Vereadores registraram ausência de cobradores, e ônibus foram impedidos de circular
Em visita às Estações Barreiro e Diamante, os parlamentares perceberam manobra das concessionárias para esconder a irregularidade
Foto: Karoline Barreto/ CMBH
Conflito que já se arrasta na capital e na região metropolitana há quase três anos, a demissão dos agentes de bordo dos ônibus, chamados popularmente de cobradores ou trocadores, já afeta as mais de seis mil famílias desses trabalhadores e gera transtornos diversos aos motoristas e usuários do transporte coletivo. Em visita técnica às Estações Barreiro e Diamante, na manhã desta quarta-feira (28/11), a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário confirmou as denúncias de usuários, identificando a ausência de cobradores em grande número de veículos em circulação, em meio a uma ampla manobra organizada pelas empresas concessionárias para esconder a irregularidade. Funcionários de setores administrativos das empresas, mecânicos e cobradores de outras linhas foram transferidos para a Estação Barreiro, na manhã de hoje, para forjar a presença desses profissionais nos ônibus que partem dali.
“A ausência do cobrador é uma tragédia anunciada”, alertou o vereador Jair Di Gregório (PP), autor do requerimento para a visita e presidente da comissão, lembrando que a situação sobrecarrega o motorista, que precisa dirigir o ônibus, cobrar a passagem, orientar passageiro e auxiliar cadeirantes a entrar no veículo. “O risco de acidente é muito grande”, lembrou o parlamentar.
Presidente da Associação dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de BH e RMBH, Jaderis Araújo destacou que o número de acidentes tem aumentado e que muitos motoristas têm deixado o trabalho por excesso de carga. “E é importante lembrar que os salários dos motoristas e dos cobradores estão inclusos na tarifa paga pelos passageiros. Para onde vai esse dinheiro? Fica para as empresas? O usuário está sendo fraudado, e o funcionário fica prejudicado”, completou.
Conforme estabelecido pela Lei 10.526/2012, todos os veículos são obrigados a circular com motorista e cobrador, à exceção dos veículos das linhas troncais do sistema BRT/ Move e dos veículos em operação em horário noturno, aos domingos e feriados. No entanto, Jaderis Araújo afirmou que grande parte dos veículos que deixam as estações regionais circula sem os cobradores em dias úteis, em horários diversos.
Diferentemente das denúncias apresentadas, ao chegar à Estação Barreiro, a comissão parlamentar verificou a presença de cobradores em todos os veículos em circulação. “Isso aqui é um faz de contas. Todo mundo sabe. Transferiram os cobradores da Estação Diamante para cá”, alertou Araújo. “(A presença dos cobradores) É um grande teatro. É maquiagem, porque sabiam que os vereadores viriam aqui”, afirmou também um dos motoristas. “Os cobradores foram despedidos. Se tem cobrador aqui, não tem na Estação Diamante”, completou. Em conversa com os parlamentares, um dos cobradores em atividade (não identificado por segurança) reconheceu que seu posto de trabalho regular não seria ali e havia sido transferido apenas hoje.
Diante das manifestações, a comitiva parlamentar decidiu deslocar-se para a Estação Diamante (também na região do Barreiro) para verificar a situação. “Houve claramente uma manobra, tentaram maquiar a situação e viemos fiscalizar a Estação Diamante. Chegamos aqui e vimos que não tem trocador em ônibus nenhum”, alertou o vereador Juliano Lopes (PTC). Já nos primeiros cinco minutos, dois ônibus foram parados, tiveram suas autorizações de tráfego recolhidas e retornaram para a garagem.
“A gente quer os cobradores de volta. É um direito nosso. Pagamos por isso”, afirmou a usuária Ângela Maria Alves. “Os motoristas estão sobrecarregados. A viagem atrasa muito. Tem fila para pagar a passagem e o motorista precisa descer para auxiliar o cadeirante a entrar no ônibus”, enumerou a usuária, destacando os riscos desse excesso de demandas. “E se esse ônibus bater? E a vida dessas pessoas? Multa e autuação das empresas não vão pagar essas vidas”, completou Ângela Alves, referindo-se à insuficiência das penalidades anunciadas pela BHTrans.
Para a usuária Michele Veloso, a demissão dos cobradores só poderia ocorrer se acompanhada de uma estrutura que garantisse atenção a esses trabalhadores e a fluidez no transporte para os usuários. “Se o pagamento fosse apenas por meio do cartão (BHBus), facilitaria para o motorista, mas não existe essa estrutura”, lamentou. Muitos usuários destacaram que, diante das filas e da sobrecarga do motorista, muitos passageiros entram no veículo sem pagar a passagem e burlam o sistema.
“Agora mesmo cheguei aqui em um ônibus sem cobrador. Ali no sinal, antes de entrar na Estação (Diamante), os cobradores estão entrando nos ônibus e fingindo que estavam operando”, denunciou a usuária Maria Aparecida Gonçalves. A manifestação foi reforçada por Daniel Souza, que também estava no ônibus. Os usuários contaram que a espera pelos veículos, diariamente, passa de 45 minutos. Os veículos estão operando regularmente sem os cobradores e os atrasos teriam aumentado com a sobrecarga dos motoristas.
Autuações
Assessor da presidência da BHTrans, Marcos Vinícius da Silva garantiu que a empresa tem fiscalizado o problema e já emitiu mais de 8 mil autuações contra as empresas de ônibus, entre janeiro e outubro de 2018. Cada uma delas pode gerar uma multa de R$ 655,00. No entanto, os prazos recursais estão correndo, e a BHTrans não soube afirmar quantas delas foram ou serão pagas. “Célio Bouzada (presidente da BHTrans) me disse que tem feito a fiscalização, mas que as empresas concessionárias preferem a autuação a manter os seus quadros de funcionários”, destacou Jair Di Gregório. Diante da aparente ineficácia das autuações para garantir a presença dos cobradores nos veículos, a BHTrans reconheceu que “uma revisão no regulamento pode ser pensada, mas no momento, o que podemos fazer é agir sob a luz da lei”, afirmou Silva.
“Nós sabemos que, quando sairmos daqui, tudo vai voltar como estava antes. Sem cobrador. Mas é uma ação de denúncia importante. E vamos seguir fiscalizando”, afirmou Juliano Lopes.
Superintendência de Comunicação Institucional