão feitas no sentido de ajudar as comunidades, mas lembramos que lavar as mãos adequadamente e ficar em casa é mais seguro que usar máscaras”.
Retorno ao trabalho
Um dos temas que continuam preocupando os vereadores é a questão econômica. Conforme informações da própria PBH, o Município deve perder cerca de R$ 500 milhões em arrecadação por causa da pandemia. Segundo alguns vereadores, o fechamento do comércio está trazendo um prejuízo enorme para famílias em todas as regiões da cidade. Para o secretário, este também é um problema importante e que está sendo debatido pela Administração Municipal. “Temos preocupação com o comércio, mas temos uma preocupação maior com a vida das pessoas. Melhor ser um empresário pobre, mas vivo. Sabemos o que houve em Milão (onde a demora no fechamento do comércio e da indústria local fez explodir o número de casos de Covid-19). O que vai nos orientar e nos dizer a hora de abrir o comércio é a circulação do vírus. Hoje não há nenhuma possibilidade de flexibilização. A nossa preocupação agora é de ordem médica”, salientou o secretário, dizendo ainda que houve um aperto maior por parte do Executivo porque “as pessoas não estavam obedecendo as normas” e que “se não ficar em casa, vai morrer muita gente”. A Prefeitura endureceu as normas de fechamento do comércio na cidade em decreto publicado nesta quinta-feira pelo prefeito Alexandre Kalil.
A volta às atividades de outros setores da sociedade também foi tema de debate. O vereador Fernando Borja perguntou se os vereadores e funcionários que já tiveram a Covid-19 não poderiam voltar ao trabalho, uma vez que teoricamente estariam imunes. “A epidemia é muito mais grave do que estão pensando. Se voltarem ao trabalho há o risco de se contaminarem novamente. A recomendação é não sair de casa. Eu mesmo indiquei que não se tenha atividade presencial na Câmara. Vereadores que já se contaminaram podem se contaminar novamente. Não ter casos agora é a coisa mais importante de todas. Nossa perspectiva é que não tivesse atividades presenciais na Câmara neste momento”, disse Jackson. O presidente da Comissão de Saúde e Saneamento também sugeriu um “passaporte de imunidade” para aqueles que já tiveram a doença e passassem por exames que comprovem que se curaram da Covid-19. O passaporte serviria para que a “economia da cidade não sofresse tanto”. Conforme o secretário, há previsão de gastos de cerca de R$ 250 milhões com o coronavírus e investir nos chamados exames rápidos, para verificar se uma pessoa já teve a doença, seria um prejuízo. “Vamos comprar os exames rápidos em outro momento mais para a frente. Mas fazer um passaporte de imunidade é um tiro no pé. O teste feito e dando negativo pode colocar as pessoas na rua e tem estudos que mostram que há a possibilidade de infectar uma segunda vez. Contratar teste rápido neste momento seria ineficaz e absolutamente político”, disse Jackson, informando que o teste rápido, capaz de detectar anticorpos e não as partículas virais, tem efetividade de no máximo 60%, o que deixa grandes chances de um número alto de falso negativo.
Comitê de Crise
Ao final da reunião, os vereadores sugeriram ao secretário que apresente ao prefeito uma proposta de criação de um Comitê de Crise que conte com a presença de representantes do Legislativo Municipal. “Pensamos que seria importante ter um comitê com a participação dos vereadores. Abrir este espaço para que a Câmara possa trabalhar junto nessa parceria com a Prefeitura”, afirmou Borja. “Levarei ao prefeito as reivindicações que me foram apresentadas. Este é o momento de trabalharmos unidos nesta luta”, finalizou o secretário de Saúde.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional